(…)
O partido [Democrático] recusou insistentes
pedidos para que alguma voz palestiniana-americana ou sobre Gaza subisse ao
palco.
(…)
Lá fora, onde milhares de pessoas apelavam a
esses testemunhos e ao embargo de armas.
(…)
Em
Israel, onde oportunamente aterravam mais 20 mil milhões em ajuda americana, e
o diligente Antony Blinken representava pela 9.ª vez a farsa do cessar-fogo
iminente.
(…)
A cara
compungida de quem aperta a mão a Netanyahu pela 9.ª vez, como se nos dissesse:
sim, eu sei que é um canalha. E mais uma vez a notícia é que o canalha lhe
tirou o tapete..
(…)
O que
se passa desde 7 de Outubro, e atingiu o cúmulo esta semana, é que o governo
Biden-Harris continua a premiar com ouro o maior crime do nosso tempo.
(…)
A guerra só é possível porque os EUA a fazem.
(…)
[Muitos democratas que se recusaram ir ao
Capitólio ouvir Netanyahu] agora estavam em Chicago e recusaram-se a
dizer no palco: vamos parar de mandar bombas para Gaza.
(…)
Incluindo o candidato a "vice" Tim
Walz (…) Incluindo Bernie Sanders e Alexandria
Ocasio-Cortez. Alexandria ainda pior que Bernie.
(…)
Em
Agosto de 2024, ao fim de mais de dez meses de extermínio, Barack Obama não
disse uma palavra sobre Gaza. Como
se fosse um assunto externo, ou irrelevante.
(…)
[Na Convenção do Partido Democrático] havia o
espectáculo e havia a farsa que Gaza revelava a cada discurso, em cada decisão.
(…)
Não houve [lugar no palco] para nenhum
descendente de palestinianos.
(…)
Houve
lugar para o candidato a primeiro-cavalheiro, o judeu americano Doug Emhoff,
falar da sua infância de classe média em New Jersey.
(…)
Mas não houve lugar para os também judeus pelo
embargo, contra o genocídio, que se sentaram lá fora.
(…)
Não queriam desistir de esperar que fosse
possível alguém levar Gaza ao palco.
(…)
O espectáculo lá dentro não era o deles. Era o
de quem não os ouve.
(…)
Vi os 37 minutos de
Kamala Harris antes de começar esta crónica.
(…)
Não subestimo por um minuto o quanto Kamala
fará muita diferença na vida de milhões de mulheres na América.
(…)
Mas se
chorei a ouvir Kamala foi porque cada frase dela revelava o quanto as pessoas
de Gaza não estavam incluídas nela.
(…)
Kamala diz que sempre apoiará o direito de
Israel a defender-se.
(…)
Para muita gente, terá sido bastante [a afirmação
de Kamala do desejo de que “o sofrimento em Gaza acabe, e o povo
palestiniano veja cumprido o seu direito a dignidade, a segurança, a liberdade
e a autodeterminação.”
(…)
Eu vi
e ouvi uma mulher filha de uma indiana e de um jamaicano dizer, mais uma vez,
que as vidas palestinianas não contam o bastante.
(…)
Como é miserável que ao fim de 76 anos
estejamos aqui, a assistir a isto.
(…)
O
Estado que a Europa ajudou a criar para se ver livre dos judeus e da culpa de
os ter morto e perseguido.
(…)
O
terror de Estado que a América financia e arma. O que acontece a um Estado
quando tudo lhe é permitido.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Vivemos em delicado tempo de absurdos.
(…)
Não deixar que elas [emoções] se dispam de valores éticos ou
morais e de princípios a eles associados.
(…)
Vendem-nos velharias como novidade e falsos absolutismos do
novo.
(…)
O papel do circo, na Roma de há dois mil anos, é hoje o de
programas (ou espaços de despejo de opiniões) de entretenimento alienante.
(…)
Concomitantemente trata-se a política, as vidas pessoais, a
pobreza, a miséria e a guerra como espetáculo.
(…)
Vai-se normalizando a guerra como realidade inevitável dos
novos tempos.
(…)
O que vamos tendo na nossa Comunicação Social são
comentadores produzindo, pateticamente, discursos para influenciar o voto, como
se fôssemos nós a decidir os resultados daquelas eleições [americanas].
(…)
De estrutural [os atos de governação] tem feito pouco porque
não tem apoio parlamentar, mas quando pode é classista - veja-se duas medidas
na área dos impostos anunciadas para os jovens.
Continuamos a perder terreno para a viabilidade
de um futuro habitável pela Humanidade inteira.
(..)
A dúvida persistente é a de saber qual dos dois
maiores inimigos do futuro o irá golpear primeiro e com mais contundência.
(…)
Eles são, respetivamente, o colapso ambiental e
climático, e a guerra termonuclear generalizada.
(…)
A raiz de ambos é a mesma: o declínio universal
de uma racionalidade crítica e prudencial nas elites.
(…)
As conferências anuais do clima se
transformaram numa paródia trágica, mascarando o cinismo e a hipocrisia da
maioria dos seus participantes decisivos, vindos da política e dos negócios,
escoltados por alguns crédulos de vistas curtas.
(…)
No que respeita à ameaça existencial da crise
ambiental e climática, estamos em roda livre.
(…)
As calamidades meteorológicas extremas causam
centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados anualmente.
(…)
[O belicismo impede] as políticas de cooperação
económica e ambiental entre grandes potências e blocos - as únicas que poderiam
contribuir para minimizar a entropia ecológica e climática.
(…)
Tem crescido, também, a trivialização das armas
nucleares e a redução do cuidado quanto às suas consequências.
(…)
O mais inquietante é saber que os EUA aprovaram
em março um novo manual de uso das armas nucleares.
(…)
Washington parece, contudo, preferir afiar a
espada, na vã tentativa de ressuscitar a sua breve e já desaparecida hegemonia
unipolar.
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