(…)
É preciso cuidar da sua identidade com verdade, coisa que o
colonialismo e o neocolonialismo, designadamente europeus, até hoje, não
trataram bem.
(…)
Os projetos políticos não deixaram de ser
cruciais, mas o movimento das placas tectónicas da geopolítica e da
geoestratégia, conjunturalmente, induz relações que ultrapassam a clássica
arrumação das famílias políticas.
(…)
A complexidade aumenta com a onda
neoconservadora e fascista a surfar as ondas da mudança em vários campos.
(…)
A complexidade aumenta com a onda
neoconservadora e fascista a surfar as ondas da mudança em vários campos.
(…)
As nações não são empresas e as relações entre
estados não são meros negócios.
(…)
Quando, hoje, uma parte grande das nações lhe
diz [ao Ocidente] que elas têm de ser mais universais, abandonam-nas e agem
para as matar.
(…)
[Para muitos altos dirigentes europeus o
recente discurso de Von der Leyen sobre defesa] serve-lhes como justificação
para castigos que estão a impor aos seus povos.
(…)
Mas, como serão as nações a ter de adotar
medidas, esta estratégia só acumula problemas.
A semana compõe-se na recomposição da tragédia,
carruagem-elevador para todas as vozes que furam o luto e avançam
determinadamente à procura da verdade.
(…)
Passamos a vida a falar de responsabilidade
política pelo que sucede no momento, sem cuidar de falar do crónico
desinvestimento em políticas públicas que vêm de há muito.
(…)
Não ajuda quando os acossados mentem ou
procuram usar de uma nada benevolente falta de rigor para recriar situações que
no passado estavam mais do que resolvidas.
(…)
Quando sabemos o que não podemos dizer e ainda
assim dizemos, estamos na fronteira da mentira ou entramos nela, impropriamente
dita.
(…)
Não fosse cómico, seria trágico, não deixando
de ser grave pelo sinal de ligeireza ignorante e pelo populismo desmedido [de
Carlos Moedas].
(…)
As declarações atiçadas de André Ventura sobre
uma suposta ida de Marcelo Rebelo de Sousa, autorizada e paga por todos nós, a
uma feira de hambúrgueres em Berlim, entra para o anedotário político português.
(…)
Nem todos têm de saber alemão, mas talvez alguém
devesse saber esperar um pouco sem verter risota nas redes sociais.
(…)
Outros casos há, bem mais graves, nomeadamente
quando se anuncia e reproduz que a flotilha humanitária que tenta rumar a Gaza
parou numa festa em Ibiza.
(…)
Mas o mal está em querer jogar o jogo das
parecenças com o Chega
O fim da história previsto pelo materialismo
dialético foi deposto e substituído por um outro, também revestido de vestes de
cientificidade, agora de natureza económica, postulador das irreversibilidades
da globalização e da férrea lei da mão invisível.
(…)
Este novo fim da história, além das
irreversibilidades económicas, afirmava axiomas de natureza política, como o da
universalização dos direitos do homem e do cidadão e o do triunfo final das
democracias representativas.
(…)
Capítulo importante desta fábula de encantar
era reservado ao novo direito internacional e humanitário do pós guerra.
(…)
Sabemos o ponto onde nos encontramos.
(…)
As ditaduras, o mais das vezes travestidas de
“democracias musculadas”, dominam o mundo.
(…)
Abolida a tradição, colocada na gaveta a ética
e a religião, ficaram sós no terreno as forças brutais da Razão de Estado e da
Razão de Mercado.
(…)
No lugar da morte de Deus assistimos, todos os
dias à morte do Homem. E onde há morte do Homem há a desfiguração do mundo.
Miguel Castelo Branco, “diário as beiras”
Uma
das guerras culturais em que a direita radical é mais débil é a de mudar a
história, censurando e cancelando alguns aspectos, recriando o passado e tentando
criar uma história ideológica e política que não suporta o mínimo de escrutínio
factual, logo, científico.
(…)
[A
direita radical portuguesa] sem história, com uma memória sinistra, há que
encontrar mecanismos de falsificação/substituição que criem momentos épicos que
sirvam a propaganda política.
(…)
Há, como é óbvio, uma minoria muito minoria que
acha que o que precisamos é de um novo Salazar.
(…)
O 25 de Abril permanece ainda uma memória
politicamente viva, por boas razões.
(…)
Por isso, esta guerra cultural não foi vencida
pela direita radical.
(…)
O que
é que sobra quando se perde na opinião? Usar a força do Estado e do poder
político para não só impor um “passado” fictício, aceitável a quem não tem
passado apresentável, como usar esse exercício para a luta política e
ideológica.
(…)
É o 25
de Novembro comemorável? Sem dúvida, se for o que aconteceu e não a
falsificação que por aí passa como sendo história.
(…)
Há
documentação histórica suficiente e estudos sólidos que negam a ideia do 25 de
Novembro como um “golpe do PCP”, mas esta mistificação terá sem dúvida um papel
nas comemorações.
(…)
Quando se começa a falsificar a história,
vai-se cada vez mais longe.
(…)
Por
que razão as primeiras eleições democráticas são as de 1976, e não as eleições
cruciais de 1975, aquelas que mais corresponderam à vontade dos portugueses.
(…)
Eu
percebo por que razão “desaparecem”
as eleições de 1975: não se pode andar a dizer que havia uma “ditadura” no
PREC e admitir que as eleições foram totalmente livres.
(…)
Ao
desvalorizar a eleição de 1975, a direita radical junta-se a todos os que, na
época, se incomodaram com os seus resultados.
(…)
Não é
muito difícil de perceber pela [resolução
do Conselho de Ministros sobre o 25 de Novembro] que o 25 de Novembro é
equiparado ao 25 de Abril, e que no processo de consolidação da democracia lhe
é dado um papel que não teve.
(…)
[A
consolidação da democracia] demorou tanto tempo, foi tumultuária, conflitual,
teve avanços e recuos? O que é que se esperava depois de 48 anos de ditadura e
uma guerra colonial em curso?
Pacheco Pereira, “Público”
(sem link)
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