(…)
Cada
guerra tem a sua história, mas guerra é isto: choque e pavor.
[Choque
e pavor] é o que se está a viver em Gaza, com a particularidade sinistra
de ser um enclave onde a população bombardeada está encurralada pelos muros de
uma prisão.
(…)
Num
discurso dos últimos dias, Netanyahu incitou os seus soldados a procederem
segundo o princípio bíblico da vingança contra a tribo rival de Amaleque,
fundada por um trineto de Abraão.
(…)
Os
intérpretes bíblicos descrevem uma longa rivalidade entre israelitas e
amalequitas, que viria dos tempos de Moisés.
(…)
Netanyahu
convoca a autoridade religiosa para justificar a morte ou expulsão daquele povo
[de Gaza], o que a selvajaria não alcançou nem em Guernica, nem em Mariupol,
nem em Alepo.
(…)
O
ministro da Herança sugeriu o uso da bomba nuclear, que curiosamente Israel
nunca reconheceu oficialmente que possuísse.
(…)
O
ministro das Finanças garante que Gaza nunca será independente.
(…)
O
ministro da Agricultura gaba-se da imposição de uma segunda Nakba, o nome que
tomou o êxodo palestiniano depois da guerra de 1948.
(…)
Em
todo o caso, o Governo israelita não deixa qualquer dúvida, trata-se, portanto,
de começar a expulsar dois milhões de palestinianos daquele território, impondo
a paz dos cemitérios.
(…)
Que
viva a morte, como gritavam os fascistas de Franco antes e depois de Guernica.
(…)
[As
sucessivas declarações da diplomacia norte-americana e europeia constituem] uma
autorização irrestrita a bombardear ou ocupar hospitais ou a destruir o
território, provocando milhares de mortes de crianças, entre tantas outras
vítimas.
(…)
Obama
mostrou-se arrependido não se sabe bem de quê, e nenhum desses discursos muda a
realidade da chacina nem se propõe interrompê-la.
(…)
O
facto é que o falhanço tem 30 anos, o tempo das garantias dos Acordos de Oslo,
nunca cumpridos.
(…)
Não há
Estado Palestiniano e as autoridades políticas internacionais, com a única
exceção de Guterres, querem enterrar essa promessa nos escombros de Gaza e nos
refúgios de uma Cisjordânia.
(…)
Estamos
a assistir à comprovação de que o horror não tem limites.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
As Universidades são espaços de discussão, liberdade e
reinvenção, ou não são Universidades.
(…)
Se correr tudo bem, são também espaços de conflito.
(…)
Nos
últimos dias, algumas Faculdades portuguesas foram ocupadas por estudantes que
lutam contra a crise climática, um movimento que é mundial
(…)
São
estas e estes estudantes que vão estar cá, nesse mundo, e isto não é um detalhe
para quem tem 20 anos.
(…)
Várias
direcções de Faculdades têm respondido a este movimento chamando a polícia para
retirar os estudantes das suas instalações e detê-los.
(…)
Aconteceu
na FCSH — Universidade Nova de Lisboa, no ISCTE, na Faculdade de Belas Artes de
Lisboa (onde a polícia chegou a ser chamada, tendo a direcção entretanto
recuado) e na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.
(…)
[Chamar
a polícia] é dizer à comunidade estudantil que o que dela se espera é
obediência e nenhum questionamento – se sair desse plano, responde-se com
autoridade e força bruta.
(…)
[As e
os estudantes] estão a tentar que se discuta colectivamente um problema que é
de toda a gente e estão a fazê-lo nos seus espaços.
(…)
O sentido de urgência que transmitem não é simbólico: a
urgência existe mesmo.
(…)
A
Ciência anda a avisar há muitos anos e o planeta não se compadece com as
orelhas moucas de governos que fingem que ainda temos tempo.
(…)
Muitas [Faculdades] preferem responder com repressão policial.
(…)
É
lamentável, condenável e revelador de uma ideia de Faculdade que acompanha na
perfeição o neo-liberalismo selvagem que tomou conta do mundo.
(…)
Num
momento em que, no país e no mundo, ideias e políticas anti-democráticas e
autoritárias crescem e ameaçam direitos e liberdades que há muito temos como
garantidos, a repressão feita às estudantes e o silenciamento forçado da
comunidade universitária dá passos num sentido particularmente perigoso.
Carta aberta de 350 signatários, “Público” (sem link)
De
todos os poderes que entregamos num Estado de direito, o poder de exercer
autoridade com recurso ao uso da força é o mais radical e o que exige maior
confiança em quem o recebe.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
A inação é já em si uma decisão, uma escolha moral,
nomeadamente em situações de opressão.
(…)
Lembremo-nos
das palavras do Prémio Nobel da Paz Desmond Tutu, quando defendia que ser
neutro em situações de injustiça significa escolher o lado do opressor.
(…)
O que
é urgente e o que pode esperar? Se tivermos como princípio fundamental a preservação
da vida humana, e nomeadamente de inocentes inquestionáveis como as crianças, a
prioridade é a sua proteção.
(…)
Se,
por exemplo, António Guterres parece acreditar nos números fornecidos pelo
Hamas, pedindo repetidamente e “em nome da Humanidade” um cessar-fogo imediato,
é porque nos outros ataques perpetrados por Israel os números coincidiam com os
números oficiais apurados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação
de Assuntos Humanitários.
(…)
A inação por causa da incerteza de números é neste momento
mais grave do que agir por excesso de prevenção.
(…)
Quem
constata que há um risco ou que já estão em curso crimes contra a humanidade já
apela ao cessar-fogo; quem ainda tem dúvidas está à espera de quê?
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
São armas os equívocos e os barões assinalados nas idas e
voltas, rocambolescas, de todo o processo que conduziu ao pedido de demissão de
António Costa. Armas contra a democracia, o Estado de direito e a separação de
poderes.
(…)
Não deixa de ser singular que o anterior Governo de António
Costa caia pela não aprovação do Orçamento do Estado de 22 e antes dele. E que
o agora demissionário Governo de maioria absoluta caia apenas e só após a
aprovação do Orçamento do Estado para 24.
(…)
A política acelera em forma de tufão que tudo varre mas não
parece mudar o sentimento do país sobre quem o pode governar em segurança
contra intempéries.
Sem comentários:
Enviar um comentário