(…)
Mas a democracia não pode viver sem jornalismo.
(…)
Com mais ou menos incompetência, a crise na Global Media resulta
de um problema global.
(…)
Depois da entrada de empresários sem conhecimento do sector, a
Global Media foi comprada por um fundo com sede nas Bahamas que até há uns dias
ninguém sabia a quem pertencia.
(…)
Sabemos [da fragilidade do setor], porque vendas e audiências são
públicas, que há títulos que não vendem há anos.
(…)
[Há] puro mecenato ideológico para moldar as opiniões públicas.
(…)
Num sector cada vez mais desqualificado, a proletarização dos
jornalistas tem sido uma forma eficaz de corroer a liberdade de imprensa.
(…)
O antigo diretor da TSF, Domingos Andrade, disse, no Parlamento,
que a administração da Global está a partir a espinha das redações pela fome.
(…)
É o que está a acontecer à liberdade de imprensa: a ser domada
pela penúria.
(…)
Claro que houve empresas que se adaptaram e outras que não o
fizeram. Quem inovasse e quem ficasse na mesma. E haverá quem sobreviva.
(…)
Mas a concentração que este processo de adaptação provoca (…)
é perigosa para a democracia.
(…)
O investimento privado no jornalismo só é desinteressado se
procurar o lucro. Quem não o procura, procura poder. E isso é
incompatível com a autonomia editorial dos jornalistas.
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Os órgãos de comunicação social eram plataformas eficazes para
publicitarem produtos e serviços, e essa era a principal sustentação do negócio.
(…)
Quem queira substituir isto por “filantropia” (…) está a
propor o fim do jornalismo livre.
(…)
O sindicato já defendeu um crédito para cada cidadão usar para
assinar o jornal que prefere, deixando aos leitores a escolha.
(…)
Uma coisa é certa: se a liberdade de
imprensa deixa de ser rentável, a alternativa ao apoio público é a sua
destruição.
Daniel Oliveira,
“Expresso” (sem link)
É relevante que os
atores políticos e os órgãos de soberania sejam obrigados a discutir a
importância e o estado atual da informação, incluindo os seus meios e as formas
como, em vários planos, vai estando organizada.
(…)
O desrespeito pelo
emprego e pelo pagamento regular do salário é sempre não apenas incumprimento
de direitos laborais e sociais fundamentais e de compromissos democráticos, mas
também a violação de direitos inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
(…)
Há no país vários casos
de salários em atraso e a situação pode agravar-se. Exige-se uma ação atenta
por parte dos governantes e do sistema de justiça.
(…)
O FGS [Fundo de Garantia
Salarial] só pode ser acionado em situações de insolvência ou grave crise
desencadeadas judicialmente, logo, não resolve o problema dos salários em
atraso.
(…)
Não há robustez numa
lei que, perante remunerações em atraso, permite que os trabalhadores fiquem
bastante tempo sem remuneração e distantes da vida das empresas.
(…)
É grande a dimensão
política das questões que se levantam em torno do Grupo Global Media e daquilo
que vai sendo exposto quanto à sua atuação e agenda.
(…)
Hoje, a liberdade de
imprensa tem um valor social e um papel na defesa da democracia absolutamente
determinantes.
(…)
Do Governo e dos órgãos
de soberania reclama-se atuação sem complexos ideológicos, forçando soluções
para o imediato e contribuindo para as de médio e longo prazo.
(…)
E os jornalistas,
enquanto classe profissional, foram sendo enfraquecidos pela desvalorização da
profissão, pela precariedade e baixas condições de trabalho dos jovens, por
atropelos vindos das redes sociais.
Há alguns anos, quando falava do meu
receio em relação ao crescimento da extrema-direita recebia muitas vezes comentários
dubitativos ou mesmo jocosos.
(…)
Em Portugal havia a convicção, que se
veio a revelar ser um mito, de que a nossa Constituição nos preservaria da
extrema-direita.
(…)
[Em
França] a direita adota agora sem qualquer embaraço o mesmo discurso e o
Governo de centro-direita vota leis, como a nova lei de imigração, que seriam
impensáveis há muito pouco tempo.
(…)
Mas não devemos dar todo o crédito do
sucesso da extrema-direita à direita, ela tem mérito próprio. Tem conseguido,
de forma sistemática, fazer um trabalho de desdiabolização eficaz.
(…)
Pela primeira vez, em França, a
extrema-direita foi bem acolhida numa manifestação contra o antissemitismo,
fazendo de conta já não ser o que era.
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Na
extrema-direita portuguesa, também se tenta esconder ligações com figuras do
movimento neonazi.
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A extrema-direita continua a ser o que
era, a ponto de utilizar, como explica o sociólogo Ugo Palheta, muitos dos
mesmos mecanismos de retórica racista que já havia utilizado contra judeus para
atacar muçulmanos.
(…)
Consegue normalizar-se, diabolizar
adversários políticos (reduzindo a crítica a Israel e a defesa da Palestina a
uma posição antissemita), atacar minorias, defender ideias como a supremacia
étnica, racial ou religiosa, a legitimidade colonial.
(…)
A
extrema-direita tem nova maquilhagem, mas ainda é o que era.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
Desde que a taxa de criminalidade
atingiu o seu ponto mais alto em 2005, com 1007 crimes por 10 mil habitantes, a
Escócia tem assistido a um substancial decréscimo que levou a taxa a atingir o
seu nível mais baixo em 2022 (523).
(…)
Quando um político propõe mão dura para
lidar com o crime, é sabido que o argumento tem propensão a granjear-lhe votos.
(…)
Mesmo que
numerosos exemplos demonstrem que a violência de Estado para combater a
violência seja mais contraproducente do que efectiva.
(…)
Niven Rennie, que foi um dos mais
influentes polícias na Escócia, aprendeu que para lutar contra o crime é
preciso combater as suas causas, a pobreza e a desigualdade.
(…)
“Quando
falo de violência, também falo de vício, pobreza, sem-abrigo e trauma”, escreve o antigo director da SVRU (…) apostando
na prevenção, ou seja, tentando atacar os problemas que levam ao crime, ao
invés de centrar todos os esforços na repressão do que já aconteceu.
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