(…)
Aguiar-Branco acabaria sempre por ser eleito, mas, apesar da
pressão estar sobre o Chega e as trapalhadas do PSD, foi o PS o primeiro a
ceder, fazendo um acordo absurdo.
(…)
O PS conseguiu um acordo que instituiu o bloco central para
uma legislatura inteira sem qualquer ganho para o país ou para si.
(…)
O que estava em jogo era bem mais do que a presidência da AR.
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O PSD esperava usar a tática Carlos Moedas — aprovem ou sejam
responsáveis por uma crise —, mas foi longe demais nas conversas com o Chega.
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Como correu mal, o Chega instalou o caos em que é especialista.
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A tese dos três blocos é interessante e verdadeira. Só tem um
problema: não serve para nada, porque nenhum deles tem força para governar.
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Mas o que está em causa é a sustentação previsível deste
Governo que se determina nos orçamentos de Estado.
(…)
É porque as pessoas acreditam que essa sustentação deve ser
previsível que quem viabiliza o primeiro é candidato a viabilizar os seguintes.
(…)
Se não o fizer será ele o responsabilizado por uma crise
política e punido nas urnas.
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Pelos erros do PSD e a instabilidade do Chega, este primeiro
ensaio dava ao PS a oportunidade de começar a conquistar a liderança da
oposição.
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Até para ser “oposição construtiva” é preciso ser oposição de
facto e ter autonomia estratégica para ser construtivo.
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Quem está amarrado a um Governo depende da boa vontade do
governante.
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Sempre que Ventura sentir que Pedro Nuno Santos vai fazer
oposição saltará para fora do barco para tentar atirar o PS para a maioria da
estabilidade.
(…)
Se os três blocos se mantiverem, as eleições acontecerão
brevemente, porque o impasse de ontem será recorrente.
(…)
Com a atual composição parlamentar, decidida pelo voto
popular e a irresponsabilidade do Presidente, vivemos a gestão da instabilidade
para decidir como isto estabiliza, sobrando dois blocos fortes.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O que aconteceu na Assembleia é mais normal do que anormal,
dada a sua composição actual.
(…)
O que seria anormal é que um nome proposto solitariamente por
um único partido, sem maioria, sem qualquer negociação prévia (…) O que
seria anormal é que um nome proposto solitariamente por um único partido, sem
maioria, sem qualquer negociação prévia.
(…)
Todos os nomes da Mesa da Assembleia vão a votos e ir a votos
não é um pró-forma.
(…)
É
legítimo os deputados, para isso é que a sua decisão é protegida pelo voto
secreto, decidirem sobre os nomes propostos fazendo um julgamento moral e
político individual.
(…)
Reprovar um qualquer candidato é inteiramente legítimo.
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A Assembleia não é, como se disse, o “local
onde se fazem acordos”, é o local onde se manifestam as diferenças, as “partes”
que são o ar da democracia.
(…)
Só a
nostalgia da não-política e a obsessão de que a boa política é o “consenso” –
uma das sombras deixada pelos 48 anos de censura e de demonização da política –
explicam a pseudo-indignação com o que se passou.
(…)
A
ecologia política dos nossos dias é a da radicalização, verdade seja dita, hoje
mais à direita do que à esquerda.
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A
designação [Governo de combate] não é inocente, destina-se a minimizar aquilo
que, se o Governo fosse do PS, estaria a ser dito por todo o lado: é um governo
de partido.
(…)
Mas o
domínio da direita no comentário político e a impregnação do espaço público com
classificações convenientes exercem os seus efeitos.
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Até à queda do Governo do PS, o silêncio era falta de
transparência, agora é recato.
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Um dos aspectos fundamentais que distinguem a democracia da
demagogia é não ser uma democracia directa.
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O
ciclo democrático implica usar o estado de graça para tomar decisões difíceis
no início dos mandatos e as mais fáceis, as “eleitoralistas”, no fim.
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[Este governo] se governar apenas a pensar nas próximas
eleições, governará mal.
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[Um bom governo] não ser um governo assente na resposta a reivindicações.
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Uma
das fragilidades deste período final do Governo do PS sob tutela presidencial
foi criar um vácuo de poder que tornou as reivindicações de professores, polícias
e médicos, e de outros grupos profissionais, no cânone das promessas de
governação.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Tudo é instrumental [para a extrema-direita] ao serviço de um
desígnio: espalhar o caos, para justificar a reclamação da “ordem” e da
“autoridade” antidemocrática e fascista.
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É conscientemente que entram em choque com o escrutínio e o
compromisso democráticos, que mentem descaradamente, que substituem o argumento
político pelo desrespeito e o insulto.
(…)
Nesta fase, o seu programa centra-se na montagem do circo
feito de bagunça, de confusão, de atos de humilhação do outro.
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Em nenhum espaço institucional é tolerável a impunidade face
à violação de regras e princípios democráticos.
(…)
Há que encontrar formas de se irem fazendo retratos sérios
dos mentores do projeto.
(…)
O PSD não quer assumir a natureza do Chega. Mesmo debaixo de
uma provocação, não quis perceber que se trata de uma força “não confiável”.
(…)
O PS deu um passo para se resolver um problema institucional
e isso compreende-se. Contudo, não tinha de o fazer na forma de partilha de
lugares.
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Para o imediato [as propostas vindas das forças à esquerda do
PS] têm de ser ofensivas.
(…)
[Alguns daqueles que se opõem à democracia] ocupam hoje
lugares relevantes nas instituições.
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