(…)
[Esta história é a] de milhares de mulheres que abandonaram,
ainda crianças, as suas aldeias e o trabalho no campo para serem “criadas para
todo o serviço” nas famílias da burguesia ou da pequena burguesia das grandes
cidades.
(…)
A história do país é pano de fundo da de Maria do Carmo.
(…)
Na história de Maria do Carmo estão também as permanências, o
peso da desigualdade, da subserviência e da dominação que mesmo processos
revolucionários não fizeram desabar.
(…)
Elas, as criadas, servem. E servem-se delas: os patrões, mas
também o marido, e depois os filhos.
(…)
[O romance é] sobre a vida, com todas as suas contradições e
aventuras e descobertas e fragmentos de agência que sempre restam,
paralelamente aos sofrimentos calados.
(…)
[Trata-se de um] documento precioso sobre o serviço
doméstico, sobre a condição das mulheres, sobre as estruturas e as relações
sociais, sobre as emoções humanas.
(…)
Nos 50 anos da nossa Revolução, eis um romance notável sobre
esse lado tantas vezes invisibilizado na memória oficial da sociedade
portuguesa.
José Soeiro, “Expresso” online
O novo líder parlamentar do PSD confirmou a existência de um
compromisso que o Chega teria traído, acusação que nunca fez aos socialistas.
(…)
E mesmo depois de ter sido salvo pelo PS e de não contar com
o voto da extrema-direita em Aguiar-Branco, o PSD não faltou com um único voto
a Pacheco Amorim.
(…)
[Luís Montenegro vai dizendo] que quem, cumprindo um
compromisso eleitoral, não inviabiliza a passagem do programa do governo tem de
garantir a legislatura.
(…)
[Montenegro e Hugo Soares proclamam em dois avisis a]
má-fé com que o novo governo se relacionará com entendimentos pontuais,
tentando a todo o custo entregar a liderança da oposição ao Chega.
(…)
Esta tentativa de amarrar o PS não exibe uma vontade de
aproximação, mas de montar armadilhas pelo caminho.
(…)
O que tem faltado é uma análise programática destas escolhas,
que nos deviam dizer que convergências o PSD teria de fazer, se quisesse ser
consequente.
(…)
Independentemente de alguns ministros terem sido nomeadas
para cargos técnicos pelo governo anterior (…), basta acompanhar as suas
posições políticas e programáticas para perceber a sua natureza ideológica.
(…)
Este governo não foi pensado para convergir com o Partido
Socialista. Pelo contrário.
(…)
Está em causa o facto deste não ser apenas um governo
fortemente político, mas marcadamente ideológico.
(…)
Curiosamente, é sobre a corrupção que Montenegro está
disponível para falar com todos, incluindo o Chega, sem neste tema dar
preferência ao PS.
(…)
A composição deste governo e o discurso de ontem indiciam uma
política virada à direita.
(…)
O programa dirá se se confirma a decisão do PSD governar como
se tivesse maioria absoluta.
(…)
Não se pode governar à direita, havendo uma maioria de
direita, e exigir que o suporte dessa política seja a esquerda.
(…)
A AD apresenta o seu programa, incluindo as reformas que
defende (e que tiveram 29% dos votos) sem mudar uma linha, e exige que o PS o
aprove.
(…)
[Montenegro] quis encostar o PS à parede logo no primeiro
dia, mostrando indisponibilidade para cedências.
(…)
Luís Montenegro exigiu responsabilidade e humildade a todos.
Só as dispensou para si.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
Desde
que o homem se pôs no centro do universo, sobrou para a mulher o canto, que
desembocou na tensão permanente entre os géneros.
(…)
Quem sonha com um tempo no qual os casais viviam felizes e
satisfeitos com suas diferenças sofre de amnésia selectiva.
(…)
Supor
que no presente já se pode comemorar é ignorar a interdição do aborto, a escalada do feminicídio, a violência em
todas as esferas e as injustiças institucionalizadas e atravessadas pela raça e
pela classe.
(…)
A luta
contra a opressão de género afecta a todos, pois obriga a repensar o lugar de
cada um no mundo.
(…)
O
sofrimento não pode ser subestimado, pois não é possível enxergarmos de uma vez
por todas as dimensões nas quais a opressão opera.
(…)
Todo dia nos deparamos com nosso machismo, todo dia
precisamos combatê-lo.
(…)
Dentro
do capitalismo, no qual a exploração e não a cooperação é a base do
funcionamento social, custará muito para destrincharmos os meandros nos quais
género e subalternidade se confundem.
(…)
A
transformação que se dá no plano das ideias não acompanha o lento movimento das
"camadas tectónicas inconscientes" que nos constituem.
(…)
Entender a condição em que vivemos requer sustentar o tempo
da sua transformação, que pode soar infindável.
(…)
Daí o risco de desanimar e desistir de se relacionar — o que
em alguns casos se mostra legítimo, claro
(…)
Sem arranhar o verniz que lustra nosso narcisismo, estamos
fadados ao inferno das eternas acusações mútuas.
(…)
Sem
assumir que algo em nós escapa à nossa própria pretensão, a conjugalidade
continuará a ser sinónimo de ressentimento, choro e ranger de dentes.
(…)
Cada um dos dois sozinho estará fadado à arrogância e ao
fracasso.
Vera Laconelli, “Público” (sem link)
Invadida pelos interesses de um capitalismo desumanizado e
desregulado, a democracia tem cedido aos discursos criadores de espectativas
que não pode cumprir (…) à ilusão de um crescimento infinito que não se traduz
na melhoria da qualidade de vida.
(…)
Está rapidamente
a soçobra à crescente influência das redes sociais.
(…)
As
redes sociais são, neste momento, arma preferencial dos ditadores atuais e
potenciais.
(…)
Têm
uma enorme capacidade de criação de verdadeiros exércitos e seguidores,
sobretudo nas camadas mais vulneráveis da sociedade.
(…)
Estas
democracias vulneráveis (…) depreciam o papel da educação, menosprezam o papel
das humanidades, da arte, da música, da literatura, da história.
(…)
A
democracia tem de encontrar rapidamente meios para combater os que procuram a
representação do caos, não olhando a meios.
João Nuno Tavares, “Público” (sem link)
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