Esta não é seguramente a altura do ano mais propícia para análises políticas muito profundas. Com a subida da temperatura do ar e o relaxamento típico característico dos períodos de férias (para quem ainda vai tendo trabalho), a tendência vai no sentido de não virarmos o nosso pensamento para os problemas mais complicados que nos afligem. De qualquer maneira, eles não desaparecem com a chegada do Verão e não podemos tapar o Sol com uma peneira.
Existe hoje uma ideia generalizada no sentido de se atribuir à deficiente qualidade das lideranças o impasse que se vive na Europa, tanto a nível global como no que se refere a cada país, individualmente.
É verdade que, se tomarmos Portugal como exemplo, não conseguimos encontrar actualmente, salvo raras excepções, políticos da qualidade que tivemos como nos primeiros tempos após a restauração da democracia. Nem vale a pena enumerarmos exemplos pois basta olharmos à nossa volta…
No que diz respeito ao resto da Europa, a situação não é muito diferente. No século XX, ninguém imaginaria que um país como a França tivesse como presidente da república uma personagem de opereta como é Sarkozy.
De qualquer maneira, para além da crise de lideranças, devemos reflectir no sentido das orientações políticas que vêm sendo tomadas e que pouco têm a ver com a efectiva defesa das necessidades das populações. Actualmente são os interesses do capital financeiro que determinam o essencial das nossas vidas. A existência do Estado Social como uma matriz do século XX transformou-se num empecilho para os donos do mundo. Tudo pode ser convertível em negócio, sem leis que o “atrapalhem”. A democracia é considerada coisa de extremistas de esquerda assim como a afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia.
Para além das lideranças, precisamos, particularmente, ter em conta o absoluto domínio do radicalismo neoliberal que tomou conta da sociedade europeia e que nos conduziu à situação catastrófica em que nos encontramos.
A propósito, achámos interessante completar este texto com um excerto de um artigo de opinião (*) do sociólogo Pedro Adão e Silva que vinha inserido no “Expresso” de ontem (4/8):
“Uma das ideias mais populares para explicar o impasse europeu é que enfrentamos uma crise de lideranças. É tentador pensar assim quando comparamos personalidades como Kohl, Miterrand e Delors com Merkel, Hollande e Barroso. Mas o mais provável é que lamentarmo-nos de que temos um problema com os lideres políticos sirva de pouco e não nos ofereça pistas para compreendermos o que é que está a correr mal na Europa.
Quem acredita que a crise se ultrapassa através da reinvenção de lideranças políticas, no fundo crê que, removidos os atuais políticos e substituídos por lideres carismáticos, os constrangimentos eleitorais domésticos desaparecerão por arte mágica. Pelo caminho a Alemanha seria capaz de concretizar o seu potencial hegemónico, desempenhando hoje o papel que o Reino Unido assumiu no século XX e os EUA no pós-Guerra – isto é, dinamizaria a economia europeia e permitiria, finalmente, que o BCE se tornasse um banco central à imagem dos existentes nos Estados-nação.
Este argumento, que é muito popular, esquece que a questão não é de liderança mas de poder. A este propósito, num interessante debate realizado há semanas, o politólogo norte-americano Daniel Drezner sublinhava no seu blog que acreditar que as coisas melhorariam desde que tivéssemos melhores lideres é um pouco como desejar que os políticos façam “as coisas certas”. Trata-se de um desejo razoável mas está longe de ser uma explicação ou uma prescrição.” (…)
“UMA QUERTÃO DE LIDERANÇA?”
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