(…)
Parece
que a cimeira acabou por ser de facto um marco: daqui em diante, teremos
cimeiras da indústria fóssil, não do clima.
(…)
Mais
uma vez, um país produtor de petróleo e gás [o Azerbeijão] será o anfitrião de
uma cimeira [a COP29] que (teoricamente) visa negociar a redução dos
combustíveis fósseis.
(…)
Um país que planeia expandir a produção destes
combustíveis em um terço durante a próxima década.
(…)
Um
país cuja economia depende largamente dos combustíveis fósseis, que
correspondem a cerca de 50% do seu PIB e que, no ano passado, representaram
92,5% das suas exportações.
(…)
Mas
não ficamos por aqui: o ano novo começou com a notícia de que a cimeira será
presidida por um antigo empresário da indústria petrolífera [Mukhtar Babayev]
(…)
É a
terceira vez consecutiva em que se escolhe um país exportador de combustíveis
para acolher as negociações climáticas e o segundo empresário petroquímico
consecutivo a ocupar o cargo de presidente da cimeira.
(…)
As empresas fósseis, principais responsáveis
pela crise climática, sabem o que estão a fazer há pelo menos cinco décadas.
(…)
E
mesmo sabendo do perigo e do efeito catastrófico da sua actividade, escolheram
continuar, investir cada vez mais, espalhar desinformação e, consequentemente,
trazer-nos ao ponto de abismo em que nos encontramos.
(…)
Mas há
mais, como seria de esperar. Foi entretanto anunciado o comité organizador da
COP29: a equipa conta com 28 homens e zero mulheres.
(…)
Não só
o comité é constituído maioritariamente por ministros ou funcionários
governamentais, como também inclui o chefe da rede estatal de distribuição de
gás — um combustível que contribui 86 vezes mais do que o CO2 para as
alterações climáticas.
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2023 foi o ano mais
quente desde que há registos.
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Torna-se claro que não é das cimeiras fósseis
que a mudança que precisamos virá.
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Construir um mundo que coloque realmente as pessoas e a vida no centro é tanto
possível como inegociável.
Bianca Castro, “Público” (sem link)
A ONG
britânica Oxfam foi mais uma vez fazer ver aos líderes mundiais [em Davos] que
é preciso taxar as grandes fortunas ao mostrar que os cinco mais ricos do mundo
mais do que duplicaram a sua fortuna desde 2020.
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O
estudo do UBS afirma que, ao contrário dos pais, os herdeiros das fortunas são
menos dados à filantropia que os pais.
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No
domingo, em Davos, [Marlene
Engelhorn, jovem herdeira da família fundadora do grupo químico alemão
BASF] juntou-se com outros donos de fortunas e activistas de
esquerda para exigir um sistema fiscal mais justo.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
A covid-19, tal como hoje a encaramos, foi um salto no vazio
que se controlou a custo e contra muitas marés que, ainda hoje, contam com
acérrimos defensores do pouco que se passou ou do puro negacionismo.
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A fraude de alguns que matou milhões em todo o Mundo deixou
saudades a quem descobriu afectos escondidos nas ruas vazias e na sensação de
que havia um ideal colectivo em reconstrução.
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Se nem tudo é perfeito numa altura em que se enfrenta o
desconhecido, é alarmante perceber que numa comparação com França, Alemanha,
Áustria, Grécia, Bélgica, Chéquia e Estónia, o preço inicialmente definido por
Portugal era o mais alto.
(…)
A forma como encontramos legenda sobre o nosso passado
recente diz mais sobre o apuro da nossa memória do que todo um passado
histórico em retrospectiva.
O
jornalista do Expresso Tiago Soares foi agredido quando fazia a cobertura da
iniciativa “Encontros Parlamentares”, organizada por alunos da Universidade
Católica Portuguesa (UCP).
(…)
Nessa altura, tentou que os assessores do Chega
esclarecessem a situação e ainda chamou pelo próprio André Ventura.
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Tiago
Soares identificou-se como jornalista à entrada do evento e deixaram-no entrar.
Fez o mesmo antes de ter sido retirado da sala à força. De nada lhe valeu.
(…)
Não
passa pela cabeça de ninguém no seu perfeito juízo fazer uma ação direta deste
tipo, sobretudo visando um jornalista no exercício das suas funções.
(…)
Antes
de mais, existiu uma comunicação do Chega, cujo conteúdo constava também na
agenda divulgada pela Lusa, que dava conta da realização do evento e que dava
conta de duas situações: por um lado, que André Ventura falaria aos jornalistas
à entrada do evento; por outro, que não seriam admitidas câmaras lá dentro.
Ora, isto não significa, nem poderia ser assim interpretado, que não pudessem
entrar jornalistas.
(…)
Qual o
interesse do Chega em induzir jornalistas em erro? O interesse de sempre –
atrair jornalistas às iniciativas em que Ventura participa.
(…)
É
incompreensível que o modelo de evento que [os estudantes da UCP] conceberam
exclua a assistência ou participação de quem tem a missão de partilhar a
informação com o público.
(…)
Mas
não, aqueles estudantes entendem que os seus eventos não devem ser e estar
acessíveis. Há aqui uma lógica de “isto não é para todos”.
(…)
Dessa
lógica até à que lhes permitiu sentirem-se no direito de usar a força para
expulsar um jornalista da sala foi um saltinho. Nem os seguranças de uma discoteca
nos anos 80 fariam melhor.
(…)
Foi
neste contexto que Miguel Morgado, no Linhas Vermelhas da SIC Notícias, saiu em
defesa dos estudantes, digo do Chega, digo, na verdade, que não se percebeu bem
quem queria defender.
(…)
Também
se estranha que Miguel Morgado não tenha uma palavra a dizer sobre a ação
direta e violenta que exerceram sobre o jornalista.
(…)
Também
se estranha que Miguel Morgado não tenha uma palavra a dizer sobre a ação
direta e violenta que exerceram sobre o jornalista.
(…)
Mais
ainda se estranha que Miguel Morgado tenha tido a preocupação de dizer, repetir
e insistir que não foram os seguranças do Chega que expulsaram o jornalista.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
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