sábado, 14 de junho de 2025

MAIS CITAÇÕES (337)

 
A ascensão do populismo radical, que desafia os avanços democráticos das últimas décadas, é um sinal claro de que algo está mal.

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Esta vaga populista, presente em quase todas as democracias ocidentais, reflete o descontentamento de muitos perante as promessas falhadas da globalização económica, da democracia e da liberdade.

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A globalização acelerou nas décadas de 1980 e 1990, com uma aposta clara na liberalização dos mercados e na responsabilização individual.

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O neoliberalismo defendia um Estado mais pequeno e menos interventivo, apostando em menos impostos, menos burocracia e menos regulação.

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Mais de quarenta anos depois, é evidente que a crença no mercado como panaceia para os maiores problemas revelou-se ilusória.

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O cidadão comum viu o papel do Estado nas suas vidas diminuir, a segurança no emprego enfraquecer e o seu nível de vida estagnar.

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A globalização fragilizou os Estados, forçando-os a competir entre si através de políticas fiscais e laborais cada vez mais desiguais.

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A liberalização dos movimentos de capital facilitou a deslocalização de indústrias para países com custos de produção muito inferiores, como os asiáticos.

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Em média nos países membros da OCDE (clube de países ricos), 10% da população no topo capturam cerca de 40% de todos os rendimentos frutos do trabalho, 40% da classe média levam cerca de 40%, e os restantes 50% mais pobres colhem apenas de 20% da distribuição dos rendimentos.

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Não há dúvida que o trabalho se tenha revelado um caminho para a prosperidade. Infelizmente, isso é verdade apenas para uma fasquia ínfima da população.

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Nos anos 80, as heranças passaram a ser o principal fator de desigualdade económica.

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Para a maioria dos trabalhadores, os salários e o poder de compra, ajustados à inflação, pouco evoluíram desde 1980.

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A erosão do papel do Estado e a estagnação dos salários foram acompanhadas por uma transformação profunda das instituições democráticas, frequentemente capturadas por interesses económicos e elites políticas.

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[A] “captura do Estado”, resulta numa democracia cada vez mais ao serviço de poucos, em detrimento do interesse coletivo.

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Quanto maior a concentração de riqueza, maior a capacidade de influenciar leis e políticas, perpetuando a desigualdade e minando a confiança dos cidadãos nas instituições.

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A perceção de que as decisões políticas beneficiam minorias poderosas, e não o interesse geral, reforça o ciclo de desconfiança, apatia e impotência.

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[Falta à maioria da população] formação e ferramentas para desenvolver opiniões políticas críticas e informadas.

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A evolução para uma democracia representativa reduziu o processo democrático a momentos eleitorais.

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A democracia deveria ser um processo contínuo de reflexão e deliberação, com participação alargada e informada, em que todos podem contribuir para definir prioridades políticas.

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Exemplos como os orçamentos participativos, já adotados em várias cidades, mostram que é possível aproximar o poder dos cidadãos.

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Para promover uma participação democrática mais igualitária, é fundamental garantir o acesso à informação, a pluralidade de pontos de vista e a compreensão das consequências de cada decisão política.

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A liberdade de expressão é uma das maiores forças das democracias, mas também pode ser um elo mais fraco, se não for acompanhada de literacia cívica.

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[Há que] investir sistematicamente na educação das suas populações sobre as dinâmicas, os direitos, obrigações e limites da cidadania.

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Reformar a cidadania implica reconhecer as fragilidades atuais das democracias liberais e agir em várias frentes: combater as desigualdades, devolver transparência e representatividade às instituições e investir de forma séria e sistemática na educação cívica.

Gonçalo Diniz, “Público” (sem link)

 

Os problemas sociais e políticos complexos, como são os que vivemos, têm um emaranhado de causas e consequências.

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[Lídia Jorge] teve a lucidez e a coragem de assumir a posição cívica que se impõe perante os desmandos crescentes dos extremistas, a quem todos os dias é estendida a passadeira para o espaço público, onde manipulam, mentem e semeiam ódio.

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A ideia de um grupo de lusitanos mantido puro num espaço por onde passaram e onde se mantiveram, em alguns casos por séculos, uma imensidão de povos e culturas é um embuste, uma mentira que o fascismo cultivou. 

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[Aos 21 anos] comecei a percecionar a maior das divisões que uma sociedade pode sentir: ter uma governação prenhe de “verdades” contra o seu povo.

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Apesar das enormes perdas, materiais e outras, sofridas pelas centenas de milhares que tiveram de regressar a Portugal, houve capacidade deles próprios e de toda a sociedade, para uma boa integração na vida coletiva do país.

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Portugal não é dos cristãos, nem dos muçulmanos, nem dos agnósticos ou dos ateus. É de todos eles, de todos nós.

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Lamentavelmente, um candidato presidencial titubeou perante os ataques à democracia.

Carvalho da Silva, JN

 

A ideia de que o mal pode ser cometido por pessoas ordinárias, que não questionam as estruturas do poder e agem com indiferença moral, ressoa profundamente diante das atrocidades contemporâneas, nomeadamente, na Ucrânia e em Gaza.

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Efetivamente, o conflito na Ucrânia demonstrou como decisões políticas insanas podem mergulhar milhões na violência.

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A indiferença cresce, tanto entre os executores, como nos observadores distantes, anestesiados pela repetição de imagens de horror.

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Por seu turno, na Faixa de Gaza, o ciclo de violência entre Israel e o Hamas alcançou níveis de brutalidade impensáveis.

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Civis palestinianos enfrentam uma catástrofe humanitária.

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Milhares de mortos, hospitais destruídos, e a utilização da fome como arma.

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[O mal aparece] como a consequência inexorável de um sistema que normaliza a violência, transformando vidas humanas em estatísticas ou meros danos colaterais.

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Nos dias de hoje a banalidade do mal emerge quando a vilencia se automatiza, despersonalizada, e se torna rotina.

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É neste contexto que o conceito da banalidade do mal deve ser hoje equacionado.

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A banalidade do mal atinge-nos a todos, ganhando novos meios: o descanso, o esquecimento, a indiferença.

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A banalidade do mal triunfa quando nos acostumamos com o inaceitável.

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Escrever, denunciar e lembrar é uma forma de resistência.

Santos Cabral, “Diário de Coimbra” (sem link)


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