(…)
Todas as crianças até cinco anos. Que em Gaza são 335 mil.
O equivalente a mais de metade das crianças dessa idade em Portugal
(…)
E que, ao contrário das outras guerras, de tudo o que
conhecemos, não têm para onde fugir. Além de esfomeadas, foram
amontoadas à bomba em tendas molhadas, sujas, focos de doença.
(…)
Cesarianas sem anestésicos, sem hospital, sem cama.
Aleitamentos sem água, sem comida.
(…)
Mais as 50 mil mulheres que continuam grávidas em
Gaza, agora. Realmente nunca vistas, além das
estatísticas.
(…)
E
porque toda a gente lá é palestiniana, e não europeia, americana, israelita,
também há outro sem precedente em Gaza desde 7 de Outubro: não entram
repórteres (fora os inseridos nas tropas israelitas, mediante censura), e os locais
têm estado a ser mortos.
(…)
Portanto, se Gaza é o nunca visto, imaginem se víssemos.
(…)
Quanto ao que está a acontecer desde então [7 outubro 2023]
em Gaza, o jornalismo pôde captar só uma pequena parte.
(…)
Por outras palavras, a vida segue à custa da morte em Gaza.
Ver, teme-se, seria insuportável.
(…)
O
trauma do ataque do Hamas, também ele sem precedentes no Estado judaico. Os
lutos de 1200 mortos, as famílias de 240 sequestrados.
(…)
Qualquer
jornalista que aterrou em Israel no pós-7 de Outubro terá recebido em inglês,
no seu email ou WhatsApp, muitas possibilidades de reportagem.
(…)
Uma gigantesca rede de assessoria de imprensa.
(…)
O
repórter podia só pôr o despertador para a hora do autocarro em que as
autoridades israelitas levariam os jornalistas num tour pela destruição do
lugar tal, e os devolveriam ao fim do dia a Telavive ou Jerusalém.
(…)
Entretanto,
algumas dezenas de palestinianos cobriam uma catástrofe sem precedentes em
Gaza, sendo eles mesmo alvos. E na Cisjordânia disparava a guerra na sombra há
muito.
(…)
Ao
longo de mais de 20 anos, vi multiplicarem-se centenas de milhares de colonos
na Cisjordânia, com todas as estruturas que apoiam a ocupação.
(…)
Israel nunca parou de transferir população para o território
que ocupa, violando as convenções internacionais.
(…)
Cada colono é
ilegal, e todos os colonos são Israel.
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Sempre
foram o bulldozer do Estado, a sua carne para canhão, a sua milícia, e no
actual Governo de Netanyahu a sua ala terrorista, cada vez mais armada.
(…)
A
violência dos colonos de Israel não é o que escapa ao controlo do Governo, ao
contrário do que os EUA tentam vender, para dar um ar de que pressionam Israel
em algo. Os colonos são a política de Israel. São o Estado.
(…)
Assim, enquanto os EUA e a Europa debatem a solução Dois Estados,
há muito por contar na Cisjordânia.
(…)
Se em Gaza a vida está a ser extinta, qualquer povoação da
Cisjordânia, neste momento, teme pela vida.
(…)
Teoricamente,
não é só Israel a travar a entrada de jornalistas em Gaza. O Egipto contribui
para isso na fronteira de Rafah. Mas na prática é Israel, porque o Egipto não
está interessado em fazer frente a Israel.
(…)
Cobrir Gaza não rivaliza com cobrir a Ucrânia.
(…)
Se o 7
de Outubro tomou o espaço mediático, isso não significa que a vida e morte em
Gaza estejam a ser cobertas, para além do esforço heroico dos repórteres
palestinianos (os Gigantes do Ano de 2023).
(…)
Nunca
precisámos tanto de jornalismo, além das redes sociais (que, no caso da
Palestina, têm sido muitas vezes as únicas janelas).
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Segundo
dados do Observatório [da Mobilidade Social], cerca de 65% da população activa
dos 31 Estados que fazem parte da OCDE teme não ter a mesma estabilidade
financeira dos seus pais.
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As
crianças que nascem hoje nas famílias mais pobres terão salários 20% mais
baixos que as que têm sorte de vir ao mundo entre os agregados mais abastados; na próxima geração, o fosso será ainda maior.
(…)
E se hoje
já seriam precisas quase cinco gerações para o rendimento das famílias mais
pobres chegar à média, imagine-se o que virá a seguir.
(…)
Quando
questionados, quase 80% dos inquiridos dos 31 países acreditam que se deveria
reduzir a desigualdade económica e que mais deveria ser feito para nivelar as
oportunidades.
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Diz a
OCDE que os portugueses, quando lhes pediram para classificar, de 0 a 10, o seu
nível de satisfação geral em relação à vida, acabaram com 5,8 de média, abaixo
dos 6,7 da média geral dos países da organização.
(…)
No
sábado, os Trabalhistas britânicos apresentaram um estudo que demonstra que o
país se tornou “menos produtivo e menos igualitário” depois de 14 anos com os
conservadores no poder.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A percepção de que a nova AD não consegue implantar-se no
eleitorado começa a formar uma evidência.
(…)
Não são apenas as sondagens que o indicam, é também o
potencial crescimento da extrema-direita a reforçar a ideia de que a nova
coligação não conseguiu qualquer sinal de retoma de um eleitorado que lhe foge
entre os dedos.
(…)
Nenhuma linha laranja foi traçada quando o alerta era
mais do que vermelho.
(…)
A incapacidade de comunicar positivamente pode ser a gota de
água que empurre o PSD para o empate técnico com a extrema-direita, como já se
augura nas últimas sondagens, se levarmos em linha de conta a distribuição de
indecisos.
(…)
Poderá chegar o tempo em que Passos Coelho volte, não para
liderar um projecto na Direita, mas para levar o PSD como apêndice.
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