(…)
Havia mil perguntas a 7 de Outubro. E continuamos longe de
reconstituir o que se passou.
(…)
Há seis meses que vemos o inédito, e continuamos sem ver o
fundo.
(…)
O
Egipto continua uma ditadura, reprimindo islamistas em casa, travando os que
estão em Gaza. Faz o jogo de Israel desde 7 de Outubro, e reprime protestos
contra isso.
(…)
Entretanto
uma empresa chamada Hala está a facturar no Cairo. Tira palestinianos de Gaza
por 5000 euros. Por cabeça. Não é um segredo, anuncia no Facebook, já saíram
reportagens.
(…)
Manifestações pró-Palestina foram dispersas à força na
Jordânia.
(…)
Ao mesmo tempo, a Alemanha congelava contas de activistas
judaicos pró-Palestina.
(…)
A Alemanha, ajudada por Ursula Von der Leyen, encabeçou o
pior da Europa desde 7 de Outubro.
(…)
Milhões de pessoas sacrificadas sem que ninguém faça frente a
Israel, porque os nazis exterminaram seis milhões de judeus.
(…)
A culpa alemã é uma forma extrema de narcisismo.
(…)
O que
a maior parte dos governantes nos mostraram depois de 7 de Outubro é que a
culpa era mais importante do que a vida dos palestinianos.
(…)
É
verdade que Putin deu cabo de toda uma Rússia, e é uma ameaça para a Ucrânia e para toda a
Europa. Não é possível sobrestimar o seu perigo. E é verdade que o mundo tem
dualidade de critérios em relação à Palestina.
(…)
Fazer
frente a Putin não tira fazer frente a Israel. Israel não é um Estado menos
sinistro por Putin ser sinistro. Ou o regime do Irão ser sinistro.
(…)
O
Governo de Israel atacou o Irão como se não tivesse a sua própria casa a arder.
Ou, justamente, porque está a arder em casa.
(…)
Além,
claro, de [Israel] estar a levar a cabo em Gaza aquilo que cada vez mais
peritos pelo mundo consideram ser um genocídio.
(…)
O Parlamento do Canadá veta, enfim, mais armas para Israel.
(…)
O Conselho de Segurança da ONU demorou quase seis meses, mas
finalmente aprovou um
cessar-fogo.
(…)
Todos
os dias [Israel] tem desrespeitado o que o Tribunal Internacional de Justiça
decretara, para prevenir um genocídio. Um país a um passo do ostracismo
mundial, alertou há dias o ex-Presidente israelita Rivlin.
(…)
Nestes
mesmos dias, além de atacar o Irão, Israel ainda teve tempo de inventar uma lei
para banir a Al Jazeera. O Parlamento aprovou.
(…)
Supremacistas
judaicos, que além de quererem colonizar Gaza se apoderaram como nunca de
Jerusalém Oriental e da Cisjordânia, onde milhões de palestinianos estão também
reféns.
(…)
Aliás,
se Israel está a arder, é também porque uma parte de Israel já é uma teocracia.
Os partidos religiosos foram um cimento do sistema, em troco de os haredim
não servirem no Exército,
e serem subsidiados.
(..)
Não
são só erros graves, mostram a degradação das Forças Armadas israelitas, como
em Gaza “cada um faz o que quer”, segundo fontes do Exército também disseram ao
Haaretz.
(…)
O
discurso de Biden depois do 7 de Outubro revelou de forma cristalina como as
vidas palestinianas não contavam para ele como as israelitas.
(…)
[os EUA estão exasperados com “Bibi”]ainda assim,
acabam de mandar mais milhões de armas para Israel.
(…)
Os
palestinianos vivem um sacrifício sem precedentes, mas não vão desaparecer.
Novas gerações viram um holocausto em directo. A visão de Israel no mundo é
outra. A ruína moral rói os israelitas por dentro.
Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)
Esta manifestação [Caminhada pela Vida] dá visibilidade aos
movimentos conservadores em defesa da família tradicional e contra o aborto
legal e a eutanásia.
(…)
A
Federação pela Vida apropria-se da linguagem do movimento feminista e dos
direitos humanos, definindo o aborto “uma arma da opressão das mulheres”.
(…)
Consciente
de que a opinião pública é cada vez mais favorável à liberdade de escolha das
mulheres, o movimento antiaborto foi forçado a adaptar-se, tendo desenvolvido
argumentos aparentemente pró-mulher na defesa da criminalização do aborto.
(…)
O aborto é representado como inerentemente traumático,
comportando riscos elevados para a saúde física e mental de quem aborta.
(…)
A criminalização aparece assim como uma exigência de saúde
pública, que desvaloriza o papel das mulheres enquanto decisoras.
(…)
A IVG (interrupção voluntária da gravidez) é ainda vista como
uma afronta à liberdade das mulheres
(…)
A
Federação pela Vida denuncia o aborto como uma arma da opressão das mulheres,
argumentando que a maioria aborta por viver em situação de pobreza, sem apoio
familiar ou estatal.
(…)
[Nada indica que isto seja verdade porque] apenas 14,6%
das mulheres que abortaram por opção nas primeiras dez semanas de gravidez
estavam desempregadas.
(…)
Este
argumento tem por base a crença sexista de que é natural para uma mulher
aspirar à maternidade e, portanto, nenhuma mulher deseja realmente abortar.
(…)
Hoje,
mais do que nunca, é preciso dizê-lo: o aborto é normal, seguro e essencial
para a liberdade e autodeterminação das mulheres.
(…)
Está
na hora de parar de defender o aborto como um mal necessário, que se quer legal
mas raro, e passar a defendê-lo por aquilo que é: uma ferramenta para a
realização dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
(…)
Temos
o dever de dizer que nenhuma mulher é oprimida por poder abortar e o dever de
denunciar a apropriação da nossa luta, da nossa linguagem e dos nossos valores
pela direita iliberal.
(…)
Perguntemos também [à Federação pela Vida]: estarão do nosso
lado na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres?
Lúcia Pestana, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário