quinta-feira, 9 de agosto de 2012

JUSTIÇA DE CLASSE

Todos nos lembramos das frequentes situações de microfurtos em hipermercados, cujo montante é irrisório mas que acabam por levar a tribunal os seus autores. Não passaria pela cabeça de ninguém que o dinheiro dos contribuintes possa servir para levantar um processo a um cidadão que furtou um champô numa grande superfície. A reacção do cidadão comum é do tipo “só em Portugal é que isto acontece”. Só que…

Todos nos recordamos dos motins que tiveram lugar em Londres há cerca de um ano. Pois bem, ficámos há pouco a saber que um cidadão português que vive em Manchester desde criança foi condenado a 16 meses de prisão por ter furtado, de uma loja, um gelado, durante esses acontecimentos, correndo ainda o risco de vir a ser deportado para Portugal como consequência da pena. Ao mesmo tempo que isto sucede, por terras britânicas, o reino de Sua Majestade continua a acolher o nosso conhecido advogado João Vale e Azevedo… Afinal, parece que a existência de uma justiça para pobres e outra para ricos talvez seja, acima de tudo, uma característica das sociedades marcadamente classistas.

A propósito, talvez tenha interesse completarmos esta ideia com a leitura de uma crónica que hoje encontrámos no “Diário As beiras”, assinada por Francisco Queirós. Começa assim:

“Anderson Fernandes, português, 22 anos, vive em Manchester desde criança. Agora arrisca-se a ser deportado para Portugal, onde só viveu quando era bebé por um par de anos depois de ter saído com os pais de Angola onde nasceu.

Anderson, durante os motins que agitaram a Inglaterra no verão do ano passado, roubou um gelado. Ele próprio relata o caso que mudou a sua vida: ”entrei na loja porque as luzes estavam acesas e a porta aberta. Entrei para comprar qualquer coisa. Mas quando estava lá dentro percebi que não havia ninguém, por isso servi-me na máquina de gelados, tirei um gelado e saí.” E acrescenta: ”Quando cheguei cá fora, comecei a comer, mas era de café e decidi deitá-lo fora. Uma rapariga que estava perto disse ‘se não gostas, dá-mo’. Então fui até à paragem do autocarro e fui para casa.””

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