(…)
Mas se
há algo que só pode ser incontroverso é que houve uma pandemia, os aviões
ficaram parados, as companhias aéreas afundaram-se e, públicas e privadas,
foram resgatadas pelo dinheiro público em toda a parte.
(…)
Não
teriam dito que seria uma “obsessão ideológica” não proteger a empresa privada?
(…)
Ora,
Neeleman, como é sabido, recusava-se a pôr dinheiro na empresa e, portanto, o
seu destino era a falência, da qual foi salva pela nacionalização.
(…)
Fingir
que foi a “ideologia” (“comunista”, dirá Montenegro) a determinar a pandemia e
a consequente crise da aviação é um disparate lamentável.
(…)
Reconstruir
o passado para fingir que a TAP podia ter continuado sem a intervenção do
Estado é um argumento que dá pena alheia.
(…)
Como
disse depois o ministro do Governo seguinte, [Alfredo Casimiro] foi pago para
comprar a empresa [Groundforce] e ainda ficou com o troco.
(…)
Ao
longo dos anos, a empresa degradou-se e deixou de pagar salários.
(…)
Ficou
provado no caso da Groundforce que, com o dinheiro que não é seu, a privatização
pode ser um bom negócio — até falir.
(…)
Se a
Groundforce foi a operação do início do Governo das direitas, a da TAP foi a
final, para arrumar a casa.
(…)
No
mesmo dia em que foi aprovada a privatização em Conselho de Ministros foi
assinado o acordo de venda.
(…)
O
Estado não recebia nada, era uma venda a zero, com os novos donos a assumirem o
custo da capitalização necessária.
(…)
A
privatização terá sido conduzida por um empresário que não colocou capital e
garantida pelo compromisso de criar um buraco na companhia.
(…)
[A
TAP] parece ser o campo de experimentação das maiores aventuras empresariais no
nosso país (descontando a entrega privatizante do sector da eletricidade ao
Estado chinês).
(…)
A TAP
deu €110 milhões de lucro no verão passado, está agora a começar a poder pagar
o adiantamento público e o Governo vai disso abdicar vendendo-a a uma empresa
alemã, espanhola ou inglesa.
(…)
[Casimiro
e Neeleman] já lá estiveram e só singraram com dinheiro que não era deles e
arruinando uma e outra empresa.
(…)
Lembro
só que [Casimiro e Neeleman] já tiveram
a sua oportunidade e que apresentá-los como modelos (…) só é possível
tomando os contribuintes por estúpidos.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Assistir à forma como a Igreja Católica reage à própria culpa é uma
mácula que se anexa aos crimes.
(…)
Não há nada que defenda aqueles que compactuam com o esconderijo mórbido
onde alguns responsáveis máximos da Igreja se quiseram meter.
(…)
Para muitos arautos da moral católica, um
pedido de desculpas e um memorial às vítimas na Jornada Mundial da Juventude
são um altar para o são e para o salvo.
(…)
A Igreja lida com os casos de pedofilia
de uma forma avulsa e desconcertante.
(…)
Felizmente para todos, há quem esteja ao
lado das vítimas.
(…)
Quando [o patriarca D. Manuel Clemente]
afasta a suspensão dos padres acusados, assina de cruz um pacto de não agressão
com os agressores.
Quando,
em 1929, Virginia Woolf escreveu Um
Quarto Só Seu estaria longe de imaginar que, passado quase um
século, a sua reflexão sobre as desigualdades de género continuaria tão actual.
(…)
Com a
sua escrita perspicaz e sensível, Woolf continua a ser uma referência para
todas as que buscam ampliar a sua voz e o seu lugar na literatura e noutras
esferas da sociedade.
(…)
No seu
livro, Virginia Woolf argumenta que as mulheres precisam de alcançar a
independência financeira e um espaço próprio para poderem dedicar-se à criação
artística.
(…)
[Woolf mostra] como as mulheres foram
marginalizadas e excluídas do mundo da escrita, tanto por preconceitos de
género quanto por limitações impostas pela falta de recursos e de
oportunidades.
(…)
A bandeira da igualdade de género na literatura e na
sociedade em geral precisa de continuar hasteada.
(…)
A
dinâmica do poder desigual do patriarcado continua a moldar as relações entre
homens e mulheres, o que se traduz em problemas sociais, incluindo a violência
doméstica, assédio sexual e desigualdade salarial.
(…)
A
independência e a estabilidade financeira são essenciais para a expansão do
lado criativo das mulheres, quer seja na escrita ou noutras formas de expressão
artística.
Analita Alves dos Santos, “Público” (sem link)
Malta,
Chipre, Grécia, Itália e Espanha (…) concordam que, face aos barcos que cruzam
migrantes através do Mediterrâneo, a única resposta possível é a prevenção e o
repatriamento, resgatar imigrantes está fora de questão.
(…)
A
ideia é que os cinco países falem a uma só voz sobre o tema na UE, cansados de
que os outros Estados-membros se mostrem incapazes de partilhar o fardo dos
imigrantes que chegam às costas do sul da Europa.
(…)
Os
malteses assinaram um acordo com a Líbia para a criação de centros de
coordenação de migrantes em território líbio e, apesar das constantes denúncias
de violações de direitos humanos naquele país (…), essa é uma solução bem-vista
por Bruxelas.
(…)
Sacudir
o problema para debaixo do tapete líbio é recurso para quem não tem alternativas
a não ser reprimir ou construir muros.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Em dez anos, cerca de 26 mil pessoas morreram na travessia
[do Mediterrâneo], de acordo com a Organização Internacional das Migrações.
(…)
Na
segunda-feira, o diário italiano La
Stampa trazia como manchete “um massacre de inocentes” referindo-se
ao naufrágio do barco com migrantes que se afundou ao largo da província de
Crotone por causa de uma tempestade.
(…)
A
morte de migrantes que se lançam no desespero a atravessar o Mediterrâneo em
cascas de noz sobrelotadas parece ser, pois, para muitos políticos uma boa
notícia porque ajuda a dissuadir outros de tentar a perigosa travessia.
(…)
A
maioria dos políticos italianos, em particular, e europeus, em geral, continuam
a advogar a mão dura contra os migrantes, não porque seja a solução, mas porque
demagogicamente os ajuda a ganhar eleições.
(…)
Nos
próximos 50 anos, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados, cerca de 1000 milhões de pessoas serão obrigadas a emigrar devido
às alterações climáticas.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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