(…)
A questão central da política é sempre quem é
que politiza o sentimento de mal-estar que se pressente na sociedade.
(…)
A meio da década passada era possível desenhar
uma geografia do protesto social que tinha diferenças importantes na Europa.
(…)
Em Portugal, em 2016, a esquerda transformou em
votos a onda de protestos que agitaram os anos do governo da troika e, na sua
sequência, a “esquerda à esquerda” dos socialistas participou pela primeira vez
no suporte a um governo em quase 50 anos de democracia constitucional.
(…)
A interpretação do cisma do protesto na Europa
era que a Sul ainda se guardava a memória dos regimes autoritários que aqui
vigoraram até ao último quartel do século XX e prevalecia uma tradição de
mobilização ancorada à esquerda, que foi quem os combateu.
(…)
[A] rede de pertenças e organizações vinha de
trás – da tradição dos sindicatos, das organizações culturais, das vivências
partilhadas nos locais de trabalho e nos bairros residenciais.
(…)
Subitamente [em 2018 quando os coletes amarelos
irromperam em França], e contra a tradição europeia do pós-guerra, parecia ser
a direita a ser capaz não apenas de politizar o mal-estar popular, mas de
assumir explicitamente a radicalização dos protestos nas ruas.
(…)
Por cá, ainda houve quem tentasse uma
mobilização semelhante. Foi um absoluto flop.
(…)
[Após os resultados eleitorais de 10 de março] não
sabemos bem o que seria agora uma convocatória deste tipo, de tão inebriados
nos parecem os apoiantes da extrema-direita pelos resultados nas urnas.
(…)
O que [a esquerda] parece ter perdido é o
ingrediente central da construção de um bloco social – o enraizamento na
cultura popular e a presença nos espaços do quotidiano em que se faz
socialização, se criam pertenças e se opera a politização.
(…)
A narrativa da extrema-direita tornou-se mais
forte para contar a história do presente e aponta outros culpados: as
transformações sociais, as mudanças nas identidades; os novos fluxos
migratórios; as “raças” e os pobres que merecem castigo.
(…)
Sabemos que a presença da extrema-direita nas
redes é financiada por interesses poderosos e empresários endinheirados.
(…)
E sabemos que todos estes espaços são
governados pela lei de que quem paga, manda. O que implica que nesses espaços a
esquerda está sempre em desvantagem.
(…)
Está na hora de [a esquerda] se
reinventar e organizar para essa politização.
Os resultados das eleições legislativas evidenciam-nos uma
delicada realidade: instalou-se no nosso sistema político um agente organizado
que congrega o fundamental do saudosismo do regime fascista e dos valores
retrógrados a ele associados.
(…)
O sindicalismo é um dos opositores mais eficazes à exploração
que o fascismo faz de descontentamentos, do ressentimento, do egoísmo, do ódio,
da contínua divisão entre “pessoas de bem”, “malandros” e “fracassados”, da
negação das liberdades e de direitos sociais e laborais.
(…)
Em muitos contextos idênticos ao que estamos a viver, o
movimento sindical foi espaço de construção de esperança.
(…)
O lugar e o valor do trabalho na sociedade não dispensam a
existência de sindicatos: eles não vão desaparecer.
(…)
Não é tempo de sujeição a taticismo vindo de forças
políticas, nem de práticas taticistas internas.
(…)
Não faltaram democratas a secundarizarem o perigo iminente
[do reforço do Chega a nível parlamentar].
(…)
Vai agir ardilosamente perante um Governo duplamente
minoritário, mas determinado a executar o seu programa, que em muitas matérias
aprofunda o neoliberalismo e vai na direção de políticas reclamadas pela
extrema-direita.
(…)
Jamais respeitará princípios democráticos e valores de ordem
ética.
[Na sequência dos resultados das recentes
eleições legislativas] percebemos que uma larguíssima maioria tinha, desde há
meses, tinha decidido mudar e mudar com potesto.
(…)
Percebemos isso pela magnitude do salto de um
partido que passa de 12 para 50 deputados e pela distribuição geográfica deste
voto.
(…)
[No distrito de Faro] as razões de protesto são
profundas e muito antigas, sendo compreensível a desistência no voto moderado,
mas ineficaz.
(…)
Alguém dizia em imagem poderosa, que no Algarve
só quando as piscinas da Quinta do Lago estão vazias é que as autoridades
acordam para o problema da endémica falta de água.
(…)
Devíamos saber que a vida tem horror ao vazio e
que o partido das soluções simples e rápidas havia de chegar.
(…)
Em Portugal, este voto é, sobretudo, um voto
pela qualidade da governação.
(…)
Portugal é o 7º país mais seguro do mundo, tem
menos de 10% de não residentes, sendo 40% destes Brasileiros, e o país
confessa-se maioritariamente Cristão/Católico.
(…)
Vários fatores se alinham para que um governo
que passa com tantas incertezas possa, afinal, congregar vontades e implementar
mudanças.
Cristina Azevedo,
Consultora, “diário as beiras“
A
comemoração do Dia Mundial da Árvore e do Dia Internacional das Florestas
assume uma importância sem precedentes numa conjuntura marcada pela degradação
dos ecossistemas, pela perda de biodiversidade e pelas alterações
climáticas.
(…)
Segundo
as Nações Unidas, estima-se que até 2050 dois terços da população mundial
viverão em cidades, tornando assim urgente a implementação de medidas que
promovam um crescimento urbano sustentável e mitiguem a sua pegada
carbónica.
(…)
As áreas arborizadas urbanas e periurbanas
assumem um papel preponderante no combate ao aquecimento
global e na resiliência das cidades.
(…)
As árvores continuam a ser, em grande parte,
relegadas a uma mera serventia ornamental.
(…)
[As árvores] fornecem múltiplos serviços de ecossistema.
(…)
No entanto, para maximizar estes potenciais
benefícios, é fundamental um planeamento adequado destas florestas.
(…)
É
essencial que a importância das árvores e das florestas seja um tema chave nos
currículos escolares, e que se desenvolvam atividades práticas que proporcionem
às crianças e jovens aprendizagens significativas e uma maior conexão com a
natureza.
(…)
O
futuro das árvores e das florestas, urbanas ou não, depende da valorização do
Ambiente e da educação para a sustentabilidade das novas
gerações, que pressupõe a participação ativa dos pais, educadores, professores
e de toda a comunidade.
Helena Moreira, “Público” (sem link)
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