quarta-feira, 3 de abril de 2024

CITAÇÕES À QUARTA (97)

 
Maria do Carmo é a protagonista do romance “Na Terra dos Outros”, recém-publicado pela Campo das Letras, a estreia de Manuel Abrantes na ficção.

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[Esta história é a] de milhares de mulheres que abandonaram, ainda crianças, as suas aldeias e o trabalho no campo para serem “criadas para todo o serviço” nas famílias da burguesia ou da pequena burguesia das grandes cidades.

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A história do país é pano de fundo da de Maria do Carmo.

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Na história de Maria do Carmo estão também as permanências, o peso da desigualdade, da subserviência e da dominação que mesmo processos revolucionários não fizeram desabar.

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Elas, as criadas, servem. E servem-se delas: os patrões, mas também o marido, e depois os filhos. 

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[O romance é] sobre a vida, com todas as suas contradições e aventuras e descobertas e fragmentos de agência que sempre restam, paralelamente aos sofrimentos calados.

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[Trata-se de um] documento precioso sobre o serviço doméstico, sobre a condição das mulheres, sobre as estruturas e as relações sociais, sobre as emoções humanas.

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Nos 50 anos da nossa Revolução, eis um romance notável sobre esse lado tantas vezes invisibilizado na memória oficial da sociedade portuguesa.

José Soeiro, “Expresso” online

 

O novo líder parlamentar do PSD confirmou a existência de um compromisso que o Chega teria traído, acusação que nunca fez aos socialistas.

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E mesmo depois de ter sido salvo pelo PS e de não contar com o voto da extrema-direita em Aguiar-Branco, o PSD não faltou com um único voto a Pacheco Amorim.

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[Luís Montenegro vai dizendo] que quem, cumprindo um compromisso eleitoral, não inviabiliza a passagem do programa do governo tem de garantir a legislatura.

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[Montenegro e Hugo Soares proclamam em dois avisis a] má-fé com que o novo governo se relacionará com entendimentos pontuais, tentando a todo o custo entregar a liderança da oposição ao Chega.

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Esta tentativa de amarrar o PS não exibe uma vontade de aproximação, mas de montar armadilhas pelo caminho.

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O que tem faltado é uma análise programática destas escolhas, que nos deviam dizer que convergências o PSD teria de fazer, se quisesse ser consequente.

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Independentemente de alguns ministros terem sido nomeadas para cargos técnicos pelo governo anterior (…), basta acompanhar as suas posições políticas e programáticas para perceber a sua natureza ideológica. 

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Este governo não foi pensado para convergir com o Partido Socialista. Pelo contrário.

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Está em causa o facto deste não ser apenas um governo fortemente político, mas marcadamente ideológico.

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Curiosamente, é sobre a corrupção que Montenegro está disponível para falar com todos, incluindo o Chega, sem neste tema dar preferência ao PS.

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A composição deste governo e o discurso de ontem indiciam uma política virada à direita.

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O programa dirá se se confirma a decisão do PSD governar como se tivesse maioria absoluta.

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Não se pode governar à direita, havendo uma maioria de direita, e exigir que o suporte dessa política seja a esquerda.

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A AD apresenta o seu programa, incluindo as reformas que defende (e que tiveram 29% dos votos) sem mudar uma linha, e exige que o PS o aprove.

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[Montenegro] quis encostar o PS à parede logo no primeiro dia, mostrando indisponibilidade para cedências. 

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Luís Montenegro exigiu responsabilidade e humildade a todos. Só as dispensou para si.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

Desde que o homem se pôs no centro do universo, sobrou para a mulher o canto, que desembocou na tensão permanente entre os géneros.

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Quem sonha com um tempo no qual os casais viviam felizes e satisfeitos com suas diferenças sofre de amnésia selectiva.

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Supor que no presente já se pode comemorar é ignorar a interdição do aborto, a escalada do feminicídio, a violência em todas as esferas e as injustiças institucionalizadas e atravessadas pela raça e pela classe.

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A luta contra a opressão de género afecta a todos, pois obriga a repensar o lugar de cada um no mundo.

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O sofrimento não pode ser subestimado, pois não é possível enxergarmos de uma vez por todas as dimensões nas quais a opressão opera.

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Todo dia nos deparamos com nosso machismo, todo dia precisamos combatê-lo.

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Dentro do capitalismo, no qual a exploração e não a cooperação é a base do funcionamento social, custará muito para destrincharmos os meandros nos quais género e subalternidade se confundem.

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A transformação que se dá no plano das ideias não acompanha o lento movimento das "camadas tectónicas inconscientes" que nos constituem.

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Entender a condição em que vivemos requer sustentar o tempo da sua transformação, que pode soar infindável.

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Daí o risco de desanimar e desistir de se relacionar — o que em alguns casos se mostra legítimo, claro

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Sem arranhar o verniz que lustra nosso narcisismo, estamos fadados ao inferno das eternas acusações mútuas.

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Sem assumir que algo em nós escapa à nossa própria pretensão, a conjugalidade continuará a ser sinónimo de ressentimento, choro e ranger de dentes.

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Cada um dos dois sozinho estará fadado à arrogância e ao fracasso.

Vera Laconelli, “Público” (sem link)

 

Invadida pelos interesses de um capitalismo desumanizado e desregulado, a democracia tem cedido aos discursos criadores de espectativas que não pode cumprir (…) à ilusão de um crescimento infinito que não se traduz na melhoria da qualidade de vida.

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Está rapidamente a soçobra à crescente influência das redes sociais.

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As redes sociais são, neste momento, arma preferencial dos ditadores atuais e potenciais.

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Têm uma enorme capacidade de criação de verdadeiros exércitos e seguidores, sobretudo nas camadas mais vulneráveis da sociedade.

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Estas democracias vulneráveis (…) depreciam o papel da educação, menosprezam o papel das humanidades, da arte, da música, da literatura, da história.

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A democracia tem de encontrar rapidamente meios para combater os que procuram a representação do caos, não olhando a meios.

João Nuno Tavares, “Público” (sem link)


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