(…)
A brutalidade do modelo patriarcal falocêntrico
é de tal ordem traumatizante que instaurou o silêncio e tornou as mulheres, e
alguns homens, permissivos e disponíveis a abdicar da sua liberdade para não
questionar a inquestionável hegemonia da classe dominadora.
(…)
O Comité Olímpico Internacional veio a público
retesar que Imane Khelif é uma mulher e que competia, justamente, na categoria
de 66kg de Boxe Feminino.
(…)
A ONGD americana GLAAD,
Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (…) informou em
comunicado que Imane Khelif era (é) uma mulher cisgénero – nem
transgénero, nem intersexo – com diagnóstico de Desenvolvimento
Sexual Diverso, uma patologia rara que se traduz no desenvolvimento sexual
de uma pessoa ser diferente do da maioria.
(…)
Este artigo de opinião tem um único objetivo:
expressar o óbvio. Uma mulher é uma mulher.
(…)
Uma mulher é uma mulher por resultado de um
processo de construção social duro.
(…)
Ser mulher é a mais valiosa medalha da grande
olimpíada chamada vida.
(…)
Encarou o mundo dos homens com e sem TPM, bateu
com o pé, partiu o salto, estalou o verniz, chorou, limpou as lágrimas, dormiu
com o inimigo, ergueu-se e voltou a cair (…).
(…)
Sendo que a alimentação é um ato de
subsistência fundamental para a sobrevivência da humanidade, quem sobe a
calçada somos nós [mulheres], sempre, num “sobe que sobe,/ sobe a calçada”.
(…)
Imane Khelif, a atleta estrela deste verão de
2024, desfilou orgulhosamente com a bandeira do seu país depois de ter vencido
a sua adversária Yang Liu.
(…)
Na semana passada, já findos os Jogos
Olímpicos, com a medalha de ouro ao peito, Imane Khelif decidiu apresentar, e
bem, uma queixa-crime por atos de assédio sexual agravado.
(…)
Pessoas que mandam no mundo: ser mulher não é
prova de vida, é estatuto. Conquista-se.
Ulika da Paixão Franco, “Expresso”
[Na Madeira] a última noite foi longa para os
bombeiros.
(…)
Até mesmo o uso dos meios aéreos se torna
praticamente impossível na espessura do fumo que reveste os vales.
(…)
[Com a
chegada dos portugueses à Madeira] houve sobreexploração de recursos, com terra
queimada, sim, para obter campos de cultivo, para plantar cana-de-açúcar, ainda
no século XV.
(…)
Com mão-de-obra escrava e solo fértil, a ilha
tornou-se no maior produtor mundial de cana-de-açúcar.
(…)
[A produção de açúcar] declinou bastante no
século XVI, presumidamente pela escassez da madeira que lhe deu nome, impedindo
o processamento do açúcar.
(…)
Plantar-se-ia
a cana-de-açúcar noutras terras, especialmente, no Brasil, desmatando-se
primeiro ao longo da costa atlântica, mais tarde em direcção ao interior.
(…)
O que
aconteceu na Madeira, aconteceria um pouco por todo o planeta, com colonos que
chegam, exploram e esgotam os recursos, até partirem para novas paragens.
(…)
Quando a exploração de recursos já tem impacto
global, sem exílio possível, o clima muda drasticamente, como tem acontecido.
(…)
Florestas de todo o mundo têm sido dizimadas
pelas chamas.
(…)
Várias
florestas estão a emitir mais carbono do que absorvem, mostrando como alguns
pontos de não-retorno do aquecimento global podem já ter sido ultrapassados.
(…)
[Vários
autores sugerem que já vivemos] no Piroceno, em que o fogo é o principal agente de mudança.
(…)
No futuro, será necessário discutir como
preservar a floresta laurissilva.
(…)
Por agora, resta rezar pelo trabalho dos
bombeiros e pelas vítimas do incêndio.
Tomás Reis, “Público”
(sem link)
[Em relação às eleições na
Venezuela] desta vez, depois do pleito de 28 de julho, a esquerda ampla
latino-americana, nela incluída toda a base do “progressismo”, dividiu-se de
alto abaixo.
(…)
Maduro pode não ter ganho
as eleições, porque afinal, até ao momento recusa-se a provar a sua vitória.
(…)
Um setor do progressismo,
é verdade, faz menos ênfase no petróleo e mais na tragédia que seria reconhecer
a derrota de Maduro, visto como de esquerda, num cenário de avanço das extremas
direitas no mundo e na região.
(…)
Para lá das aparências, o
facto é que a sua política, desde 2013, é a de incentivar o enriquecimento de
um novo setor empresarial no país e, como um Bonaparte, negociar entre as
diferentes frações da burguesia venezuelana.
(…)
Proíbe greves, a
apresentação de reivindicações, o direito de mobilização da classe
trabalhadora, a organização e a legalização de novos sindicatos, enquanto
processa e manda para a prisão líderes sindicais.
(…)
O “anti-imperialismo” de
Maduro e do seu entorno não o impede de entregar agora o petróleo de que os EUA
precisam através da Chevron e de outras grandes companhias estrangeiras (como a
Repsol)
(…)
O “mantra” dos
pró-Maduro para omitir a análise de classe é evitar que a direita chegue ao poder,
ignorando o facto de que a Venezuela tem um governo que aplica as receitas
económicas estruturais da direita, apenas com uma retórica de esquerda.
(…)
A classe trabalhadora está
fundamentalmente interessada em saber se a situação após o 28 de julho permitirá
ou restringirá, no curto prazo, as liberdades de que ela precisa para se
expressar como uma classe explorada.
(…)
Os partidários de Maduro
omitem que o governo, após 28 de julho, intensificou a repressão, já não sobre
a classe média, mas fundamentalmente sobre os setores populares.
(…)
O progressismo geopolítico
replica a miragem de um governo popular que já não existe, que foi apagado pelo
transformismo e as políticas antilaborais de Maduro.
(…)
Desde novembro de 2022, no
âmbito da guerra na Ucrânia, o Secretário do Tesouro dos EUA autorizou a
Chevron a explorar e exportar petróleo venezuelano, com a condição de que não
pagasse impostos ou royalties ao governo venezuelano, o que constitui condições
neocoloniais.
(…)
O que está em jogo na
Venezuela é que setor das classes dominantes – seja a velha e esquálida
burguesia oligárquica ou os novos setores empresariais ligados aos militares
“bolivarianos”, enriquecidos sob Maduro – controla o negócio do petróleo.
(…)
Maduro, apesar do
discurso, não é nem socialista nem antiimperialista.
(…)
É claro que a força
adquirida pela oposição de direita (…) que agora é liderada pela sua ala
mais extremista, a oligarca Maria Corina Machado, é uma tragédia.
(…)
Neste momento, apoiar a
solução negociada proposta pela Colômbia e pelo Brasil – que tem o apoio do
Chile e o repúdio, é claro, do ditador Daniel Ortega – é a política
correta, porque é muito mais prudente e favorável aos trabalhadores e ao povo
do país.
(…)
Não haverá forças para
garantir a soberania da Venezuela sobre o seu território e as suas riquezas sem
a recuperação da soberania popular.
(…)
Os regimes
democrático-burgueses não são o regime ao qual nós, socialistas, aspiramos
estrategicamente: sonhamos e lutamos para construir organizações democráticas
de base, democracia direta, poder popular.
(…)
Uma nova esquerda
anticapitalista de massas deverá ser democrática, independente e enfrentar
“modelos” autoritários, ou não será.
Ana C. Carvalhaes. jornalista, mestre em Economia
Política Internacional e membro do PSOL. Bonilla-Molina, docente universitário, pedagogo crítico, presidente da Sociedade Venezuelana
de Educação Comparada, Esquerda. net
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