(…)
Imaginem que isso se aplica a quem nos tem governado e agora
vai a votos e a reflexão ganha atualidade e pertinência.
(…)
[Um exemplo] Nos Açores será de esperar que o voto no PSD
sirva para apresentar soluções para melhores cuidados de saúde quando é da sua
responsabilidade a degradação dos serviços públicos?
(…)
[Outro exemplo] encontrar soluções no PS para o custo da
habitação quando foi sua escolha abraçar o mercado e a consequente especulação?
(…)
[Mais outro exemplo] votar no Chega para atacar o sistema
quando são os donos disto tudo que financiam este partido e andam com Ventura
ao colo?
(…)
[Na Madeira] até dentro do PSD havia vozes como a de Sérgio
Marques a denunciar promiscuidade entre o setor público e o privado.
(…)
Paulo Martins e Roberto Almada, eleitos pelo Bloco de
Esquerda na região foram ameaçados e processados pelas mesmas denúncias.
(…)
Já nos Açores, novamente o Chega quer ir para o Governo com
PSD, que continuou a mesma política nos grandes negócios que já vinha do tempo
das maiorias do PS.
(…)
[Apenas um exemplo como denunciou o deputado do Bloco,
António Lima] privatizaram a EDA para entregar todos os anos milhões em
dividendos ao grupo Bensaúde e à EDP.
(…)
Tempo para não repetir erros do passado nem perseguir lutas
contra moinhos de vento.
Pedro Filipe Soares, “Expresso”
Já quase todos disseram que, na forma como lidou com a crise
na Madeira, Luís Montenegro foi pouco corajoso e pouco coerente com tudo o que
dissera sobre António Costa.
(…)
Fontes do PSD fizeram saber, quando era evidente que o
presidente do governo regional ia mesmo cair, que Montenegro o tinha
pressionado para se demitir.
(…)
A verdade é que quem retirou a confiança política a
Albuquerque foi o PAN, não foi o PSD. Humilhante.
(…)
Só que, até que esclareça o que pretende fazer, a incoerência
mais relevante não é do líder da oposição, mas do Presidente da República.
(…)
Agora, nas mesmas circunstâncias [do que aconteceu com Costa],
aceita-se que o PSD Madeira indique um substituto que não foi a votos.
(…)
A única diferença entre as duas situações é que o PS tinha
uma maioria absoluta para oferecer, no apoio a Centeno, enquanto a coligação
PSD-CDS não pode dar essa garantia.
(…)
O grande argumento em defesa de Marcelo baseia-se num facto
indesmentível para chegar a uma conclusão torcida: o Presidente não tem, até
março, o poder de dissolução.
(…)
O argumento contra o paralelismo [entre o que aconteceu no
Continente e agora na Madeira] é que quando o anunciou já podia dissolver (mas
não dissolveu), enquanto agora não pode anunciar porque não pode dissolver.
(…)
Com o historial do Presidente da República é impossível
assumir outra coisa, que o Presidente se escuda num argumento constitucional
extraordinariamente restritivo.
(…)
Já a assunção de que o governo da Madeira é, mesmo sem
Albuquerque, para a legislatura, abre a possibilidade do cenário de uma maioria
direita que afaste Montenegro caso ele cumpra a promessa eleitoral e recuse um
entendimento com o Chega, que lhe dê maioria.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Marcelo
Rebelo de Sousa reenviou para a Assembleia da República o diploma que
autorizava a escolha de um nome neutro, ou seja, não identificável com o sexo
masculino ou feminino.
(…)
O
mesmo para o diploma sobre as medidas a adotar pelas escolas no cumprimento da
lei que estabelece a autodeterminação da identidade e expressão de género.
(…)
Estamos a falar de um assunto que diz diretamente respeito
apenas a uma minoria absoluta dos portugueses.
(…)
Há
quem veja em cada avanço no sentido da autodeterminação da identidade de género
uma ameaça civilizacional e que vocalize isso mesmo.
(…)
O veto de Marcelo foi uma vitória para as reivindicações da
extrema-direita.
(…)
Muitas
escolas já tinham avançado com medidas de apoio a alunos com disforia de
género. Marcelo agora dá ordem de recuo. Porquê?
(…)
Há quem prefira usar a inteligência apenas para justificar as
decisões que tomou.
(…)
Quando isso acontece, temos boas razões para péssimas
decisões. Isto acontece frequentemente a Marcelo Rebelo de Sousa.
(…)
Marcelo recorreu a argumentos que parecem razoáveis para vetar as
medidas a adotar pelas escolas.
(…)
Um calvário de abstrações.
(…)
Olho
para Marcelo Rebelo de Sousa e arrisco dizer que desconhece a tortura de viver
num corpo no qual não se reconhece.
(…)
Nunca
esteve noutra posição que não a de estar no topo da cadeia antropológica a
tomar decisões sobre a vida dos restantes.
(…)
Agora
são umas centenas de pessoas que querem ver reconhecido o seu direito à
identidade de género, a aceder às casas de banho onde se sentem mais confortáveis
e a usar nomes neutros.
(…)
Tenho
é pena que a sua [de Marcelo] empatia seja tão seletiva [como por exemplo em
relação às gémeas brasileiras] e que deixe de fora crianças e adolescentes que
estão há demasiado tempo em fila de espera para ser felizes.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Sejamos
claros: se uma vertente nuclear da educação for (e é) tornar o ser moralmente
responsável pelos seus actos, perante a sua consciência e perante os outros,
resulta evidente que não o podemos deixar entregue à sua natureza instintiva.
(…)
Temos,
isso sim, de o orientar num processo que o leve a admitir que a sua liberdade
tem limites e que a entrada na sociedade supõe a aceitação de um conjunto de
normas e de regras (disciplina) a que terá de obedecer.
(…)
A
autonomia que sempre tenho defendido para as escolas não serve se for entregue
a (ir)responsáveis que escondem que a indisciplina é o maior problema das
instituições que dirigem.
(…)
Dir-se-ia que a obsessão pelos cuidados a prestar às crianças
e aos adolescentes obliterou a obrigação de os responsabilizar.
(…)
Erram
os que identificam disciplina com repressão, sem lhe reconhecer a capacidade
transformadora de um ser bruto num ser social, ética e culturalmente válido.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
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