sábado, 25 de março de 2023

MAIS CITAÇÕES (225)

 
Tolerar o que se passou no “NRP Mondego” seria tolerar a interrupção da cadeia hierárquica.

(…)

Não é apenas a eficácia militar que está em causa, mas a democracia. 

(…)

O topo da hie­rarquia é o poder político, civil e eleito, a quem os militares devem obediência. 

(…)

[Quando] o Ministério das Finanças liberta dinheiro uns dias depois deste episódio, mostrando que governa ao sabor das manchetes, transmitem incentivos à indisciplina.

(…)

Mesmo sendo implacáveis nesta matéria, temos o dever de perceber, sem justificar, de onde vem a desordem.

(…)

A descrição do estado daquele navio é a descrição do estado dos serviços públicos e das funções de soberania: a meter água por todos os lados. 

(…)

É impossível compreender o clima de insubordinação nas Forças Armadas sem perceber o estado do Estado.

(…)

Sempre que se fala de “contas certas” ignoram-se as contas erradas que elas acumulam. 

(…)

Os números não enganam: foi com o euro que todos os indicadores na­cionais começaram a cair.

(…)

Não é por incompetência congénita que as coisas correm mal, como demonstram os resultados históricos da TAP pública em contraste com o desastre da gestão privada. 

(…)

A austeridade eterna está a asfixiar funções necessárias do Estado, seja um SNS que vive em crise aguda, uma escola pública a quem faltam professores ou uma Marinha que tem navios que saem do porto rebocados. 

(…)

A obsessão pela transparência e a cacofonia de discursos retiraram a todos os agentes do Estado, até àqueles a quem se exige mais sobriedade, o dever institucional do recato. 

(…)

A desinstitucionalização do Estado, que se alimenta da decadência da sua autoridade e da decadência das condições materiais para o seu funcionamento, explica a intolerável indisciplina na Marinha.

(…)

Que Gouveia e Melo resolveu acompanhar, transformando a reprimenda à guarnição num momento de autopromoção televisionada.

(…)

Mas, de camuflado e com voz de comando, o almirante soube gerir a sua imagem, inchando com a popularidade que o momento lhe garantiu.

(…)

Aproveitando o ativo conquistado, o almirante tem dado gás à ideia de que pode ser candidato presidencial.

(…)

Perigoso é esse militar no ativo usar as suas funções para ir fazendo campanha política e mediática.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

Apesar da cimeira consideração por parte de alunos, encarregados de educação e opinião pública, os professores inscreveram, nos últimos vinte anos, a ausência de apoio no crucial universo que cruzou a política com a opinião mediatizada.

(…)

Para a desvalorização da defesa do grupo profissional que mais protestou na Europa, prevaleceram duas ideias: o gesto desagrada a eleitores e não se defende uma corporação.

(…)

[Houve uma] dramática perda de atractividade da profissão, "fuga" como o substantivo mais sonhado por quem resistiu, ou não teve alternativa, e custos elevados para os alunos e para a democracia.

(...)

Em rigor, perdeu-se qualidade na escola pública e no livre exercício de ensinar e aprender.

(…)

Mas há certezas nas causas que empurraram o exercício para a queda: o ultraliberalismo, que impôs o salve-se quem puder e os cortes a eito na educação.

(…)

Não adianta repetir-se que os professores não querem ser avaliados, quando o que sobra é uma farsa administrativa que suporta uma febre "meritocrática" que infantiliza as organizações.

(…)

E se a máquina diabólica da avaliação do desempenho foi imposta por políticos, foram professores que a desenharam e aplicaram.

(…)

A queda das escolas em ambientes de amiguismo e parcialidade teve o histórico cunho dos concordantes.

(…)

A dilaceração ética cresceu e o final de 2022 assistiu ao grito em curso.

(…)

O Governo, espantosamente desorientado e surpreendido com uma falta de professores que se adivinhava há mais de uma década, limitou-se a recuar 20 anos em matéria de concursos.

(…)

A engrenagem continua a triturar a dignidade que resta e os jovens professores captam de imediato uma insanidade repleta de injustiças que os avalia com quotas e sem qualquer "olhos nos olhos".

(…)

O nosso século XX formou a geração mais habilitada num lugar democrático ímpar na nossa História: a escola pública.

Paulo Prudêncio, “Público” (sem link)

 

A necessidade do aumento dos salários continua ausente dos discursos ministeriais e, sem esse aumento, nos setores privado e público, não se resolvem as carências com que os portugueses se debatem.

(…)

No setor privado, salvo raríssimas exceções, aqueles que amealham os ganhos vindos da inflação não se dispõem a travar a apropriação de riqueza e a negociar com os trabalhadores e os seus sindicatos a melhoria dos salários. 

(…)

Governo e grandes poderes privados colocam, sem pingo de vergonha, as políticas salariais entregues às sobras que ficarão das apropriações de riqueza a que entendem ter direito.

(…)

A escalada da desvalorização salarial iniciou-se em 2010, disparou com o memorando da troica e com o corte de salários nominais imposto pelo Governo PSD/CDS.

(…)

Agora, a inflação trouxe o regresso agressivo da retórica falaciosa do sacrifício dos salários.

(…)

O Governo coloca sistemáticos condicionalismos orçamentais, as "contas certas", a justificar a contínua perda salarial dos trabalhadores da Administração Pública.

(…)

Sem salários dignos e profissões valorizadas, não há direitos fundamentais, não há democracia.

Carvalho da Silva, JN

 

Hoje, é interessante ver a forma como se utiliza, sem debate, a expressão eufemística de “abusos sexuais” na Igreja, tal como se utiliza para as violências sexuais contra mulheres.

(…)

Abusar é utilizar mal, utilizar em excesso, sem colocar em causa a questão da propriedade ou de uma “utilização normal”.

(…)

Ora, em momento algum a violência física, sexual, independentemente do grau de gravidade, contra crianças é “normal”, e estas não são propriedade da Igreja.

(…)

Ainda mais do que pais, professores ou médicos, [padres e freiras] são as criaturas que mais se aproximam do “nosso Criador”, os mensageiros privilegiados da “Palavra do Senhor”, quase divinos.

(…)

Se os crimes sexuais existem em tantos outros domínios, é necessário compreender a especificidade desta violência no seio da Igreja.

(…)

As violências sexuais contra crianças, como contra as mulheres não são nem amor, nem abusos, são agressões, são violência, são crimes.

Luísa Semedo, “Público” (sem link)


Sem comentários:

Enviar um comentário