(…)
A
questão é que escolher Galamba (…) é a expressão quimicamente pura da
maioria absoluta.
(…)
O
stand-up de Ventura é ato de reles amador comparado com o que Costa fez neste
debate.
(…)
Galamba
foi mantido no Governo pela única razão de que é preciso alguém totalmente
desprovido de autoridade para concluir a misteriosa privatização da TAP.
(…)
Já com
dois fracassos monumentais [na questão da venda da TAP] (…) agora
que a empresa começa a dar lucro, permitindo devolver o esforço financeiro que
a resgatou e assegurar tanto objetivos estratégicos quanto uma renda para o
Estado, a privatização em curso tornou-se uma corrida de favores.
(…)
O
Governo parece não ter a menor ideia sobre as condições.
(…)
A
bofetada de Marcelo (…) é mais do que certeira e, vinda de alguém que pugna
pela privatização.
(…)
Faz a
pergunta evidente: o que é que estão a fazer?
(…)
Creio,
no entanto, que esta encenação tinha um objetivo colateral importante para o
Governo: afogar a perceção do problema do SNS num mar de banalidades noticiosas.
(…)
O que era preciso era distrair a opinião
pública para o irritante maior, o descarrilar do plano de desmantelamento do
SNS.
(…)
Ora,
se há algo a que o Governo é sensível, é ao voto dos idosos, o sector da
população que mais se preocupa com a fila no centro de saúde e com o caos das
urgências.
(…)
E como
há uma negociação sobre as carreiras de profissionais de saúde e os problemas
só se agravam, o Governo montou uma farsa.
(…)
Os
reformados olham agora para os serviços de saúde como o défice que mais ameaça
[as pensões].
(…)
O seu
projeto é arriscado: obrigar a massa de profissionais de saúde, ganhando pouco,
a acumularem horas extra para arredondarem o ordenado.
(…)
Os
profissionais têm sido forçados a trabalhar mais centenas de horas por ano.
(…)
O
esquema tinha duas vantagens para o Governo, degradava o SNS, empurrando os
utentes para o privado, e é barato.
(…)
É
indiscutível que faltam profissionais, caso contrário não fechavam urgências.
(…)
Os
profissionais não aguentam mais.
(…)
O
hospital só funciona com uma enorme sobrecarga horária.
(…)
As 35
horas por semana [como condição para um acordo] dependem de haver menos
afluência às consultas e urgências e de que se façam centenas de horas extra
por ano.
(…)
[Percebe-se]
a razão da insistência dos profissionais de saúde em recuperarem a qualidade do
SNS com carreiras que lhes permitam viver.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
Vivemos algo sem precedentes. A morte em Gaza é aqui, somos nós.
(…)
A Europa disse: nunca mais. E era mentira.
(…)
Estamos
a ver o genocídio ao minuto num campo de concentração. Milhões pelo mundo,
incluindo milhares de judeus, manifestam-se pelo cessar-fogo.
(…)
A UE ignora-os: só uma “pausa humanitária”.
(…)
Há 27 dias consecutivos que 2,3 milhões de pessoas sem saída
são bombardeadas em directo nos nossos telemóveis.
(…)
O
cessar-fogo é urgente. Mas mais. Uma força internacional de interposição em
Gaza. E um boicote global ao governo de Israel.
(…)
Muitos
judeus pelo mundo percebem isso com clareza, e no último shabat milhares
ocuparam a Grand Central Station de Nova Iorque com t-shirts Não Em Nosso Nome,
cartazes Nunca Mais É Para Todos.
(…)
Noutro lugar, uma rabina levanta-se, interrompendo Biden,
para apelar ao cessar-fogo.
(…)
Judeus
que estão a descolar o judaísmo da barbárie. A libertar as pessoas para o
protesto sem serem acusadas de anti-semitismo
(…)
Foi
Israel quem colou o judaísmo à barbárie. Ao massacrar os palestinianos, Israel
é o pior inimigo dos judeus, além do pior inimigo de si próprio.
(…)
O sionismo, claro, é muito anterior à fundação de Israel. O
seu texto-marco é de 1896.
(…)
Nunca foi tão urgente distinguir judaísmo e sionismo,
antisemitismo e antisionismo.
(…)
Os judeus de Nova Iorque que se descolam da barbárie também
se descolam do sionismo em muitos casos.
(…)
Não Dois Estados. Um Estado para toda a gente, sem supremacia
étnica ou religiosa.
(…)
O horror sem precedentes do Holocausto ficou inscrito na
própria Declaração de Independência de Israel.
(…)
[Israel] foi usando o Holocausto como arma. Enquanto
tirava cada vez mais direitos aos israelitas não-judeus. Racismo de Estado.
(…)
E qualquer europeu sabe como a culpa do Holocausto tem
paralisado a Europa.
(…)
Em Gaza, Israel está a bombardear o próprio argumento da sua
existência: proteger um conjunto de pessoas de serem perseguidas.
(…)
Ao massacrar o povo que ocupou, Israel leva-se a si mesmo
para um abismo irreversível.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
[Na lógica do indesmentível murro no estômago] é assim
que assistimos às imagens do brutal ataque do Hamas a 7 de Outubro ou das
inqualificáveis respostas de Israel, das quais o ataque ao campo de refugiados
em Jabalia.
(…)
Considerar que o Hamas usa os civis como escudo e
aceitar/ignorar que assim seja, bombardeando campos de refugiados com centenas
de crianças, destruindo hospitais ou igrejas, eis a confirmação da equivalência.
(…)
Não se exige só sangue-frio ao atacante, exige-se que não se
confunda com o agressor a não ser que queira assumir a sua pele.
(…)
A pretensiosa superioridade moral do Ocidente esvai-se assim.
(…)
Depois da percepção da brutalidade abjecta do Hamas, a forma
como Israel está a desbaratar a percepção das suas razões é preocupante mesmo
para os seus mais férreos aliados.
(…)
Toda a razoabilidade esbarra num sentimento de vingança que
Israel não consegue conter.
(…)
O cessar-fogo é o único lugar de civilização que poderá fazer
algo pela identidade das partes.
É pela educação e pela difusão do saber que os males serão
progressivamente eliminados.
Cristina Robalo Cordeiro, “Diário
de Coimbra” (sem link)
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