(…)
Montenegro apoiou todos os cortes de pensões quando a direita
governava.
(…)
O crédito do PSD, que desfalcou os reformados da última vez
que esteve no poder, não é grande no que toca a pensões.
(…)
A proposta não era o que, a alguns, pareceu; muito menos o
que tantos comentadores comentaram.
(…)
A medida diz respeito a uma prestação de combate à pobreza de
que beneficiam apenas 134 mil pessoas (dados de outubro de 2023).
(…)
Na verdade, [Montenegro] está a falar de bem menos de uma
décima parte desse universo [de 2 milhões de pensionistas].
(…)
As regras do Complemento Solidário para Idosos e o PSD já
disse que não quer alterá-las.
(…)
Na passada quinta-feira, o Parlamento votou uma proposta do Bloco de Esquerda para a eliminar o rendimento dos
filhos dos cálculos para exclusão do acesso ao Complemento Solidário para
Idosos. Mais uma vez rejeitada pelo PS, também não teve o voto do PSD.
(…)
Mantém-se, pois, um critério injusto que não só priva idosos
pobres do acesso ao complemento como os humilha, colocando-os sob a tutela
simbólica do rendimento dos filhos.
(…)
Um outro truque do PSD foi anunciar um valor de referência
para daqui a mais de quatro anos. Montenegro apregoa uma proposta sobre o CSI para
2028.
(…)
A manter-se o ritmo do aumento atual, em 2028 [o Complemento
Solidário para Idosos] chegaria aos 800 euros, um valor quase igual à grande
medida de Montenegro...
(…)
Em 2028, os 820€ deverão estar muito aquém do salário mínimo
nacional.
(…)
Só truques baratos.
(…)
É tudo fumo de campanha para tentar apagar da cabeça dos
pensionistas a má memória da direita no poder.
José Soeiro, “Expresso” online
Essa reivindicação [do PSD de partido moderado] faz parte dos
discursos das grandes figuras do partido, com destaque para Luís Montenegro e
Carlos Moedas.
(…)
Ao mesmo tempo assistimos à radicalização do partido através
da aproximação do seu discurso ao da extrema-direita.
(…)
Com o
crescimento da extrema-direita e a previsão de que sem essa força política a
direita não chegaria ao poder, verificámos uma estratégia, por parte do PSD, de
estender a classificação de extremistas às forças políticas de esquerda.
(…)
Estabeleceu-se uma igualdade e um paralelismo, puramente
inventados, entre o Chega, à direita, e Bloco e PCP à esquerda.
(…)
O
objetivo era claro: legitimar um possível entendimento à direita que viesse a
integrar o Chega e banalizar a existência de um partido racista e xenófobo no
sistema democrático.
(…)
Está
normalizado na comunicação política que existe uma extrema-esquerda em Portugal
com representação parlamentar e que essas forças políticas são tão
antidemocráticas como o Chega.
(…)
Os
partidos mais à esquerda passaram a ter de se defender de uma acusação de extremismo,
que não lhes assenta.
(…)
O PSD faz parte deste delírio e este fim de semana Luís
Montenegro ainda o agudizou.
(…)
O Governo de António Costa seguiu algumas políticas que eram
tipicamente do centro-direita, como a apologia das “contas certas.”
(…)
As propostas que o PSD naturalmente apresentaria já foram
concretizadas pelo PS.
(…)
Por um
lado, [o PSD] está cada vez mais radicalizado à direita, mas, ao mesmo tempo,
faz promessas dignas de um partido de esquerda.
(…)
A
moderação do PSD parece assentar numa média que se pode estabelecer entre a
radicalização do partido à direita e a apresentação de propostas tipicamente de
esquerda.
(…)
O desespero pelo poder não é bom conselheiro.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
[Na corrida interna para a liderança do PS], Pedro Nuno
Santos concentra-se em Luís Montenegro, ignorando o seu adversário interno.
(…)
[A direita tem] a forte suspeita de que (o)vai
enfrentar [Pedro Nuno Santos] e quer, até com a ajuda do adversário interno,
aproveitar este momento para lhe colar o rótulo de “radical”.
(…)
Num país onde um partido de centro-direita filiado no PPE se
chama “social democrata” (…), é natural que um legitimo social democrata seja considerado radical.
(…)
Se fosse radical bem sabemos que nunca venceria as eleições
internas do PS, um partido firmemente ancorado, para o bem e para o mal, no
regime.
(…)
Todos os socialistas sabem que devem a esses entendimentos [com
Bloco e PCP] o regresso ao poder, em 2015, e poucos têm falta de vergonha que
chegue para cuspir no prato onde comeram.
(…)
Além da geringonça ter sido o governo mais bem avaliado pela
população neste século, a maioria dos portugueses interiorizou (…) que
os dois partidos não representam qualquer risco para a democracia.
(…)
Estas coisas fazem-se de experiência, não de palavras.
(…)
É mais provável que os problemas de Pedro Nuno Santos venham
de alguns traços de personalidade.
(…)
Partindo do princípio (sempre arriscado) que Pedro Nuno
Santos vence as diretas, o seu maior problema é mesmo se vencer as legislativas.
(…)
Mas não estou a ver como um PSD que não fique em primeiro
fará uma geringonça de direita com o Chega, depois de tudo o que Montenegro
disse.
(…)
Repito que considero uma solução de bloco central, mesmo
informal – um governo do PSD sustentado pelo PS ou vice-versa –, uma catástrofe
política.
(…)
Afastaria o Chega do poder por uns meses, mas dar-lhe-ia a
liderança da oposição.
(…)
Pedro Nuno Santos a sustentar um governo de Montenegro com ou
sem a IL é tão absurdo como Luís Montenegro a sustentar um governo de Pedro
Nuno Santos com ou sem o resto da esquerda.
(…)
Podemos chegar ao absurdo do melhor para Pedro Nuno Santos
ser perder por pouco, ficar a liderar a oposição.
(…)
A não ser que aconteça qualquer coisa extraordinária,
viveremos alguns anos de instabilidade.
(…)
Ao contrário do que pensávamos, não temos um Presidente à
altura destes tempos.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
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