sexta-feira, 12 de maio de 2023

CITAÇÕES

 
A conjugação entre os lucros da banca e a generosidade dos prémios dos administradores destapou um dos nossos fantasmas nacionais.

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O abuso pela banca é a triste sina que nos está marcada na pele como um ferrete de servidão.

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Eles voltaram e, protegidos pela internacionalização do capital — dos quatro principais bancos três são estrangeiros —, fazem o que querem.

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E, como conhecem o Estado português, usam de um poder que nos seus próprios países não lhes é permitido.

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Portugal é o segundo país da zona euro com taxas mais baixas para os depósitos e o oitavo com taxas mais altas para os empréstimos.

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Sorte a nossa, o mercado é mais esperto em Portugal do que na Alemanha, França ou Espanha.

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“Ajudar as famílias”, como compreendeu, é esse “mercado a trabalhar” com um diferencial de juros superior ao dos países europeus.

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Sabendo que os lucros da banca foram em Portugal de €2,5 mil milhões em 2022 e esse valor será largamente ultrapassado em 2023, a medida da “ajuda às famílias” está registada.

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[Vitor Bento, como presidente da Associação Portuguesa de Bancos sentiu-se à vontade para] defender a política de redução salarial do Governo.

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Isto é maravilhosamente cristalino: havendo inflação, efeito misterioso da cólera divina e sendo, por definição, “incontornável”, tratem de “passar a perda para outros”, de modo que “uns se conseguem salvar à custa de outros” — desde que os salários não aumentem na proporção da inflação. 

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Logo os “outros” são essa parte tão alargada da população que está amarrada à banca em condições inegociáveis.

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Chamar a isto “mercado a trabalhar” é uma expressão curiosa.

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Alguém poderia lembrar-se de dizer que é simplesmente a imposição do poder absoluto.

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“Passar a perda para os outros” tem ainda um outro significado poético: os administradores destes bancos receberam um aumento dos bónus de 93% referente a 2022 (este ano será melhor). 

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Os administradores conseguiram não só impor o aumento desse diferencial de juros como têm a anuência das autoridades.

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O Banco de Portugal é um túmulo e o Governo invetiva os selvagens que duvidam do efeito salvífico de lucros tão especiais.

Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)

 

O filme [Rosinha e Outros Bichos do Mato] propõe-se contribuir para o rompimento da ideia lusotropicalista, profundamente arreigada na sociedade portuguesa e manipulada pela extrema-direita, de que “Portugal não é um país racista”.

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Como pode, em 2023, com tudo o que se tem debatido sobre representatividade e lugar de fala, ter dispensado integrar na sua direção pessoas racializadas com reflexão sobre estas coisas?

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Talvez por isso, o filme, que pretende ser uma crítica à imagem colonial, exponha repetidamente durante quase duas horas fotografias e vídeos de Rosinha e de outras mulheres negras desnudas, numa saturação incompreensível, sem cuidado em tapar-lhes o corpo.

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Por vezes na crítica ao colonialismo (neste filme, como em várias exposições sobre fotografia colonial dos últimos anos), há a crença de que expondo sem pudor a violência se consegue suscitar da parte de quem vê uma desconstrução crítica daquela violência.

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O filme só consegue olhar as pessoas expostas na “aldeia indígena” enquanto imagens, categorias construídas pelo Estado Novo, não como pessoas.

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O que [o Estado Novo] queria realmente era as ditas “indígenas” a quem legitimamente se podia impor o trabalho e o sexo forçado.

Cristina Roldão, “Público” (sem link)

 

A única razão atendível para o cerco que está a ser feito aos fumadores é o malefício que o ato de fumar provoca a terceiros.

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É assinalável a discrepância no tratamento comparativamente a outros comportamentos que ameaçam a saúde pública.

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[Ao persuadir-se uma pessoa a não fumar] nota-se uma desconsideração pela inteligência de quem fuma ou está tentado a fumar.

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A discussão em torno das políticas antitabagismo é fundamental, mas estéril.

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O caminho que será seguido é o de restringir os locais onde se pode fumar e onde se pode vender tabaco e, de um modo geral, o de dificultar a vida de quem fuma.

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Não é uma invenção nossa, é a mera transposição de orientações e diplomas europeus. 

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É muito simples: está em causa acabar de vez com qualquer permissividade de fumar. Atingimos um patamar radical.

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A saúde pública é de facto importante, mas é assustador imaginar uma sociedade em que, em nome dela, exigimos que os outros abdiquem de fazer o que lhes dá prazer ou alegria e abdicamos de princípios fundamentais.

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Acontece que a vida sem o outro não é grande coisa e é aqui que o homem moderno só vê uma solução: impor ao outro que as suas inevitáveis falhas não incomodem.

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A intolerância radical ao fumo é a perfeita fantasia liberal ou capitalista de inspiração anglo-saxónica.

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Contém uma lógica de ver no outro um potencial inimigo e agressor, que tem raízes no protestantismo.

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É pura e simplesmente a imposição de quem está numa posição em que pode impor. 

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Não há nada de revolucionário em transpormos legislação europeia que contém preceitos que não refletem a nossa cultura.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

As críticas à incapacidade de definição na liderança de Luís Montenegro apontam às pedras no caminho, aquelas que muitos na direcção de Montenegro teimam em não querer retirar pela indefinição das políticas de alianças com a extrema-direita.

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O neoliberalismo que grassa na visão passista do PSD, para além de um tiro no pé da actual liderança, é um D. Sebastião sem Alcácer-Quibir.

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O assomo de PPD que ainda existe no PSD é uma espécie em vias de extinção que conviria conservar. 

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Pinto Balsemão não afasta apenas a extrema-direita do caminho social-democrata, afasta também as coligações com o PS.

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A dificuldade que o PSD tem tido em ser social-democrata é semelhante à dificuldade que o partido socialista denota em ser socialista.

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Ao fazerem do PS o diabo no centro da sala de Estado, não prestam apenas vassalagem à memória da iconografia passista. Vão mais longe.

Miguel Guedes, JN


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