(…)
A liberdade de imprensa é um direito
constitucionalmente consagrado e legalmente protegido, é um dos pilares da
democracia.
(…)
É nos direitos daquele profissional que se
garantem os direitos de todos nós.
(…)
André Ventura já se retratou? O Chega já
assumiu as suas culpas? Os criminosos já foram identificados? O caso está a ser
investigado pela Justiça?
(…)
Como corolário da intervenção [de Ventura, a
semana passada na AR], ficou a mensagem clara de desvalorização do jornalismo e
da sua independência.
(…)
Claro que quem fomenta notícias falsas como
André Ventura faz, não defende nem o jornalismo, nem a liberdade.
(…)
Quem atacou o jornalista cometeu um crime, é
criminoso. Então André Ventura não denuncia este crime?
(…)
Já estamos na fase da proibição - por meios
físicos e violentos - do trabalho de jornalistas.
(…)
[Ventura] deve ser forçado a dar a cara pelo
ódio e pelas tempestades que semeia.
Pedro Filipe Soares, “Expresso” online
O
Chega continua a crescer. Votar no partido deixou de representar pertença a um
pequeno nicho ideológico. O mal já está feito.
(…)
Não vale de muito questionarmo-nos como foi
possível chegar até aqui.
(…)
As teorias são mais do que muitas.
(…)
Também ao nível das soluções para o problema
ninguém se entende.
(…)
É
justo que seja dito que é a própria lei que prevê a extinção dos partidos
políticos que difundam mensagem racista e xenófoba. O partido já deveria ter
sido ilegalizado.
(…)
Não há
consenso em relação às causas do crescimento do Chega e também não em relação às
soluções para o combater. E enquanto nos desentendemos, ele continua a crescer.
(…)
Qualquer
pessoa que não se oblitere ao exercício do pensamento consegue perceber que o
Chega não tem propostas para melhorar a vida dos portugueses. Mas quem tem a
intenção de votar Chega abdicou dessa análise crítica.
(…)
[O
Chega] ignora a tensão política entre pessoas de classes socioeconómicas
distintas, sobretudo a que existe entre os donos dos meios de produção e os
trabalhadores.
(…)
Em vez de encarar um conflito que é real, o
Chega intensifica potenciais conflitos irrelevantes.
(…)
As
pessoas gostam de ter inimigos e a quem culpar pelos seus infortúnios, o Chega
tem uma lista de inimigos em carteira para apresentar.
(…)
Os eleitores do Chega não gostam de ciganos,
nem de imigrantes, nem de homossexuais ou de pessoas transgénero.
(…)
Depois dessa limpeza [anunciada por Ventura] os
portugueses ficariam na mesma situação no que diz respeito aos seus problemas
fundamentais.
(…)
Na verdade ninguém vota Chega por causa das
propostas económicas, laborais ou fiscais.
(…)
Uma
parte do povo português está convencida de que expulsar imigrantes, retirar o
RSI às pessoas da comunidade cigana ou excluir as pessoas transgénero do acesso
ao SNS quando forem submetidas a intervenções de transição fará de Portugal um
país melhor.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
A
escola pública, para todos, republicana e democrática, tem que responder ao
interesse social, geral, sem descurar a resposta possível, individual, ao
interesse de cada um dos seus actores. J.C. [João Costa] foi apenas cuidador de
prosélitos e amigos.
(…)
As
mudanças feitas por revanche, imagem de marca da actuação política de J.C.,
correm o forte risco de sofrerem igual tratamento logo que o poder mude de
mãos.
(…)
O
processo de lavagem cerebral aos professores, desenvolvido por
franco-atiradores da treta “eduquesa”, de que J.C. foi obreiro principal,
resolveu administrativamente o problema do “insucesso escolar”.
(…)
A
memória foi duplamente vilipendiada por J.C., quer quando menosprezou as
pedagogias que valorizam essa função cerebral, quer quando desvalorizou a
utilização dos registos do passado para fundamentar os conhecimentos presente.
(…)
Por
maus motivos políticos, J.C. prejudicou sistematicamente a estabilidade nas
escolas, introduzindo desentendimento onde é requerida harmonia e disputa onde
só a cooperação interessa.
(…)
O que
a história do pensamento humano nos mostra é que as novas ideias vieram sempre
de quem detém mais conhecimento sobre as áreas em que acaba inovando e criando.
(…)
Em
pedagogia está tudo descoberto, dito e escrito. Seria de bom senso
substituirmos o vocábulo inovar por alterar. Não inovamos coisa nenhuma.
Alteramos.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
A fatura das alterações climáticas não é para
pagar daqui a umas décadas. Já está a ser cobrada em Portugal.
(…)
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA)
prepara-se para defender a redução de cerca de 70% do caudal
das torneiras para a utilização agrícola e de 15% para o consumo doméstico, já a partir de fevereiro.
(…)
Como seria expectável, os agricultores recusam, compreensivelmente, estes cortes.
(…)
Se têm de ser tomadas medidas extremas,
colocando em perigo várias atividades económicas e o abastecimento para o
consumo diário, não terá sido por falta de aviso.
(…)
A seca extrema passou a ser norma, não exceção.
(…)
Chegámos aqui por causa das alterações
climáticas, mas não só.
(…)
São décadas de erros de planeamento e de falta
de investimento em alternativas.
(…)
Num país onde o desperdício de água nas
condutas de abastecimento é uma pandemia.
(…)
As receitas do turismo estarão em causa com a
falta de água ou de casas para os trabalhadores sazonais da hotelaria.
(…)
Apesar de todas as promessas, 38 dos 40
campos de golfe continuam a utilizar água potável para regar os seus vastos
relvados – em vez de utilizarem água tratada pelas ETAR.
(…)
Ignorando todas as evidências científicas,
governantes, autarcas e responsáveis pelas Águas do Algarve arrastaram qualquer
decisão.
(…)
O Algarve e o seu modelo de desenvolvimento é
exemplo de como nunca devemos subestimar a capacidade para se repetirem os
mesmos erros.
(…)
De onde vos escrevo este texto, no Alentejo,
assisto, como todos os meus vizinhos, ao crescimento de um olival
superintensivo com boa parte da sua plantação ilegal.
(…)
O que vejo, atónito, é a indomável caminhada do
Alentejo para a tragédia algarvia. Ninguém quer saber até se ter de fechar a
torneira às populações.
Daniel Oliveira, “Expresso”
online (sem link)
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