(…)
Nenhum contexto histórico afasta Passos do “para
lá da troika”, dos apelos à emigração, do braço de ferro com o Tribunal
Constitucional para ir mais longe do que o memorando, da afirmação, em 2014, de
que não era possível voltar aos níveis de remuneração de antes da crise.
(…)
Se todos aceitam que a AD tem um problema com
os mais velhos por causa do período de Passos, como pode Passos ser um ativo
para a AD?
(…)
A associação entre imigração e insegurança é
fácil de desmentir: numa década, a imigração subiu 80%, os reclusos
estrangeiros diminuíram 27% e a criminalidade grave e violenta caiu 24%.
(…)
Em Portugal, o problema é de respeito pelos
direitos humanos dos imigrantes, não da segurança dos nacionais.
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[Passos] associou os imigrantes ao “sentimento”
de insegurança, que é a base da xenofobia.
(…)
Passos Coelho já [associara imigração a
insegurança] em 2016, quando não havia Chega ou dissolução do SEF.
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E é nesse lugar que a direita está, sustentada
por um espaço mediático cada vez mais afunilado.
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A extrema-direita não vence quando chega ao
poder, mas quando o seu discurso é normalizado pelo mainstream.
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Ainda esta polémica estava ao lume e veio a do
aborto, imediatamente interrompida pelos imbecis que atiraram tinta verde à
democracia, salvando a direita dos seus problemas e condenando a causa
climática ao isolamento.
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O choque fiscal, que já tinha sido prometido
por Durão Barroso, deixaria um rombo orçamental de 5 mil milhões anuais.
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O que Costa deixa são serviços públicos em
rutura, incapazes de reter profissionais motivados.
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Montenegro desdobra-se em promessas de aumentos
aos funcionários públicos, mas propõe-se diminuir radicalmente a receita [fica
aqui o “mas” já referido por Mariana Mortágua].
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Do sentimento de insegurança de Passos com a
imigração à vontade de Núncio recuar na IVG, passando por um programa fiscal
irresponsável, nada permite falar de moderação na AD.
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O que facilita a vida a Montenegro, além da
tinta verde de uns imbecis, é o plano inclinado televisivo que vai tentando
passar o sentimento de recentramento de quem há muito tempo se desviou do
centro.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Os factos não vão a votos e infelizmente desde há mais de uma
década eles têm vindo a alinhar-se sucessivamente de forma muito negativa.
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A degradação ambiental tem crescido exponencialmente no mundo
e as causas que a produzem também.
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As causas ambientais e da sustentabilidade têm ganhado no
plano da ciência e na dinâmica de cidadania.
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As políticas ambientais, essas têm vindo em recuo crescente
até à lamentável situação em que nos encontramos hoje.
(…)
[O] Ambiente [encontra-se] em trajetória de recuo por toda a
parte.
(…)
[Uma parte do mundo] parece esperar com impaciência o fim
deste para começar o futuro de uma forma humana, ecológica, inteligente e em
paz com o sistema Terra.
(…)
[Em Portugal] os debates eleitorais praticamente omitiram a
questão ambiental e particularmente a das alterações climáticas (AC).
(…)
Porque é que Portugal tem hoje os problemas ambientais que
tem no litoral, na água, no solo, na floresta, na biodiversidade, na energia,
etc.?
(…)
Em todos os programas há capítulos sobre os principais
problemas ambientais do país, mas, em geral, falta-lhes agenda e compromisso.
(…)
A nova condição climática em que o mundo e nós todos vivemos
não se compadece com promessas vagas ou tornadas vagas.
(…)
Precisamos de compromissos e não da repetida promessa das
mesmas vagas ilusões.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
Nas cinco décadas de democracia, Portugal podia e devia ter
conseguido um maior desenvolvimento humano e social, económico, cultural e
político.
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Em 2012, em nome de que vivíamos acima das nossas
possibilidades, foram feitos cortes nas retribuições e direitos dos
trabalhadores correspondentes a três mil milhões de euros por ano. Quem assume
reparar este roubo?
(…)
Entretanto, os novos protagonistas relevantes no processo
eleitoral em curso são velharias ultraconservadoras e fascistas que aproveitam
contradições e tensões geradas pelo ultraliberalismo e pelo belicismo, hoje em
marcha, para imporem retrocessos.
(…)
Quanta memória se perdeu para haver quem esteja a dar crédito
aos que acham que Portugal podia continuar a ser um país colonizador, com total
ausência de direitos, liberdades e garantias.
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[As centenas de milhares de portugueses que emigraram nos
anos 60 e 70 do século XX] teriam sido “recambiados” para Portugal (muitos para
as prisões), se os países que os acolheram adotassem as políticas que Ventura
propõe agora para a imigração.
(…)
A Iniciativa Liberal e de forma mais moderada a AD fazem uma
berraria contra o Estado, o culpado de todos os males, até de maus
comportamentos de privados.
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[Sem o Estado] alguma vez se teria criado o Serviço Nacional
de Saúde de acesso para todos, ou a Escola universalizada, por investimento da
iniciativa privada?
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Talvez seja bom dar o voto a forças que têm lastro
consistente em áreas como a do trabalho e dos direitos fundamentais, que estão
muito debaixo de fogo.
Nas
próximas eleições legislativas, as mulheres grisalhas vão desempenhar em
Portugal o mesmo papel que as mulheres negras do Nordeste desempenharam nas
eleições presidenciais brasileiras: votando à esquerda, vão salvar o Estado de
Direito Democrático e Social, derrotando as direitas cada vez mais extremadas.
(…)
Os
trabalhadores que auferem o Salário Mínimo Nacional (SMN) lembram-se do ataque
a esta instituição de decência laboral mínima durante esses anos de chumbo
(2011-2015).
(…)
[A
teoria económica neoliberal] vê no SMN uma interferência malsã, destruidora de
emprego, no “mercado de trabalho”, como se as relações laborais fossem uma
ordem espontânea, onde tudo corre bem para todos, no melhor dos mundos.
(…)
Não é
aliás por acaso que o aumento do poder de compra do SMN esteve associado à
criação de tanto emprego.
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Desde
o final do século passado até 2024, segundo cálculos do economista Paulo
Coimbra, a produtividade terá crescido 23,9% e os salários reais apenas 11,9%.
(…)
O último refúgio das direitas é a desmemória em
relação ao contexto que gerou a troika.
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As elites do poder optaram por aceitar uma
reestruturação liderada pelo credor, com austeridade destrutiva associada.
(…)
A
austeridade imposta a partir de 2010-2011, com centenas de milhares de postos
de trabalho destruídos e com centenas de milhares de portugueses compelidos a
emigrar, a par do aumento da pobreza, foi um evitável desperdício, feito em
nome da consolidação de um modelo neoliberal.
João Rodrigues, “Público” (sem link)
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