quarta-feira, 29 de março de 2023

CITAÇÕES À QUARTA (47)

 
As mobilizações [em França] já são mais que uma luta social sobre as reformas: transformaram-se numa rejeição política do macronismo.

(…)

[A ação de Macron] pode dar origem a uma insurreição ainda maior que consiga derrotar a nova lei ou pode entregar o poder à extrema-direita.

(…)

Macron e o bloco social que representa é minoritário, sabe que é minoritário, mas quer fazer prova da sua capacidade de avançar com medidas neoliberais mesmo que elas não tenham qualquer respaldo popular.

(…)

A extrema-direita é necessária ao “centrismo” para sacar maiorias eleitorais sob chantagem. 

(…)

As provocações de Macron foram ao ponto de ter equiparado os manifestantes aos assaltantes do Capitólio.

(…)

Só que quando se governa contra o sufrágio popular e a vontade maioritária (…), fecham-se as portas a alternativas democráticas e abre-se a porta à extrema-direita.

(…)

É uma estratégia cínica, democraticamente trágica e que não tem como resultar eternamente. 

(…)

Só a derrota do macronismo por esse campo insubmisso poderá salvar a democracia.

José Soeiro, “Expresso” online

 

A pergunta que importa, então, é porque é que as listas [de produtos que iriam passar a ter % de IVA] eram diferentes [em Marques Mendes e Paulo Portas].

(…)

O palácio queria criar um sentimento positivo, uma expectativa, quem sabe se uma ansiedade sobre as medidas benfazejas que iriam jorrar no dia seguinte (…), e usou para isso todos os instrumentos.

(…)

Dificilmente poderia ter melhor do que o deslumbramento de dois presumíveis opositores, agora colocados na função de trombeteiros da medida.

(…)

A lição desta couve-flor e da curgete importa, em todo o caso. Demonstra o cuidado meticuloso da equipa comunicacional do Governo e como aposta nesta operação.

(…)

O Governo tem respondido com uma corrida atrás dos problemas, há sempre o ministro da Saúde a comentar, perante o fecho de uma urgência, que já tem uma comissão e um estudo e que na próxima semana estará tudo pronto.

(…)

Assim é em todos os dossiers e, entretanto, os preços cavalgam e repete-se a doutrina de que seria um desastre se os salários mantivessem o seu valor real. 

(…)

Estou certo de que os dominicais anunciadores do milagre [Portas e Mendes] estarão atentos ao preço da cebola, mas menos seguro de que o povo entenda isto como o milagre das rosas.

Francisco Louçã, “Expresso” online

 

Depois de meses de continuada contestação, os professores apenas reforçaram a sua coesão e ganharam apoio público.

(…)

Parece evidente que só novas formas de luta poderão retirar os professores do impasse em que estão.

(…)

Ao longo dos anos foram crescendo diversas hierarquias de dominância (…) no sistema de ensino, que desenvolveram nos professores uma tendência para simplesmente obedecer.

(…)

O problema maior da obediência é o de sabermos até que ponto é legítimo desobedecer.

(…)

Se olharmos para a história do pensamento humano, é forçoso reconhecer que muitos dos acontecimentos que promoveram o desenvolvimento e o progresso das sociedades radicaram em actos de desobediência.

(…)

Luís Costa, um dos professores mais abnegados da nossa classe, entendeu-o e convidou os colegas a assumirem publicamente o compromisso de desobedecerem à prestação de serviços mínimos ilegais.

(…)

Das diferentes áreas da governação, a imagem que perdura é a de que quem manda não sabe o que fazer.

(…)

Acentuaram-se as desigualdades e cresceu o número de famílias profundamente afectadas pela queda do rendimento real.

(…)

Sem que disso se fale, reformados e pensionistas da Caixa Geral de Aposentações sofrerão cortes em 2024.

(…)

O ministro da Saúde justifica a falta de comida no Hospital de Santa Maria com o estranho argumento de que a alimentação não é uma prioridade nas urgências.

(…)

Que bem nos faria, se todos reflectíssemos sobre o alcance do título deste escrito: todo o poder só se constrói sobre o consentimento dos que obedecem.

Santana Castilho, “Público” (sem link)

 

Duas mulheres morreram e um homem ficou gravemente ferido na sequência de um esfaqueamento.

(…)

O assunto aqui é que – apesar de quase nada se saber – houve quem se atrevesse a comentar os crimes atribuindo-os ao facilitismo das políticas de imigração portuguesas e incentivando ao ódio e à xenofobia.

(…)

Sem surpresa, André Ventura destacou-se como uma dessas vozes.

(…)

[Ventura] não lamentou as mortes ou tão-pouco se solidarizou com a comunidade ismailita.

(…)

Quis apenas tratar como oportunidade uma tragédia.

(…)

Ventura aproveita-se dos preconceitos e dos medos de muitos portugueses e diz o que sabe que muitos querem ouvir.

(…)

André Ventura chegou a fazer uma tese de doutoramento de índole humanista em que alertava para os perigos do pânico social (resultante da ameaça de terrorismo).

(…)

Este oportunismo sem qualquer apego aos princípios, mesmo que sejam maus princípios, é a maior marca que este político deixa.

(…)

O problema já está numa fase muito avançada. Como um alquimista maligno, Ventura transformou sofrimento português em raiva portuguesa. O mal está feito.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


Sem comentários:

Enviar um comentário