sexta-feira, 10 de março de 2023

CITAÇÕES

 
Vai por aí uma fanfarra sonora: por “obsessão ideológica”, o Governo nacionalizou a TAP e desbaratou €3 mil milhões dos nossos impostos.

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Mas se há algo que só pode ser incontroverso é que houve uma pandemia, os aviões ficaram parados, as companhias aéreas afundaram-se e, públicas e privadas, foram resgatadas pelo dinheiro público em toda a parte. 

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Não teriam dito que seria uma “obsessão ideológica” não proteger a empresa privada?

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Ora, Neeleman, como é sabido, recusava-se a pôr dinheiro na empresa e, portanto, o seu destino era a falência, da qual foi salva pela nacionalização.

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Fingir que foi a “ideologia” (“comunista”, dirá Montenegro) a determinar a pandemia e a consequente crise da aviação é um disparate lamentável. 

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Reconstruir o passado para fingir que a TAP podia ter continuado sem a intervenção do Estado é um argumento que dá pena alheia.

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Como disse depois o ministro do Governo seguinte, [Alfredo Casimiro] foi pago para comprar a empresa [Groundforce] e ainda ficou com o troco.

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Ao longo dos anos, a empresa degradou-se e deixou de pagar salários.

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Ficou provado no caso da Groundforce que, com o dinheiro que não é seu, a privatização pode ser um bom negócio — até falir.

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Se a Groundforce foi a operação do início do Governo das direitas, a da TAP foi a final, para arrumar a casa.

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No mesmo dia em que foi aprovada a privatização em Conselho de Ministros foi assinado o acordo de venda.

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O Estado não recebia nada, era uma venda a zero, com os novos donos a assumirem o custo da capitalização necessária.

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A privatização terá sido conduzida por um empresário que não colocou capital e garantida pelo compromisso de criar um buraco na companhia.

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[A TAP] parece ser o campo de experimentação das maiores aventuras empresariais no nosso país (descontando a entrega privatizante do sector da eletricidade ao Estado chinês).

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A TAP deu €110 milhões de lucro no verão passado, está agora a começar a poder pagar o adiantamento público e o Governo vai disso abdicar vendendo-a a uma empresa alemã, espanhola ou inglesa. 

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[Casimiro e Neeleman] já lá estiveram e só singraram com dinheiro que não era deles e arruinando uma e outra empresa.

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Lembro só que [Casimiro e Neeleman]  já tiveram a sua oportunidade e que apresentá-los como modelos (…) só é possível tomando os contribuintes por estúpidos.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Assistir à forma como a Igreja Católica reage à própria culpa é uma mácula que se anexa aos crimes.

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Não há nada que defenda aqueles que compactuam com o esconderijo mórbido onde alguns responsáveis máximos da Igreja se quiseram meter.

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Para muitos arautos da moral católica, um pedido de desculpas e um memorial às vítimas na Jornada Mundial da Juventude são um altar para o são e para o salvo. 

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A Igreja lida com os casos de pedofilia de uma forma avulsa e desconcertante.

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Felizmente para todos, há quem esteja ao lado das vítimas.

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Quando [o patriarca D. Manuel Clemente] afasta a suspensão dos padres acusados, assina de cruz um pacto de não agressão com os agressores.

Miguel Guedes, JN

 

Quando, em 1929, Virginia Woolf escreveu Um Quarto Só Seu estaria longe de imaginar que, passado quase um século, a sua reflexão sobre as desigualdades de género continuaria tão actual.

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Com a sua escrita perspicaz e sensível, Woolf continua a ser uma referência para todas as que buscam ampliar a sua voz e o seu lugar na literatura e noutras esferas da sociedade.

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No seu livro, Virginia Woolf argumenta que as mulheres precisam de alcançar a independência financeira e um espaço próprio para poderem dedicar-se à criação artística.

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[Woolf mostra] como as mulheres foram marginalizadas e excluídas do mundo da escrita, tanto por preconceitos de género quanto por limitações impostas pela falta de recursos e de oportunidades.

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A bandeira da igualdade de género na literatura e na sociedade em geral precisa de continuar hasteada.

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A dinâmica do poder desigual do patriarcado continua a moldar as relações entre homens e mulheres, o que se traduz em problemas sociais, incluindo a violência doméstica, assédio sexual e desigualdade salarial.

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A independência e a estabilidade financeira são essenciais para a expansão do lado criativo das mulheres, quer seja na escrita ou noutras formas de expressão artística.

Analita Alves dos Santos, “Público” (sem link)

 

Malta, Chipre, Grécia, Itália e Espanha (…) concordam que, face aos barcos que cruzam migrantes através do Mediterrâneo, a única resposta possível é a prevenção e o repatriamento, resgatar imigrantes está fora de questão.

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A ideia é que os cinco países falem a uma só voz sobre o tema na UE, cansados de que os outros Estados-membros se mostrem incapazes de partilhar o fardo dos imigrantes que chegam às costas do sul da Europa.

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Os malteses assinaram um acordo com a Líbia para a criação de centros de coordenação de migrantes em território líbio e, apesar das constantes denúncias de violações de direitos humanos naquele país (…), essa é uma solução bem-vista por Bruxelas.

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Sacudir o problema para debaixo do tapete líbio é recurso para quem não tem alternativas a não ser reprimir ou construir muros.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Em dez anos, cerca de 26 mil pessoas morreram na travessia [do Mediterrâneo], de acordo com a Organização Internacional das Migrações.

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Na segunda-feira, o diário italiano La Stampa trazia como manchete “um massacre de inocentes” referindo-se ao naufrágio do barco com migrantes que se afundou ao largo da província de Crotone por causa de uma tempestade.

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A morte de migrantes que se lançam no desespero a atravessar o Mediterrâneo em cascas de noz sobrelotadas parece ser, pois, para muitos políticos uma boa notícia porque ajuda a dissuadir outros de tentar a perigosa travessia.

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A maioria dos políticos italianos, em particular, e europeus, em geral, continuam a advogar a mão dura contra os migrantes, não porque seja a solução, mas porque demagogicamente os ajuda a ganhar eleições.

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Nos próximos 50 anos, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, cerca de 1000 milhões de pessoas serão obrigadas a emigrar devido às alterações climáticas.

António Rodrigues, “Público” (sem link)


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