sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CITAÇÕES

 
O vício da ganância será benéfico, concluiu, é o que cimenta a vida social, apelando assim à avidez e ao egoísmo como fundamentos do bem-estar coletivo.

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[Ainda hoje os liberais atrevem-se mesmo a uma lição social]:

se todos formos gananciosos, mais próspero será o país.

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Para [Bernard] Mandeville, só o vício poderia ser o pilar da sociedade, dando o exemplo dos hospitais.

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A crítica de [Adam] Smith foi implacável: nem aceitava a abolição da distinção entre o vício e a virtude, nem que a frivolidade da vaidade pudesse ser considerada a origem da virtude.

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Para ele [Smith] a simpatia era um dos fundamentos morais da sociedade.

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Outro liberal, Jean Baptiste Say, reforçou este ponto de vista: as instituições da sociedade moderna devem ter como motivação não a ganância, mas sim a utilidade social e até o propósito de reduzir a desigualdade das fortunas.

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Que os liberais modernos ignorem este debate inconveniente, isso faz parte do seu instinto de sobrevivência. 

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O melhor exemplo, como não podia deixar de ser, é o que se passa na habitação.

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O que os liberais dos vários matizes nos propõem é simplesmente proteger o maior lóbi de Portugal, a teia finança-imobiliário-turismo.

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Percebo que a causa mereça tanta devoção, é a fonte do seu poder. 

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Os “nómadas digitais” são a mais recente raça de colonizadores que desembarcou na nossa praia, festejados como enviados divinos.

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Se houver mais investimento neste negócio, os empreiteiros farão pela vida e construirão casas para os preços mais altos.

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De 2019 a meio de 2022 mais de metade das compras de casas foi a pronto, isto não diz nada?

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O aumento da oferta nestas condições só agrava a impossibilidade de jovens e classes médias e populares acederem a habitação. 

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A isto respondeu o governo com subsídios, para aguentar provisoriamente o arrendamento por jovens, e com exuberantes propostas, obras de Santa Engrácia, de construção de casas que teriam preços controlados. 

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Mas entretanto, para satisfazer o lobby [da construção], em 2023 autoriza um novo hotel por cada cinco dias, só em Lisboa serão mais 17.

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E permite a dupla espoliação de uma grande parte da população.

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O que restaria para reabilitação é o que não se constrói em quarenta anos do ritmo atual.

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Essa é a oferta que falta: construção pública, acordos com os proprietários para reabilitar e controlo de preços.

Francisco Louçã, “Expresso”

 

Uma testemunha abonatória é aquela que, não tendo presenciado os factos que são discutidos num julgamento, é inquirida sobre a personalidade e o caráter da pessoa que está a ser julgada.

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É isto que o juiz Carlos Alexandre está disponível para fazer pelo agente da PSP Carlos Canha no processo em que este está acusado de ofensas à integridade física qualificada, sequestro agravado, abuso de poder e injúria.

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Chama-se Cláudia Simões a mulher que Carlos Canha agrediu.

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Dificilmente conseguiremos esquecer a sua cara desfigurada, resultado de hematomas, cortes e lesões várias, denunciando agressões brutais.

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Foi deixada – e encontrada – inconsciente à porta da esquadra da PSP.

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Cláudia Simões é uma mulher racializada, vive na periferia e faz parte de uma classe socioeconómica baixa. Cláudia Simões é pobre.

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As descrições detalhadas dos factos ocorridos são chocantes. A PSP fala numa queda de Cláudia Simões.

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Mas um dos juízes mais conhecidos da magistratura portuguesa dará o seu contributo para que o tribunal conclua que não houve culpa de Carlos Canha.

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Não conheço Carlos Canha e não faço afirmações acerca do seu caráter. O que poderia dizer sobre este homem é péssimo.

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[O que está em causa é] a sua [de Carlos Costa] decisão de ser inquirido, com o propósito de o ajudar, num julgamento em que se vão discutir factos gravíssimos a que não assistiu.

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Carlos Alexandre surge ao lado das forças policiais e num episódio exemplar: uma mulher racializada acompanhada pela sua filha menor, desarmada, é brutalmente agredida por um agente da PSP numa periferia.

O juiz Carlos Alexandre não representará o povo português quando prestar depoimento abonatório a favor do agente que agrediu Cláudia Simões.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

A invasão da Ucrânia pela Rússia criou na Europa uma situação extremamente perigosa.

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Por outro lado, a perceção da guerra entre o invasor e o invadido diluiu-se para emergir uma guerra entre a Rússia e os EUA/NATO/UE.

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[Há quem esqueça] o recente desmembramento levado a cabo da Jugoslávia e a sua ulterior alteração das fronteiras agravada com a criação totalmente artificial do Kosovo.

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Então, os EUA não pretendem impor a alteração das fronteiras da China?

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O pedido de adesão da Ucrânia à NATO colocou em cima da mesa a segurança russa, como era de esperar.

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Os dados são claros: a Rússia não aceita sair da Ucrânia sem os territórios ocupados onde se encontra a população russófona e o Ocidente repudia esse objetivo.

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Tal significa que a guerra vai continuar e provavelmente com maior intensidade.

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Porque não negociar e apresentar de parte a parte cedências dignas e que impeçam este abismo dos donos da guerra?

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Os problemas entre a Ucrânia e a Rússia valem uma guerra mundial?

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Os ditos valores da Ucrânia são os de um Presidente que até às vésperas de tomar posse usava offshores e proibiu a população russófona de falar russo. Isto vale uma guerra entre a NATO e a Rússia?

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Acresce ser a primeira vez que uma guerra desta dimensão não gera um estremecimento na opinião pública.

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A morte de centenas de milhares de gente nova entrou na normalidade. Aqui ou na Palestina de que se não fala, apesar da ocupação militar israelita.

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O mundo não parece inquietar-se quando os generais dos EUA falam da guerra com a China em 2025 pelo simples facto de a China ter ido a jogo, aderindo à Organização de Comércio Mundial, e estar a passar a perna aos americanos.

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A financeirização da vida económica leva a uma competição infernal, uma guerra de todos contra todos, o regresso ao homo homini lupus. E aí está a guerra como normal.

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Fazem falta as vozes dos pacifistas que não se deixam confundir com a política de Putin, nem se deixam intimidar por defender a paz contra a decisão militar.

Domingos Lopes, “Público” (sem link)


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