(…)
[A ação de Macron] pode dar origem a uma insurreição ainda
maior que consiga derrotar a nova lei ou pode entregar o poder à
extrema-direita.
(…)
Macron e o bloco social que representa é minoritário, sabe
que é minoritário, mas quer fazer prova da sua capacidade de avançar com
medidas neoliberais mesmo que elas não tenham qualquer respaldo popular.
(…)
A extrema-direita é necessária ao “centrismo” para sacar
maiorias eleitorais sob chantagem.
(…)
As provocações de Macron foram ao ponto de ter equiparado os
manifestantes aos assaltantes do Capitólio.
(…)
Só que quando se governa contra o sufrágio popular e a
vontade maioritária (…), fecham-se as portas a alternativas democráticas e
abre-se a porta à extrema-direita.
(…)
É uma estratégia cínica, democraticamente trágica e que não
tem como resultar eternamente.
(…)
Só a derrota do macronismo por esse campo insubmisso poderá
salvar a democracia.
José Soeiro, “Expresso” online
A pergunta que importa, então, é porque é que as listas [de
produtos que iriam passar a ter % de IVA] eram diferentes [em Marques Mendes e
Paulo Portas].
(…)
O palácio queria criar um sentimento positivo, uma
expectativa, quem sabe se uma ansiedade sobre as medidas benfazejas que iriam
jorrar no dia seguinte (…), e usou para isso todos os instrumentos.
(…)
Dificilmente poderia ter melhor do que o deslumbramento de
dois presumíveis opositores, agora colocados na função de trombeteiros da medida.
(…)
A lição desta couve-flor e da curgete importa, em todo o
caso. Demonstra o cuidado meticuloso da equipa comunicacional do Governo e como
aposta nesta operação.
(…)
O Governo tem respondido com uma corrida atrás dos problemas,
há sempre o ministro da Saúde a comentar, perante o fecho de uma urgência, que
já tem uma comissão e um estudo e que na próxima semana estará tudo pronto.
(…)
Assim é em todos os dossiers e, entretanto, os preços
cavalgam e repete-se a doutrina de que seria um desastre se os salários
mantivessem o seu valor real.
(…)
Estou certo de que os dominicais anunciadores do milagre [Portas
e Mendes] estarão atentos ao preço da cebola, mas menos seguro de que o povo
entenda isto como o milagre das rosas.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Depois de meses de continuada contestação, os professores
apenas reforçaram a sua coesão e ganharam apoio público.
(…)
Parece evidente que só novas formas de luta poderão retirar
os professores do impasse em que estão.
(…)
Ao
longo dos anos foram crescendo diversas hierarquias de dominância (…) no
sistema de ensino, que desenvolveram nos professores uma tendência para
simplesmente obedecer.
(…)
O problema maior da obediência é o de sabermos até que ponto
é legítimo desobedecer.
(…)
Se olharmos
para a história do pensamento humano, é forçoso reconhecer que muitos dos
acontecimentos que promoveram o desenvolvimento e o progresso das sociedades
radicaram em actos de desobediência.
(…)
Luís
Costa, um dos professores mais abnegados da nossa classe, entendeu-o e convidou
os colegas a assumirem publicamente o compromisso de desobedecerem à prestação
de serviços mínimos ilegais.
(…)
Das diferentes áreas da governação, a imagem que perdura é a
de que quem manda não sabe o que fazer.
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Acentuaram-se as desigualdades e cresceu o número de famílias
profundamente afectadas pela queda do rendimento real.
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Sem que disso se fale, reformados e pensionistas da Caixa
Geral de Aposentações sofrerão cortes em 2024.
(…)
O
ministro da Saúde justifica a falta de comida no Hospital de Santa Maria com o
estranho argumento de que a alimentação não é uma prioridade nas urgências.
(…)
Que
bem nos faria, se todos reflectíssemos sobre o alcance do título deste escrito:
todo o poder só se constrói sobre o consentimento dos que obedecem.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
Duas mulheres morreram e um homem ficou gravemente ferido na
sequência de um esfaqueamento.
(…)
O
assunto aqui é que – apesar de quase nada se saber – houve quem se atrevesse a
comentar os crimes atribuindo-os ao facilitismo das políticas de imigração
portuguesas e incentivando ao ódio e à xenofobia.
(…)
Sem surpresa, André Ventura destacou-se como uma dessas vozes.
(…)
[Ventura] não lamentou as mortes ou tão-pouco se solidarizou
com a comunidade ismailita.
(…)
Quis apenas tratar como oportunidade uma tragédia.
(…)
Ventura aproveita-se dos preconceitos e dos medos de muitos
portugueses e diz o que sabe que muitos querem ouvir.
(…)
André
Ventura chegou a fazer uma tese de doutoramento de índole humanista em que
alertava para os perigos do pânico social (resultante da ameaça de terrorismo).
(…)
Este oportunismo sem qualquer apego aos princípios, mesmo que
sejam maus princípios, é a maior marca que este político deixa.
(…)
O
problema já está numa fase muito avançada. Como um alquimista maligno, Ventura
transformou sofrimento português em raiva portuguesa. O mal está feito.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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