quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (40)

 
Não há muito tempo o nosso primeiro-ministro garantia que a TAP era como as caravelas de outrora, descritas como o bem nacional mais prometedor para nos impor no mundo, o tesouro dos tesouros.

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Pois as caravelas vão ser vendidas e o Governo está numa fona que pode explicar o madrilismo dos anúncios ministeriais.

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O insólito de escolherem Madrid nos dois casos [de dois ministros anunciarem a venda da TAP] é acentuado pelo conteúdo das declarações.

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Medina, mais recatado, veio só anunciar o calendário.

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Foi a primeira vez que vi um ministro a apresentar no estrangeiro as prioridades de decisões do conselho de ministros.

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Não sei se o resultado do concurso, que se prevê rápido (…) será anunciado em Madrid num próximo evento, ou se será anunciado em Colónia.

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Lento é o novo hospital de Lisboa, o novo aeroporto ou a contagem do tempo de serviço de professores, mas despachada é a venda das caravelas, qual é a dúvida?

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Este governo tem mesmo um propósito, um desígnio nacional, uma causa mobilizadora, uma narrativa ou, como quer que isso agora seja dito, um negócio em andamento, que é a privatização da TAP.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Não é mau esclarecermos algumas coisas sobre a imunidade parlamentar quando a demagogia se espalha mais depressa do que incendio num pinhal.

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[A Constituição da Republica] diz que os deputados são irresponsáveis [civil, criminal e disciplinarmente] pelos seus votos e opiniões emitidas no exercício das suas funções.

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[A imunidade parlamentar] serve, antes de tudo, para garantir a separação de poderes em que se baseia o Estado de Direito Democrático.

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Todos assumimos que os poderes executivo e legislativo não podem interferir no judicial.

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A separação de poderes serve para impedir que invadam o espaço de outros poderes, não dando lugar a uma República de Juízes.

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Era exatamente isso que aconteceria se a imunidade de Catarina Martins fosse levantada.

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Nos dois casos [recentes que envolveram Inês Sousa Real e Mariana Mortágua], que são de fronteira, penso que o parlamento deveria ter mantido a imunidade. 

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O caso de Catarina Martins está no extremo deste debate: se a imunidade parlamentar lhe fosse levantada teria de ser abolida, porque pouco mais sobrava.

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Catarina Martins não atribuiu aos deputados do Chega nenhum comportamento objetivo que possa ser considerado difamatório.

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O que um juiz ia avaliar era se a líder do BE tinha razões fundadas para dizer que os deputados do Chega são racistas e impor a sua avaliação política ao debate entre deputados.

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O que este levantamento de imunidade instituiria é que os juízes podem ser árbitros do debate entre deputados.

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Não é por acaso que o não levantamento da imunidade de Catarina Martins teve voto de todos menos do Chega. 

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Não me espanta que o juiz Carlos Alexandre tenha dado luz verde ao absurdo pedido contra Catarina Martins. 

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É exatamente a pensar neste tipo de apetites [alimentar o espetáculo político] que a imunidade tem de existir.

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[A extrema-direita] quer usar a justiça para calar quem lhe faça acusações políticas, até as que são aceites e partilhadas pela grande maioria dos portugueses.

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[A imunidade parlamentar serve] para proteger o nosso voto e a sua representação livre.

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A democracia impõe que essas avaliações políticas não dependam de autorizações de juízes, por mais que alguns adorassem ser árbitros políticos.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

A lei da descriminalização, em vigor desde 2001, não é a mesma que regula o tráfico, que permanece enquadrado por um decreto-lei de 1993.

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Depois, existe um quasi consenso de que a descriminalização não está associada a mudanças nas tendências de consumo.

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Já a sua criminalização, como alerta a ONU, traz consequências negativas para a saúde, segurança e direitos humanos de indivíduos e comunidades um pouco por todo o mundo.

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A lei da descriminalização é um sucesso incontestável.

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Em 2001, a mortalidade relacionada com drogas caiu drasticamente e, com algumas flutuações, mantém-se hoje entre as mais baixas da Europa.

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Portugal foi, em 2001 e 2002, responsável por mais de 50% de todos os novos diagnósticos de VIH atribuíveis ao uso de drogas injetáveis na União Europeia. Em 2019, esses números tinham caído para 1,68%.

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Em 2001, os crimes relacionados com drogas ilegais eram a principal razão para as sentenças de prisão efetiva, muito acima da média europeia, proporção que encolheu de 40% para 15%, situando-se agora abaixo da média europeia.

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Não há mais uso problemático de drogas em contexto de rua, a versão que gera mais alarme social, do que no fim dos anos 90, altura em que era crime.

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Quando o braço social do Estado encolhe, o braço penal tende a esticar. São inversamente proporcionais.

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Apregoar mais Estado no âmbito da justiça e menos no da resposta social é particularmente perverso para as pessoas pobres que usam drogas.

Ximene Rego, “Público” (sem link)

 

Na altura [abril de 2011 – chegada da troika a Portugal] os títulos das notícias chamavam àquele trio “equipa técnica da troika”.

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Mas o que vieram fazer ao nosso país tinha natureza política.

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A flexibilização do mercado de trabalho, um nome elegante para a perda de direitos dos trabalhadores, ou a suspensão do pagamento dos subsídios de férias ou de Natal a funcionários públicos e pensionistas são bons exemplos de políticas.

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O que importa aqui é que se confundiu o que era técnico com o que era político e que se atribuiu rigor técnico, quase científico, a um conjunto de medidas que eram puramente questionáveis.

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Isto é sempre sobre política. 

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E é verdade que temos de começar a distinguir o que é técnico do que é político, mas sobretudo o que é técnico, ou científico, daquilo que é uma resposta errada.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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