quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (86)

 
Um jornalista foi agredido, intimidado e expulso de uma sala onde decorria um evento universitário com André Ventura, o líder do Chega. Retiraram-lhe o material de trabalho que ficou dentro da sala e só mais tarde o devolveram.

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A liberdade de imprensa é um direito constitucionalmente consagrado e legalmente protegido, é um dos pilares da democracia.

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É nos direitos daquele profissional que se garantem os direitos de todos nós.

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André Ventura já se retratou? O Chega já assumiu as suas culpas? Os criminosos já foram identificados? O caso está a ser investigado pela Justiça?

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Como corolário da intervenção [de Ventura, a semana passada na AR], ficou a mensagem clara de desvalorização do jornalismo e da sua independência.

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Claro que quem fomenta notícias falsas como André Ventura faz, não defende nem o jornalismo, nem a liberdade.

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Quem atacou o jornalista cometeu um crime, é criminoso. Então André Ventura não denuncia este crime?

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Já estamos na fase da proibição - por meios físicos e violentos - do trabalho de jornalistas.

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[Ventura] deve ser forçado a dar a cara pelo ódio e pelas tempestades que semeia.

Pedro Filipe Soares, “Expresso” online

 

O Chega continua a crescer. Votar no partido deixou de representar pertença a um pequeno nicho ideológico. O mal já está feito.

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Não vale de muito questionarmo-nos como foi possível chegar até aqui.

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As teorias são mais do que muitas.

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Também ao nível das soluções para o problema ninguém se entende.

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É justo que seja dito que é a própria lei que prevê a extinção dos partidos políticos que difundam mensagem racista e xenófoba. O partido já deveria ter sido ilegalizado.

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Não há consenso em relação às causas do crescimento do Chega e também não em relação às soluções para o combater. E enquanto nos desentendemos, ele continua a crescer.

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Qualquer pessoa que não se oblitere ao exercício do pensamento consegue perceber que o Chega não tem propostas para melhorar a vida dos portugueses. Mas quem tem a intenção de votar Chega abdicou dessa análise crítica.

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[O Chega] ignora a tensão política entre pessoas de classes socioeconómicas distintas, sobretudo a que existe entre os donos dos meios de produção e os trabalhadores.

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Em vez de encarar um conflito que é real, o Chega intensifica potenciais conflitos irrelevantes.

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As pessoas gostam de ter inimigos e a quem culpar pelos seus infortúnios, o Chega tem uma lista de inimigos em carteira para apresentar.

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Os eleitores do Chega não gostam de ciganos, nem de imigrantes, nem de homossexuais ou de pessoas transgénero.

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Depois dessa limpeza [anunciada por Ventura] os portugueses ficariam na mesma situação no que diz respeito aos seus problemas fundamentais.

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Na verdade ninguém vota Chega por causa das propostas económicas, laborais ou fiscais.

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Uma parte do povo português está convencida de que expulsar imigrantes, retirar o RSI às pessoas da comunidade cigana ou excluir as pessoas transgénero do acesso ao SNS quando forem submetidas a intervenções de transição fará de Portugal um país melhor.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

A escola pública, para todos, republicana e democrática, tem que responder ao interesse social, geral, sem descurar a resposta possível, individual, ao interesse de cada um dos seus actores. J.C. [João Costa] foi apenas cuidador de prosélitos e amigos.

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As mudanças feitas por revanche, imagem de marca da actuação política de J.C., correm o forte risco de sofrerem igual tratamento logo que o poder mude de mãos.

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O processo de lavagem cerebral aos professores, desenvolvido por franco-atiradores da treta “eduquesa”, de que J.C. foi obreiro principal, resolveu administrativamente o problema do “insucesso escolar”.

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A memória foi duplamente vilipendiada por J.C., quer quando menosprezou as pedagogias que valorizam essa função cerebral, quer quando desvalorizou a utilização dos registos do passado para fundamentar os conhecimentos presente.

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Por maus motivos políticos, J.C. prejudicou sistematicamente a estabilidade nas escolas, introduzindo desentendimento onde é requerida harmonia e disputa onde só a cooperação interessa.

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O que a história do pensamento humano nos mostra é que as novas ideias vieram sempre de quem detém mais conhecimento sobre as áreas em que acaba inovando e criando.

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Em pedagogia está tudo descoberto, dito e escrito. Seria de bom senso substituirmos o vocábulo inovar por alterar. Não inovamos coisa nenhuma. Alteramos.

Santana Castilho, “Público” (sem link)

 

A fatura das alterações climáticas não é para pagar daqui a umas décadas. Já está a ser cobrada em Portugal.

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A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) prepara-se para defender a redução de cerca de 70% do caudal das torneiras para a utilização agrícola e de 15% para o consumo doméstico, já a partir de fevereiro.

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Como seria expectável, os agricultores recusam, compreensivelmente, estes cortes.

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Se têm de ser tomadas medidas extremas, colocando em perigo várias atividades económicas e o abastecimento para o consumo diário, não terá sido por falta de aviso. 

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A seca extrema passou a ser norma, não exceção.

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Chegámos aqui por causa das alterações climáticas, mas não só.

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São décadas de erros de planeamento e de falta de investimento em alternativas.

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Num país onde o desperdício de água nas condutas de abastecimento é uma pandemia.

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As receitas do turismo estarão em causa com a falta de água ou de casas para os trabalhadores sazonais da hotelaria.

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Apesar de todas as promessas, 38 dos 40 campos de golfe continuam a utilizar água potável para regar os seus vastos relvados – em vez de utilizarem água tratada pelas ETAR. 

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Ignorando todas as evidências científicas, governantes, autarcas e responsáveis pelas Águas do Algarve arrastaram qualquer decisão.

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O Algarve e o seu modelo de desenvolvimento é exemplo de como nunca devemos subestimar a capacidade para se repetirem os mesmos erros.

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De onde vos escrevo este texto, no Alentejo, assisto, como todos os meus vizinhos, ao crescimento de um olival superintensivo com boa parte da sua plantação ilegal.

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O que vejo, atónito, é a indomável caminhada do Alentejo para a tragédia algarvia. Ninguém quer saber até se ter de fechar a torneira às populações.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)


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