(…)
[Entre
nós a anomalia] está nos professores dos colégios privados, que em média ganham
menos e trabalham mais, não se sentirem seguros e livres para a fazerem.
(…)
A
liberalização do mercado de trabalho tem deixado a democracia à porta das
empresas.
(…)
O
efeito está à vista: na crise inflacionista da década de 70, os trabalhadores
europeus ficavam com 70% do produto, hoje ficam com 56%.
(…)
Entre
os que impuseram as reformas laborais que contribuíram para garantir que o bolo
da prosperidade fosse mais injustamente repartido estão políticos que hoje se
fazem passar por técnicos [como Luis de Guindos e Lagarde].
(…)
Apesar
de não ter formação económica, [Lagarde] presidiu ao FMI e acabou, pelas mesmas
razões de Guindos, à frente do BCE.
(…)
Numa
conferência de imprensa recente, alguém se deu ao trabalho de contar as vezes
que Lagarde mencionou, para falar dos fatores de risco para a inflação, de
“salários”: 14. Quantas falou de “margens de lucro”? Uma.
(…)
Também
Luis de Guindos tem avisado para os riscos dos excessos das reivindicações
sindicais.
(…)
Seguem
um guião já escrito que lhes diz que, quando há inflação, é preciso contrair a
procura através da contração de salários.
(…)
Se
nestas circunstâncias [de inflação] as margens aumentam, quer dizer que, além
do aumento dos custos estar a ser exclusivamente refletido no preço final,
ainda pagamos o aumento dos lucros.
(…)
Ou
seja, estamos a empobrecer para concentrar a riqueza em acionistas que viram
uma oportunidade na inflação.
(…)
Estamos
a viver a primeira grande crise inflacionista depois da queda do poder sindical
na Europa, resultado das políticas de liberalização do mercado de trabalho.
(…)
Sem
capacidade negocial, os custos do trabalho são os únicos impedidos de
acompanhar a inflação geral.
(…)
Há
décadas que assistimos a uma transferência estrutural de rendimento de baixo
para cima.
(…)
Quem
espera que os políticos que dirigem o BCE reajam antes deste grande assalto
estar terminado é melhor sentar-se.
(…)
O
projeto neoliberal é esse mesmo: a compressão da democracia para que não haja
constrangimentos à concentração de riqueza.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O surto inflacionista está a atingir, de
forma muito dura, as pessoas e famílias de mais baixos rendimentos agravando
brutalmente a pobreza.
(…)
Mas, as maldades estendem-se a outros
setores [para além dos salários e das pensões], como o financeiro.
(…)
Quando, por má gestão ou por negociatas
fraudulentas, os bancos entram em crise, os cidadãos pagam a fatura.
(…)
Um aumento nos lucros "de quase
70%", obtido à custa de altas taxas de juros, de comissões diversas, da
não remuneração de depósitos e através de despedimentos.
(…)
Aos preços de produtos de primeira
necessidade [no comércio a retalho] são impostas escandalosas margens de lucro.
(…)
Os parasitas vão sugar o povo até ao
limite.
(…)
Há muito tempo que o Governo conhece e
devia combater esta ignóbil especulação.
(…)
Acima de tudo, [o Governo] deverá
promover o aumento dos salários e assegurar atualização das pensões em
conformidade com a inflação.
Perante
o aumento generalizado dos preços, as pessoas podem mudar hábitos de consumo e
podem até deixar de adquirir e consumir determinado tipo de produtos. Não podem
é deixar de comprar comida.
A ASAE apurou que num ano os preços do cabaz alimentar
aumentaram quase 30%, percentagem muito superior à da inflação.
(…)
[É inadmissível] a possibilidade de práticas
abusivas na fixação dos preços dos produtos alimentares num cenário em que a
generalidade das pessoas perdeu poder de compra e em que se verificam lucros
extraordinários nos grupos económicos do sector.
(…)
O
Governo quer ouvir todos os representantes do sector para saber se existem
“explicações racionais” que possam justificar estas subidas de preços.
(…)
Atrevo-me
a esclarecer o ministro da Economia que as explicações são sempre racionais,
mesmo aquelas que apontam para as más práticas e para a comissão de crimes
económicos.
(…)
[Muito]
irracional é pretender que – perante a gravidade do problema e a urgência em
resolvê-lo – a estratégia imediata passe apenas por uma pesquisa arqueológica
das causas.
(…)
O
Governo, portanto, vai dialogar. Já as pessoas vão continuar a comprar produtos
alimentares a preços exorbitantes. Ou pior: vão inibir-se de comprar.
(…)
É urgente criar um tipo de crime que puna as práticas que
atentam contra os interesses das pessoas.
(…)
[Os amantes do livre funcionamento do mercado] preferem
uma diminuição da carga fiscal, neste caso uma diminuição do IVA.
(…)
Acontece que em Espanha essa diminuição serviu precisamente
para aumentar margens. Em vez de cura para o problema dos
consumidores, serviu para matar o vício dos retalhistas.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Em
França, como em todo os países do mundo, uma grande parte dos homicídios de
mulheres são praticados pelos companheiros ou ex-companheiros.
(…)
As mulheres são consideradas propriedade do homem, até quando
já não vivem com o ex-companheiro.
(…)
Os
dias do homem são, também, todos aqueles em que este pensa ter direito de vida
e de morte sobre a mulher.
(…)
Estes crimes de “propriedade” não são casos isolados, fazem
parte de um sistema patriarcal terrorista violento e macabro.
(…)
Muitas destas mulheres já tinham feito queixa, muitos destes
homens já haviam sido identificados pela polícia como agressores.
(…)
Esta é a ponta do icebergue de todas as violências feitas
contras as mulheres no mundo.
(…)
Este tipo de violência está tão normalizado que parece uma
inevitabilidade, parece fazer parte do funcionamento normal de uma sociedade.
(…)
Apesar
do feminismo não matar ninguém e de o machismo matar todos os dias, somos
apelidadas de feminazis, de extremistas, de terroristas.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário