(…)
A sociologia é movida por princípios morais que
guiam a investigação.
(…)
[No Afeganistão], as mulheres estão proibidas
de falar em público (a voz feminina é causadora de vício, alegam os talibãs) e
de cantar ou ler em voz alta, mesmo no espaço doméstico.
(…)
A socióloga portuguesa Anália Torres situou
justamente a batalha contemporânea em torno do género, tema que se tem tornado
central na agenda das extrema-direitas em todo o mundo, obcecadas contra os
“estudos de género”.
(…)
À semelhança do que aconteceu na origem dos
EUA, da Austrália ou da Irlanda do Norte, também nos territórios da Palestina
há uma população conquistadora que, através da força das armas, se apropria da
terra, do trabalho e dos recursos de uma população subjugada.
(…)
A criação da comunidade de colonos israelitas
num local onde já moravam outras pessoas recorreu a justificações religiosas e
culturais para um plano intencional de limpeza étnica através da colonização de
terras e da eliminação dos nativos do país.
(…)
Essa eliminação, que está na origem do estado
de Israel, atinge agora proporções inimagináveis com o genocídio em Gaza.
(…)
A resistência palestiniana é por isso, insiste
Pappé, não apenas uma luta de libertação anticolonial mas uma luta contra a
eliminação.
(…)
Se na África do Sul o apartheid era instrumento
da exploração do trabalho mais do que da expropriação de terra, o projeto do
governo israelita é de expropriação territorial e extermínio.
(…)
A mobilização contra aquele apartheid na década
de 1980 teve um impacto brutal em todo o mundo.
(…)
Relativamente à Palestina e a Gaza é um mundo
de diferenças.
(…)
Na Convenção Democrata da passada semana,
abstratos apelos ao cessar-fogo conviveram com a censura das vozes
palestinianas na reunião.
(…)
Não faz nenhum sentido que a forma mais
cristalina de colonialismo - o de ocupação por colonos - possa sobreviver em
Israel quando vivemos num mundo pós-colonial, mesmo com os seus contraditórios
e pesados legados.
(…)
Em muitas universidades do mundo, um potente
movimento de estudantes, professores e investigadores tem erguido vozes pelo
cessar-fogo em Gaza, pelo desinvestimento em Israel e pela liberdade académica,
designadamente no que toca à análise sobre o sionismo.
Pela
primeira vez desde 2004, o mundo tem hoje mais regimes autocráticos que Estados
democráticos, de acordo com os dados de Março do Bertelsmann Transformation Index.
(…)
As
falhas das democracias liberais e as desigualdades cada vez maiores do sistema
capitalista a ajudarem à descrença nos regimes democráticos como garantes da
paz e da prosperidade.
(…)
Os golpes de Estado voltaram como prática, a
extrema-direita aproveitou o crescimento exponencial de desiludidos para criar
inimigos.
(…)
Tornou-se mais fácil implantar ditaduras que
reforçar os direitos humanos.
(…)
O que
sujeita todos aqueles que não queiram viver segundo esse cânone existencial [de
vida feliz segundo o conceito do governo chinês] a serem traidores, sujeitos ao
duro peso da lei.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Quando a bússola dos governos
perde o magnetismo e o norte (…) as sombras transformam-se em auroras e
as economias amarelecidas e descascadas auguram sucessos vintage vindouros.
(…)
Esta semana, num discurso interno no seu
partido, citado pelo Jornal de Angola, o Presidente angolano, João Lourenço (…) atacou os
adversários do MPLA (…) de culpados de “práticas anti-sociais e
criminosas”.
(…)
De
acordo com o Banco Mundial, o crescimento económico de Angola em 2023 foi
revisto em baixa para 0,8%, a produção de petróleo foi menor que o esperado, as
exportações inferiores e os juros do pagamento dos serviços da dívida
diminuíram a oferta de divisas e fizeram a moeda nacional desvalorizar a pique.
(…)
E,
como afirmava à Voz da América, em Maio, Francisco Paulo,
especialista em política macroeconómica, “a situação económica e social das
famílias” vai “agravar-se ainda mais”.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Os
sarauís e a sua longa luta pela autodeterminação e contra a ocupação marroquina
pesam cada vez menos nas relações internacionais.
(…)
Emmanuel
Macron, Presidente francês, resolveu seguir a decisão espanhola, reconhecendo o
plano marroquino para o Sara Ocidental como legítimo e passando a incluir o
território ocupado nos manuais escolares como parte de Marrocos.
(…)
Poucos
dias depois, a França teve a sua recompensa de 30 dinheiros ao ver o consórcio
constituído pelas francesas Egis e Systra, com a marroquina Novec, ganhar o
concurso de assistência técnica para a linha de comboio de grande velocidade
entre Quenitra e Marraquexe.
(…)
Isto
apesar de a sua proposta ser mais desvantajosa para os cofres públicos que a da
espanhola Ineco, diz a Jeune
Afrique.
(…)
Para
Jean-Pierre Sereni, antigo director do Nouvel Économiste, a decisão de Macron é uma
“manobra arriscada” que em nada vai mudar o statu
quo no Sara Ocidental e poderá criar uma “nova crise
franco-argelina”.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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