sexta-feira, 24 de novembro de 2023

CITAÇÕES

 
As estratégias do PS e do PSD basearam-se sempre no pressuposto de que essa estrutura [forma de implantação ou representação social] era estável.

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A alternância teve a capacidade de organizar a política, subordinando todo o regime, dispensando até a apresentação de alternativas.

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Os dois principais partidos orgânicos entenderam sempre que tinham o direito a governar por imposição paraconstitucional e que os que neles faziam carreira mereciam gratidão pública.

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Na erosão do regime, pensam que ganharão eleições com a magia do passado e enganam-se.

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Essa forma de crise de regime não é exceção nos novos tempos. Pelo contrário, é a norma, e convém perceber a razão.

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Não haverá regime político, como os conhecemos desde o fim da Segunda Guerra, que resista a esta transformação, que torna a bufonaria de extrema-direita o polo aglutinador da direita.

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O desaparecimento dos partidos orgânicos tornou-se, por isso, uma das expressões das crises de regime.

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A depressão do regime  (…) é sobretudo a expressão da sua incapacidade em responder à vida das pessoas, e assim caem esses partidos.

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[No caso do PS] primeiro eleitor-tipo é o fiel dos ­fiéis, quem votaria sempre no partido.

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O segundo eleitor-tipo é o que escolhe o PS por medo dos adversários e, em particular, da aliança do PSD com a extrema-direita.

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O terceiro tipo é o que exige uma visão para o país, que escolhe entre alternativas programáticas e que se orgulha de ter votado em vários partidos, consoante a sua consciência.

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Nas eleições anteriores, o PS contou com o primeiro tipo de eleitorado, fez tudo para mobilizar o segundo (…) e conseguiu o terceiro com a garantia da estabilidade.

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Dar-se-ão conta os seus candidatos atuais das perdas em qualquer destes eleitorados?

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Para o terceiro, ter sido o Governo a demitir-se e a alimentar intrigas e questiúnculas, escolhendo o Presidente como alvo, mostra que o partido não é confiável.

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Para o segundo, o facto é que não houve qualquer barreira à extrema-direita, que cresceu como nunca com este Governo. 

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O problema maior do PS, no entanto, é que parte do primeiro tipo de eleitorado o abandonou. 

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Metade do eleitorado de Ventura poderá ser dos fiéis que sempre votaram PS.

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Eis uma demonstração triste de como a crise do regime foi criada pelo desprezo social que a maioria absoluta exibiu.

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Nenhum subsídio responde a pessoas fartas de esperar, que sabem que o seu ordenado não paga nem a casa nem os dias, ou que descobrem que há envelopes de dinheiro escondidos num gabinete do palácio.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

A extrema-direita continua a granjear figuras de proa que qualquer “reality show” não desdenharia.

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A voz dos anti-sistema perdeu razoabilidade e pensamento crítico, esvaziou-se no básico e centrou-se na atitude visceral.

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A grosseria venceu e vale votos e os patos-bravos já não são aves raras.

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Os acontecimentos nos EUA e Brasil não funcionaram como alarmes, antes como faróis.

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E não foram os extremistas que se modelaram ao centro, foi o centro que se abriu aos extremos.

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O populismo tem criadores, fundadores e paternais alquimistas. E poucos são os bons radicais que nos salvam dos extremistas.

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Nenhuma erva daninha se detém perante a demagogia e o empobrecimento da terra.

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Abraçar o discurso da extrema-direita, esperando que se moderem, eis um mantra repetido que não resiste à memória de empoderamento de Passos Coelho a André Ventura em Loures.

Miguel Guedes, JN

 

Quando se diz algo absolutamente razoável sobre a insustentabilidade de um sistema dependente do crescimento a todo o custo, a recepção violenta ou pedante (pelas elites, comentadores políticos, etc.) é sinal de que voltamos ao estilo da Idade Média.

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Independentemente do dogmatismo vigente, o facto é que não podemos continuar a aumentar o PIB para sempre.

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paradoxo de Jevons verifica-se sempre, desde que foi identificado no início da Revolução Industrial, e é o que demonstra a impossibilidade crónica do crescimento verde.

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E esta dependência de fluxos materiais e energéticos cada vez maiores implica uma destruição da Natureza na mesma proporção

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Continuar a acreditar que conseguimos “inovar tecnologicamente” as soluções para as múltiplas manifestações deste imenso problema é não perceber a natureza desse mesmo problema.

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Neste novo [negacionismo], (ainda) não se acredita que a destruição natural sem precedentes que estamos a viver seja provocada pela obsessão do crescimento económico exponencial.

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O mundo como o conhecemos, e como se materializa nas nossas vidas diárias, está prestes a sofrer uma redução imensa na sua capacidade de aceder às quantidades de energia, materiais e estabilidades essenciais à sua continuação.

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[Os novos negacionistas] têm uma visão de progresso monolítica, subjugada ao imperativo do crescimento económico, fora da qual tudo para eles é "um inferno”.

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Não contemplam qualquer possível transição, qualquer via de desenvolvimento alternativo. 

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Não entendem que o tal "fim do mundo" se refere ao aproximar do "fim de um mundo", i.e. de um modo de viver: o nosso.

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estão 100% errados, porque isto foi algo que aconteceu, literalmente, a 100% das civilizações da história da humanidade.

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E nas 100% das vezes que isto aconteceu, as suas elites não reagiram: o que as tornava e mantinha como elites era o sistema em que viviam, mesmo quando este se desmoronava debaixo dos pés.

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Hoje, com o velho mundo a desmoronar, surgem já várias alternativas sistémicas, económicas, democráticas, agrícolas, regenerativas, tecnológicas e em tantas outras vertentes.

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O que não podemos – e não podemos mesmo – é deixar tudo na mesma, "nas mãos" de um nível de comentário político miserável, de elites políticas e económicas focadas meramente em lucros e eleições, e tudo dependente de uma premissa económica impossível.

Guilherme Serôdio, “Público” (sem link)


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