(…)
Passos tende a ser apresentado, de tempos a
tempos, como reserva moral da direita portuguesa.
(…)
Mas não nos enganemos. Não é uma guerra
cultural que temos pela frente no ciclo político que por agora se inicia.
(…)
Essa tentativa de criar um conflito sobre
identidades e família é, pelo menos por agora, totalmente artificial e
minoritária.
(…)
O país avançou e modernizou-se. É a própria
direita que prova que essa mudança é pacífica e bem-vinda na sociedade
portuguesa.
(…)
Na verdade, os dramas das mulheres portuguesas
estão na discriminação salarial; nos horários e turnos que dificultam a vida
familiar; nos salários baixos; e na violência cobarde que persiste exatamente
nos modelos de “família tradicional”.
(…)
Há falta de professores; as escolas ainda
degradadas; os apoios escolares para melhorar resultados; e a inquietação de
saber se haverá residências universitárias, caso os filhos tenham de ir estudar
para outra cidade.
(…)
A nova identidade salazarenta de Passos Coelho
é apenas um exercício oportunismo político. É um político em busca de um papel
e de uma agenda para o seu próprio protagonismo.
(…)
No novo quadro político, o que está em debate
são as questões do trabalho, dos rendimentos e dos apoios à iniciativa privada.
(…)
Dados recentes do Eurostat mostram que Portugal
é hoje o segundo país da União Europeia com maior número de contratos laborais
precários, e sabemos que permanece há décadas no fundo da tabela europeia dos
níveis salariais.
(…)
O que interessa saber é se o PSD se vai apoiar
na extrema-direita para reforçar uma legislação laboral que promove essa
precariedade e manter os entraves à contratação colectiva. Saber se tenciona
travar a subida do salário mínimo.
(…)
[Importante é] saber se o dinheiro dos
contribuintes será encaminhado não para os serviços públicos, mas para o sector
privado da saúde ou da educação. Saber se se avança com a privatização parcial
da segurança social; se o IRS das famílias vai pagar as rendas galopantes dos
senhorios; e se o orçamento das obras públicas – e o novo aeroporto – vão
servir para assegurar lucros fáceis sem necessidade de investimento, inovação
ou competitividade.
(…)
Mas o ciclo que temos pela frente é sobre
desigualdade social. É uma disputa sobre a distribuição de rendimentos e da
riqueza criada na economia: ou vai para aumentar os salários ou vai para
assegurar rentabilidades sem risco.
Ana Drago, “Diáriode Notícias”
A Administração da empresa [EDP] mantém um braço de ferro com
os trabalhadores e seus sindicatos, agindo de forma arbitrária, ignorando os
direitos laborais e ofendendo a dignidade dos seus trabalhadores.
(…)
Temos uma Constituição da República (CR), com princípios e
regras que não podem ser violados, mesmo para além dos “portões” das empresas.
(…)
O direito à negociação coletiva é um direito constitucional
bem definido.
(…)
O unilateralismo patronal, que está na “moda”, nega a
democracia.
(…)
A Administração rompeu a negociação com os sindicatos e
impôs, através de um ato de gestão, um aumento salarial de 3%, quando a empresa
teve, em 2023, um resultado líquido de 1300 milhões de euros
(…)
Os seus seis administradores aumentaram-se em 15% e têm
retribuições escandalosas.
(…)
São bem pagos os que roubam os trabalhadores! O seu mérito é
não terem escrúpulos.
(…)
A EDP é uma empresa estratégica para a economia nacional.
(…)
Os processos negociais serviam muitas vezes de referência
positiva para o mundo do trabalho.
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Em 2013 a Administração da EDP liderada por António Mexia
iniciou um vasto ataque à contratação coletiva e uma rutura geracional quanto
aos direitos laborais.
(…)
[O rosto da intransigência negocial da EDP tem sido] o
atual secretário de Estado do Trabalho, Adriano Moreira.
(…)
É muito positivo que os jovens estejam a intervir em força no
conflito em curso.
O meu cérebro de cientista fascina-se com a
verdade.
(…)
É o
querer saber porque é que a verdade existe e o que fazer com ela que me atrai
ao fenómeno religioso e à fé católica.
(…)
Assim,
e à primeira vista, o congresso
dos jovens da Família do Coração Imaculado de Maria, intitulado “Homens e
Mulheres de Verdade!” podia parecer-me interessante.
(…)
Os problemas começam na forma como os
organizadores do evento decidiram abordar este tema.
(…)
Ora a auto-rejeição proposta pelos
organizadores deste evento vai precisamente no sentido contrário ao ensinamento
magisterial.
(…)
Ao
convidarem uma psicóloga adepta das chamadas “terapias” de conversão sexual e
alguém que se apresenta como “ex-gay” deixam implícito que uma mudança de
orientação sexual não só é possível como desejável.
(…)
Um
estudo com mais de 30000 jovens LGBT+ mostrou que a sujeição a estas práticas duplica o risco de
suicídio, que é uma
das maiores causas de morte em adolescentes, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde.
(…)
Como
mulher feliz, orgulhosamente católica e gay, entristece-me e envergonha-me ver
certos sectores da Igreja Católica a insistir nestas práticas criminosas e
destrutivas, verdadeiros atentados à dignidade da pessoa humana.
(…)
Viver
em verdade implica expressar a minha identidade em todas as suas dimensões (das
mais banais às mais politizadas), de forma livre e em paz.
Maria Portela, “Público” (sem link)
O livro “Identidade e Família” juntou a nata do
ultraconservadorismo.
(…)
As pessoas que ali se juntaram não vieram das
profundezas da extrema-direita.
(…)
Apesar de Passos se ter mostrado confortável
com a presença de André Ventura (o que é central na leitura política do
evento), isso não o retira do seu espaço político.
(…)
Ele é uma figura central para o PSD, federação
heterogénea das direitas que sempre se moveu ao sabor da maré.
(…)
Não há, na atual liderança, um compromisso com
o combate à radicalização da direita
(…)
Montenegro fez a opção tática de tentar tirar
ao PS a liderança da oposição por via da chantagem. Mas não há sinais de
aproximação ao centro. Pelo contrário.
(…)
A não ser a opção de pôr toda a pressão da
governabilidade sobre o PS, deixando o Chega de mãos livres, nada coloca
Montenegro no terreno da resistência à radicalização da direita.
(…)
A vaga ultraconservadora a que assistimos é
assunto sério, tem especial impacto nos jovens e marcará o futuro da política e
da direita.
(…)
No aborto, na eutanásia, no casamento entre
pessoas do mesmo sexo, o PSD esteve quase sempre do lado da resistência à emancipação
individual.
(…)
O facto de um dos principais protagonistas
desta ofensiva ultraconservadora [Passos Coelho] ser quem se distinguiu como
jovem promessa liberal mostra como o vento mudou.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
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