(…)
O
abuso pela banca é a triste sina que nos está marcada na pele como um ferrete
de servidão.
(…)
Eles
voltaram e, protegidos pela internacionalização do capital — dos quatro
principais bancos três são estrangeiros —, fazem o que querem.
(…)
E,
como conhecem o Estado português, usam de um poder que nos seus próprios países
não lhes é permitido.
(…)
Portugal
é o segundo país da zona euro com taxas mais baixas para os depósitos e o
oitavo com taxas mais altas para os empréstimos.
(…)
Sorte
a nossa, o mercado é mais esperto em Portugal do que na Alemanha, França ou
Espanha.
(…)
“Ajudar
as famílias”, como compreendeu, é esse “mercado a trabalhar” com um diferencial
de juros superior ao dos países europeus.
(…)
Sabendo
que os lucros da banca foram em Portugal de €2,5 mil milhões em 2022 e esse
valor será largamente ultrapassado em 2023, a medida da “ajuda às famílias” está
registada.
(…)
[Vitor
Bento, como presidente da Associação Portuguesa de Bancos sentiu-se à vontade
para] defender a política de redução salarial do Governo.
(…)
Isto é
maravilhosamente cristalino: havendo inflação, efeito misterioso da
cólera divina e sendo, por definição, “incontornável”, tratem de “passar a
perda para outros”, de modo que “uns se conseguem salvar à custa de outros” —
desde que os salários não aumentem na proporção da inflação.
(…)
Logo
os “outros” são essa parte tão alargada da população que está amarrada à banca
em condições inegociáveis.
(…)
Chamar
a isto “mercado a trabalhar” é uma expressão curiosa.
(…)
Alguém
poderia lembrar-se de dizer que é simplesmente a imposição do poder absoluto.
(…)
“Passar
a perda para os outros” tem ainda um outro significado poético: os
administradores destes bancos receberam um aumento dos bónus de 93% referente a
2022 (este ano será melhor).
(…)
Os
administradores conseguiram não só impor o aumento desse diferencial de juros
como têm a anuência das autoridades.
(…)
O
Banco de Portugal é um túmulo e o Governo invetiva os selvagens que duvidam do
efeito salvífico de lucros tão especiais.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
O
filme [Rosinha e Outros Bichos do Mato]
propõe-se contribuir para o rompimento da ideia lusotropicalista, profundamente
arreigada na sociedade portuguesa e manipulada pela extrema-direita, de que
“Portugal não é um país racista”.
(…)
Como
pode, em 2023, com tudo o que se tem debatido sobre representatividade e lugar
de fala, ter dispensado integrar na sua direção pessoas racializadas com
reflexão sobre estas coisas?
(…)
Talvez
por isso, o filme, que pretende ser uma crítica à imagem colonial, exponha
repetidamente durante quase duas horas fotografias e vídeos de Rosinha e de
outras mulheres negras desnudas, numa saturação incompreensível, sem cuidado em
tapar-lhes o corpo.
(…)
Por
vezes na crítica ao colonialismo (neste filme, como em várias exposições sobre
fotografia colonial dos últimos anos), há a crença de que expondo sem pudor a
violência se consegue suscitar da parte de quem vê uma desconstrução crítica
daquela violência.
(…)
O
filme só consegue olhar as pessoas expostas na “aldeia indígena” enquanto
imagens, categorias construídas pelo Estado Novo, não como pessoas.
(…)
O que [o
Estado Novo] queria realmente era as ditas “indígenas” a quem legitimamente se
podia impor o trabalho e o sexo forçado.
Cristina Roldão, “Público” (sem link)
A
única razão atendível para o cerco que está a ser feito aos fumadores é o
malefício que o ato de fumar provoca a terceiros.
(…)
É assinalável a discrepância no tratamento comparativamente a
outros comportamentos que ameaçam a saúde pública.
(…)
[Ao
persuadir-se uma pessoa a não fumar] nota-se uma
desconsideração pela inteligência de quem fuma ou está tentado a fumar.
(…)
A discussão em torno das políticas antitabagismo é
fundamental, mas estéril.
(…)
O
caminho que será seguido é o de restringir os locais onde se pode fumar e onde
se pode vender tabaco e, de um modo geral, o de dificultar a vida de quem fuma.
(…)
Não é uma invenção nossa, é a mera transposição de
orientações e diplomas europeus.
(…)
É muito simples: está em causa acabar de vez com qualquer
permissividade de fumar. Atingimos um patamar radical.
(…)
A
saúde pública é de facto importante, mas é assustador imaginar uma sociedade em
que, em nome dela, exigimos que os outros abdiquem de fazer o que lhes dá
prazer ou alegria e abdicamos de princípios fundamentais.
(…)
Acontece
que a vida sem o outro não é grande coisa e é aqui que o homem moderno só vê
uma solução: impor ao outro que as suas inevitáveis falhas não incomodem.
(…)
A intolerância radical ao fumo é a perfeita fantasia liberal
ou capitalista de inspiração anglo-saxónica.
(…)
Contém uma lógica de ver no outro um potencial inimigo e
agressor, que tem raízes no protestantismo.
(…)
É pura e simplesmente a imposição de quem está numa posição
em que pode impor.
(…)
Não há nada de revolucionário em transpormos legislação
europeia que contém preceitos que não refletem a nossa cultura.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
As críticas à incapacidade de definição
na liderança de Luís Montenegro apontam às pedras no caminho, aquelas que
muitos na direcção de Montenegro teimam em não querer retirar pela indefinição
das políticas de alianças com a extrema-direita.
(…)
O neoliberalismo que grassa na visão
passista do PSD, para além de um tiro no pé da actual liderança, é um D.
Sebastião sem Alcácer-Quibir.
(…)
O assomo de PPD que ainda existe no PSD é
uma espécie em vias de extinção que conviria conservar.
(…)
Pinto Balsemão não afasta apenas a
extrema-direita do caminho social-democrata, afasta também as coligações com o
PS.
(…)
A dificuldade que o PSD tem tido em ser
social-democrata é semelhante à dificuldade que o partido socialista denota em
ser socialista.
(…)
Ao fazerem do PS o diabo no centro da
sala de Estado, não prestam apenas vassalagem à memória da iconografia
passista. Vão mais longe.
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