(…)
António Costa, mais fino do que o seu advogado, aparte algum
protesto que então esboçou em prol do governante cuja queda desejava, jamais
repetiu essa tese sobre a indispensabilidade do PEC IV e por razões evidentes.
(…)
Não queria que o PS fosse visto como o partido que cortava as
pensões e, ao assinar a ‘geringonça’, que foi o programa anti-PEC,
comprometeu-se a fazer o contrário do que o PS antes promovera.
(…)
A recuperação da questão PEC é somente uma extravagância de quem
detestou a ‘geringonça’.
(…)
O chumbo do PEC IV teve como consequência “trazer a troika”,
escreve Sousa Tavares, pelo que o BE devia ter aprovado o programa, e disso me
acusa.
(…)
Descontando a bizarria de pensar que um partido deve romper o seu
compromisso com os eleitores e aprovar o que garantiu que combateria.
(…)
Renegasse o BE o seu mandato e o PEC era chumbado na mesma.
(…)
Vale a pena perguntar qual a razão pela que o Governo nunca
discutiu esses PEC com a esquerda.
(…)
Foi por saber que com a esquerda não havia negociação possível de
uma estratégia socialmente tão cruel.
(…)
É este PEC que Sousa Tavares acha que a esquerda tinha de aprovar.
(…)
A mais intrigante [contradição] foi ver o Governo PSD-CDS a
assinar a venda da EDP com um membro do Comité Central do PC chinês.
(…)
Não menos curioso é ver agora Miguel Sousa Tavares, fervoroso
defensor da TAP pública, a dar por certo que devia ter sido vendida em 2011. A
coerência tem dias.
(…)
Os mercados financeiros sabiam da fragilidade da dívida portuguesa
e, como o BCE se recusava a apoiá-la, tinham luz verde para cobrar qualquer
juro.
(…)
Cria alguma vergonha alheia que pessoas que vivem no mundo possam
alegar que os mercados se encheriam de piedade e protegeriam as contas de
Portugal.
(…)
Mas poderia o PEC IV salvar-nos de um programa como o da troika?
(…)
As medidas laborais seriam as já previstas pelo PS.
(…)
Se o advogado do PEC IV consultasse o arquivo teria o desgosto de
saber que o Governo de então derrubou a sua tese.
(…)
Escrever sobre o PEC de há 12 anos para distrair a degradação
política de hoje dá nisso [falta de memória dos outros].
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Entre
2004 e 2018, cerca de mil crianças ficaram
órfãs. Em 2022, até novembro, 21 menores perderam a mãe em contexto de violência
doméstica.
(…)
Cerca
de um terço dos homicidas suicida-se e os demais são presos. Essas crianças são
deixadas sem mãe nem pai. O que lhes acontece?
(…)
Uma parte significativa é cuidada pela família,
principalmente pelos avós.
(…)
Os cuidadores serão pessoas idóneas.
(…)
No
entanto, as necessidades destas crianças e destes cuidadores não se esgotam nos
perigos previstos pela Lei de Crianças e Jovens em Risco.
(…)
Estes avós nem sempre possuem as condições
necessárias para cuidar de crianças em tempo integral.
(…)
Em
2021, para fazer face a uma das muitas necessidades identificadas, foram
criadas as Respostas de Apoio Psicológico para Crianças e Jovens
Vitimas de Violência Doméstica (RAP).
(…)
Segundo
a Comissão para a Cidadania e a Igualdade, desde a data de concretização do
projeto, foram atendidas e acompanhadas 9977 crianças e jovens vítimas da
violência doméstica.
(…)
Um
outro projeto, este promovido pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e
Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) e ainda em fase de implantação, é o projeto A
Teu Lado.
(…)
Os cuidadores, frequentemente os avós,
permanecem, no entanto, ainda esquecidos.
(…)
É fundamental que sejam criados planos de apoio
às famílias/cuidadores.
(…)
É preocupante que muitos não conheçam os seus
direitos e não recebam apoio das instituições responsáveis.
(…)
É
imprescindível que o Estado assuma a responsabilidade pelo desenvolvimento
integral das crianças e famílias vítimas de homicídio em violência doméstica.
(…)
O
suporte às famílias deve ser coerente e contínuo, desde o momento do homicídio
até à autonomia das crianças, com especial atenção aos avós e cuidadores que
frequentemente assumem essa responsabilidade.
(…)
É
fundamental que sejam disponibilizadas estruturas de aconselhamento, apoio
financeiro e psicológico, tanto aos cuidadores como às crianças e jovens
vítimas do homicídio em violência doméstica, até que atinjam a maioridade.
(…)
Se
negligenciarmos essas famílias e cuidadores, estaremos a abandonar as crianças
que são vítimas de homicídio em situações de violência doméstica.
António Castanho, “Público” (sem link)
António Costa escolheu ser
aquele que se protege de um temporal com um pequeno chapéu de chuva chamado
Galamba.
(…)
Só um particular sentimento
de inimputabilidade face ao temor justifica que António Costa insista em
arrastar o seu Governo para isto, passeando-o num lamaçal sem fundo à vista.
(…)
Entre a hierarquia férrea
da chefe de gabinete Eugénia Correia e o novo espírito de colaboração de João
Galamba, sobra um problema de comunicação dificilmente explicável.
(…)
Os livros de História só
deixarão cair umas linhas sobre a total irrelevância deste assunto [subtracção
de um computador propriedade do Estado, por parte de um ex-funcionário
acabado de ser demitido] no dossier da TAP.
(…)
O ambiente de
"saloon" vivido no Ministério não é dignificante, mas por ter sido
conhecido e relatado pela voz de João Galamba acaba por se elevar a tesourinho
de Estado.
O
número de indivíduos com património líquido elevado (UHNWI, na sigla em inglês)
deverá aumentar 28,5% nos próximos cinco anos e passar dos 579.625 de 2022 para
744 mil em 2027, de acordo com o último relatório da consultora imobiliária Knight Frank.
(…)
Em
Abril, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, (…), alertava o mundo para o facto de a pobreza estar hoje maior
do que estava há quatro anos e de a fome ter subido e voltado aos níveis de
2005.
(…)
Ao
mesmo tempo, a desigualdade no mundo nunca foi tão grande: apenas 26 pessoas
têm o mesmo nível de riqueza de metade da população mundial.
(…)
Os
ricos continuam a acumular fortuna neste mundo ocidental que voltou a crescer
ao ritmo pré-pandemia, enquanto às nações de rendimento médio se negam medidas
de alívio dos encargos da dívida e se recusam ajudas financeiras.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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