quarta-feira, 21 de agosto de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (117)

 
O modelo patriarcal secular e homocêntrico não só não é um modelo unânime, como é distópico, opressivo, segregador.

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A brutalidade do modelo patriarcal falocêntrico é de tal ordem traumatizante que instaurou o silêncio e tornou as mulheres, e alguns homens, permissivos e disponíveis a abdicar da sua liberdade para não questionar a inquestionável hegemonia da classe dominadora.

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O Comité Olímpico Internacional veio a público retesar que Imane Khelif é uma mulher e que competia, justamente, na categoria de 66kg de Boxe Feminino.

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A ONGD americana GLAAD, Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (…) informou em comunicado que Imane Khelif era (é) uma mulher cisgénero – nem transgénero, nem intersexo – com diagnóstico de Desenvolvimento Sexual Diverso, uma patologia rara que se traduz no desenvolvimento sexual de uma pessoa ser diferente do da maioria.

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Este artigo de opinião tem um único objetivo: expressar o óbvio. Uma mulher é uma mulher.

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Uma mulher é uma mulher por resultado de um processo de construção social duro.

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Ser mulher é a mais valiosa medalha da grande olimpíada chamada vida.

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Encarou o mundo dos homens com e sem TPM, bateu com o pé, partiu o salto, estalou o verniz, chorou, limpou as lágrimas, dormiu com o inimigo, ergueu-se e voltou a cair (…).

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Sendo que a alimentação é um ato de subsistência fundamental para a sobrevivência da humanidade, quem sobe a calçada somos nós [mulheres], sempre, num “sobe que sobe,/ sobe a calçada”.

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Imane Khelif, a atleta estrela deste verão de 2024, desfilou orgulhosamente com a bandeira do seu país depois de ter vencido a sua adversária Yang Liu.

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Na semana passada, já findos os Jogos Olímpicos, com a medalha de ouro ao peito, Imane Khelif decidiu apresentar, e bem, uma queixa-crime por atos de assédio sexual agravado.

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Pessoas que mandam no mundo: ser mulher não é prova de vida, é estatuto. Conquista-se.

Ulika da Paixão Franco, “Expresso”

 

[Na Madeira] a última noite foi longa para os bombeiros.

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Até mesmo o uso dos meios aéreos se torna praticamente impossível na espessura do fumo que reveste os vales.

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[Com a chegada dos portugueses à Madeira] houve sobreexploração de recursos, com terra queimada, sim, para obter campos de cultivo, para plantar cana-de-açúcar, ainda no século XV.

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Com mão-de-obra escrava e solo fértil, a ilha tornou-se no maior produtor mundial de cana-de-açúcar.

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[A produção de açúcar] declinou bastante no século XVI, presumidamente pela escassez da madeira que lhe deu nome, impedindo o processamento do açúcar.

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Plantar-se-ia a cana-de-açúcar noutras terras, especialmente, no Brasil, desmatando-se primeiro ao longo da costa atlântica, mais tarde em direcção ao interior.

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O que aconteceu na Madeira, aconteceria um pouco por todo o planeta, com colonos que chegam, exploram e esgotam os recursos, até partirem para novas paragens.

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Quando a exploração de recursos já tem impacto global, sem exílio possível, o clima muda drasticamente, como tem acontecido. 

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Florestas de todo o mundo têm sido dizimadas pelas chamas.

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Várias florestas estão a emitir mais carbono do que absorvem, mostrando como alguns pontos de não-retorno do aquecimento global podem já ter sido ultrapassados.

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[Vários autores sugerem que já vivemos] no Piroceno, em que o fogo é o principal agente de mudança.

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No futuro, será necessário discutir como preservar a floresta laurissilva.

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Por agora, resta rezar pelo trabalho dos bombeiros e pelas vítimas do incêndio.

Tomás Reis, “Público” (sem link)

 

[Em relação às eleições na Venezuela] desta vez, depois do pleito de 28 de julho, a esquerda ampla latino-americana, nela incluída toda a base do “progressismo”, dividiu-se de alto abaixo.

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Maduro pode não ter ganho as eleições, porque afinal, até ao momento recusa-se a provar a sua vitória.

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Um setor do progressismo, é verdade, faz menos ênfase no petróleo e mais na tragédia que seria reconhecer a derrota de Maduro, visto como de esquerda, num cenário de avanço das extremas direitas no mundo e na região.

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Para lá das aparências, o facto é que a sua política, desde 2013, é a de incentivar o enriquecimento de um novo setor empresarial no país e, como um Bonaparte, negociar entre as diferentes frações da burguesia venezuelana.

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Proíbe greves, a apresentação de reivindicações, o direito de mobilização da classe trabalhadora, a organização e a legalização de novos sindicatos, enquanto processa e manda para a prisão líderes sindicais.

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O “anti-imperialismo” de Maduro e do seu entorno não o impede de entregar agora o petróleo de que os EUA precisam através da Chevron e de outras grandes companhias estrangeiras (como a Repsol)

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O  “mantra” dos pró-Maduro para omitir a análise de classe é evitar que a direita chegue ao poder, ignorando o facto de que a Venezuela tem um governo que aplica as receitas económicas estruturais da direita, apenas com uma retórica de esquerda.

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A classe trabalhadora está fundamentalmente interessada em saber se a situação após o 28 de julho permitirá ou restringirá, no curto prazo, as liberdades de que ela precisa para se expressar como uma classe explorada. 

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Os partidários de Maduro omitem que o governo, após 28 de julho, intensificou a repressão, já não sobre a classe média, mas fundamentalmente sobre os setores populares.

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O progressismo geopolítico replica a miragem de um governo popular que já não existe, que foi apagado pelo transformismo e as políticas antilaborais de Maduro.

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Desde novembro de 2022, no âmbito da guerra na Ucrânia, o Secretário do Tesouro dos EUA autorizou a Chevron a explorar e exportar petróleo venezuelano, com a condição de que não pagasse impostos ou royalties ao governo venezuelano, o que constitui condições neocoloniais.

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O que está em jogo na Venezuela é que setor das classes dominantes – seja a velha e esquálida burguesia oligárquica ou os novos setores empresariais ligados aos militares “bolivarianos”, enriquecidos sob Maduro – controla o negócio do petróleo.

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Maduro, apesar do discurso, não é nem socialista nem antiimperialista.

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É claro que a força adquirida pela oposição de direita (…) que agora é liderada pela sua ala mais extremista, a oligarca Maria Corina Machado, é uma tragédia.

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Neste momento, apoiar a solução negociada proposta pela Colômbia e pelo Brasil – que tem o apoio do Chile e o repúdio, é claro, do ditador Daniel Ortega –  é a política correta, porque é muito mais prudente e favorável aos trabalhadores e ao povo do país.

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Não haverá forças para garantir a soberania da Venezuela sobre o seu território e as suas riquezas sem a recuperação da soberania popular.

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Os regimes democrático-burgueses não são o regime ao qual nós, socialistas, aspiramos estrategicamente: sonhamos e lutamos para construir organizações democráticas de base, democracia direta, poder popular.

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Uma nova esquerda anticapitalista de massas deverá ser democrática, independente e enfrentar “modelos” autoritários, ou não será.

Ana C. Carvalhaes. jornalista, mestre em Economia Política Internacional e membro do PSOL. Bonilla-Molina, docente universitário, pedagogo crítico, presidente da Sociedade Venezuelana de Educação Comparada, Esquerda. net


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