(…)
[Uma
vez que o comunismo acabou] para quê carregar esse fardo da redistribuição
social dos rendimentos que tanto lesa os maiores beneficiários da agenda
neoliberal, os pobres milionários acabrunhados pelos impostos?
(…)
Há que regressar à velha Europa: substituir o
caduco Estado social pelo Estado bélico.
(…)
Ao
mesmo tempo que gera novos milionários (o que é ótimo para “a criação de
riqueza”), gera pleno emprego na retaguarda e na frente de combate (as baixas
nem contam para o desemprego).
(…)
A Europa não se pode permitir certos luxos. Um
deles é a paz. Estava em paz há demasiado tempo.
(…)
A
história prova que a melhor forma de resolver os problemas na ordem
internacional é a tiro e à bomba. Alguém duvida?
(…)
De resto, temos a NATO. Para que precisamos da
União Europeia? Só serve para desperdiçar recursos e irritar os agricultores.
(…)
Nenhum governo europeu foi eleito para fazer a
guerra. Isso não consta, até hoje de qualquer programa
eleitoral
(…)
[Os
EUA] não acabou com a fome e a pobreza, não tem um sistema de saúde comparável
com o SNS, investe pouco em infraestruturas, mas o défice do orçamento federal
com a defesa é de triliões de dólares!
(…)
Para mais, se a guerra for nuclear, fica tudo
resolvido de uma assentada.
(…)
Só é pena que não fique cá ninguém para testemunhá-lo.
Mário Vieira de Carvalho, “Público” (sem link)
Cantar vitória foi desporto de alguns na hora
em que encerraram as urnas mas cedo se percebeu que as notícias de um grande
triunfo laranja eram manifestamente exageradas ou prematuramente anunciadas.
(…)
Nunca a ideia de que era necessário ganhar por
mais do que por poucochinho foi tão evidente.
(…)
Este Governo não terá uma segunda oportunidade
para causar uma boa primeira impressão.
(…)
O alívio não assiste aos derrotados mas é
evidente que Pedro Nuno Santos (PNS) está mais preparado para ser líder da
oposição do que para ser primeiro-ministro de um Governo a prazo.
(…)
O discurso em que assumiu a derrota e se
apresentou como oposição, evidencia a sua preparação para não ser poder.
(…)
Se [o PSD] falhar rotundamente, poderá ser o
momento de uma alternativa à Esquerda se afirmar em conjunto, numa maioria
estável que, antes, só foi capaz de experimentar em testes de laboratório de
incidência parlamentar.
Ainda não conseguimos vislumbrar totalmente o
cenário que nos espera.
(…)
[Falta ver, entre outras coisas] se o
“não é não” de Montenegro ao Chega se vai aguentar na prática.
(…)
Mas
seja o que for que aí vem, no plano mais imediato, serão tempos de turbulência
governativa, guinada geral à direita e de robustecimento das forças
antidemocráticas.
(…)
O
Chega, que elogia o salazarismo, escarnece da igualdade de género e acicata o
racismo e a xenofobia, tornou-se a terceira força política, quadruplicou o número
de deputados na Assembleia.
(…)
[O
Chega] cresceu de forma transversal no território e, especialmente, no Algarve
e Alentejo interior, onde as suas principais vítimas – comunidades imigrantes e
ciganas – têm peso expressivo.
(…)
O
PSD, entre o discurso de Passos Coelho e a resposta de Montenegro, preforma uma
ambivalência quanto ao tema da imigração que, no fundo, sabemos não ser
ambiguidade nenhuma.
(…)
Como irá a esquerda responder ao cataclismo de
domingo? Será que, para recuperar eleitores, irá optar por “se endireitar”?
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Conseguirão
os partidos da esquerda, como um todo, aprender com os movimentos sociais mais
progressistas deste momento histórico, sem tentar controlá-los e esvaziá-los?
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Parece
paradoxal celebrar os 50 anos do 25 de Abril neste cenário. Mas talvez esta
seja afinal a melhor altura para, exatamente, o lembrar.
(…)
[Que
as comemorações do 25 de Abril] possam contribuir para o reacender do
compromisso de luta contra as forças regressivas deste país e não arredar pé de
o continuar a Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.
Cristina Rodão, “Público”
(sem link)
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