sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

CITAÇÕES

 
[A polémica sobre a habitação] é tudo uma farsa em que se usam duas máscaras: os que gritam que querem que se mantenha a solução liberal, que já provoca um desastre social, e o Governo que finge que vai tomar medidas valentes.

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O resultado será que nem uma única casa será objeto do tal arrendamento forçado. 

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[Para a direita e para o PS] o nosso futuro é a economia do turismo e, portanto, paciência para a habitação.

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Até agora, a habitação em Portugal tem sido o arquétipo do sucesso liberal. 

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A Lei Cristas, apontada pelo primeiro-ministro num debate com ela como origem do desastre, foi por ele cuidadosamente preservada.

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Em vez de apoiar os proprietários na reabilitação com a condição do arrendamento, autorizou-se a vaga do Alojamento Local.

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Em vez de construção pública, entregou-se a habitação à finança.

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O mercado é rei.

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Curiosa perspetiva [a do ataque dos liberais], que, aliás, acusa mais de metade dos países da União Europeia (que controlam as rendas) ou os liberais do Canadá.

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Pelo menos um dos fundadores do liberalismo [Adam Smith] pensou nesta questão: será que o direito do proprietário da casa é absoluto?

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A sociedade tem de impor regras ao mercado, dizia o pai do liberalismo.

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O problema é que é o turismo, desde 2019, que representará mais de metade das exportações.

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Não é a capacidade produtiva, é a exploração das vantagens do território e dos salários baixos para manter uma atividade centrada no “complexo turístico-imobiliário”.

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Para o futuro, isto é a ilusão do dinheiro fácil a esconder a degradação da economia portuguesa.

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É a ideia para Portugal que é partilhada por liberais e pelo Governo atual.

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Resultou. A taxa de crescimento do turismo no Valor Acrescentado Bruto foi duas vezes a da média nacional.

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O impacto é a subida dos preços da habitação.

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No turismo, o trabalho é mais jovem, mais feminino, mais precário e menos qualificado do que a média nacional.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

O dia 24 de fevereiro fez-nos entrar pela realidade adentro de uma agressão cimentada em narrativas falsas e forçadas por parte das autoridades russas.

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Mas nada justifica uma agressão gratuita a civis.

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Nada justifica ataques a maternidades com mulheres e recém-nascidos.

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Cada dia que passa, um a mais. Mais um em que a urgência da paz é maior, mas onde parece crescer o esquecimento dessa urgência.

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Iniciada há 12 meses, a agressão russa à Ucrânia continua a transgredir o direito internacional humanitário até aos dias de hoje.

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As imagens que nos chegaram da guerra permanecerão na nossa memória coletiva.

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O bombardeamento do Teatro de Mariupol, apesar de a palavra Дети (crianças) estar escrita nas laterais do edifício e visível para os atacantes.

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O decorrer do último ano mostrou-nos a falta de vontade da Rússia em terminar o conflito.

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Num país onde as pessoas com mais de 60 anos constituem quase um quarto da população, os idosos têm sentido dificuldades acrescidas.

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A falta de condições das habitações multiplica-se por toda a Ucrânia. O frio passou a ser constante.

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As falhas de energia (…)  dificultam o acesso das crianças à educação.

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Nesta destruição, o agressor justifica-se para roubar crianças que diz que está a salvar e a reeducar, a nacionalizar e a dar para adoção a famílias russas, retirando-as das suas na Ucrânia.

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Não estou a dizer que dotar a Ucrânia de meios para se defender não é correto. Bem pelo contrário: é correto. Mas não podemos só falar disso.

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A narrativa tem de incluir a paz. Os processos de paz, as negociações de paz, a paz, insistentemente a paz.

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É por todos os civis ucranianos que merecem um país reconstruído, sarado e em paz. É urgente a paz.

Pedro A. Neto (AI), “Público” (sem link)

 

A emoção liga-se à demagogia e veste um fato à medida do desastre quando serve os interesses mais irracionais e populistas.

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É caso para dizer que há um PSD que concretiza a deontologia em lições e um PSD sem inteligência emocional para silenciar os dislates.

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Perante as condições em que vemos imigrantes a viver em Portugal, sub-humanas, escravizantes ou que configuram tráfico humano, admitir que se escolham nacionalidades na fronteira em razão do sangue ou do nível de adaptabilidade "darwiniana" é francamente perigoso.

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As declarações de ambos [Montenegro e Moedas] são pontos de vizinhança conjunta ao sistema e, como referiu o líder da extrema-direita, uma "aproximação de posições". 

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Olhemos para o que refere Marcelo Rebelo de Sousa como pontuação moral em dose dupla: a "cópia perde sempre para o original" cola Montenegro a Ventura e Moedas às certezas-inabaláveis-que-nunca-se-enganam de Aníbal Cavaco Silva.

Miguel Guedes, JN

 

As últimas semanas têm sido pródigas em discussões sobre pobreza, modos de vida, sobrevivência e contestação.

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Do que sabemos, o mundo ficou sempre mais desigual a seguir a cada uma dessas crises e consequentes medidas de austeridade.

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Quase metade da população vive num certo limiar de fragilidade e, desenganem-se os populistas, ninguém gosta de estar nesse limbo.

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Neste panorama, a subida generalizada dos preços, foi o sismo que faltava para pôr em causa o frágil contrato social da sociedade portuguesa.

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Vinte por cento dos indivíduos mais pobres têm uma despesa superior ao rendimento.

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Os produtos alimentares têm um peso de 19,2% na despesa das famílias mais pobres e de 11% nas mais ricas.

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Quanto às rendas, o peso no orçamento das famílias mais pobres é 6,9 vezes superior ao das famílias ricas.

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Claramente, o perfil de despesa das famílias mais pobres centra-se nos consumos essenciais.

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O que essas famílias não vivem, mas veem são os lucros recorde das empresas de energia, dos bancos, retalho, e até o Estado tem superavit.

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Ou seja, há um testemunho colectivo de que a riqueza existe, está é mal distribuída.

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Segundo a OCDE, num estudo de 2019, em Portugal são precisos 125 anos para uma família sair da pobreza.

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Quem está na base da pirâmide económica do país tem laços afectivos e redes de solidariedade desconhecidas do grande público, mas completamente orgânicas para os seus constituintes.

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Por isso devemos ter renovada esperança quando surgem movimentos de base como o Vida Justa, disponíveis para vir a público – como no próximo dia 25 de Fevereiro.

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Não estamos habituados que a base da pirâmide venha a público, num país onde até a representação social é um privilégio. Esperemos que isso mude em breve.

António Brito Guterres, “Público” (sem link)


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