domingo, 9 de março de 2014

FALTAR À VERDADE DE FORMA REITERADA E CONSCIENTE


Durante o debate quinzenal desta semana, o primeiro-ministro abespinhou-se muito, com Catarina Martins, a líder bloquista, por ela afirmar com desassombro que a palavra do chefe do Governo não vale nada. Ela não fez mais do que dar voz àqueles que, há muito, deixaram de acreditar nas promessas de Passos Coelho. Aliás, o homem da rua simplifica a expressão de Catarina Martins numa palavra apenas: mentiroso. Quem falta à verdade de forma reiterada e consciente não pode ser classificado senão como mentiroso. A intenção da maioria de direita é muito clara no sentido do empobrecimento generalizado dos portugueses, cujas camadas mais pobres estão a ser severamente atingidas. Mas não é isso que nos tem sido transmitido, numa tentativa de mascarar a verdade, de um modo particular com a aproximação de actos eleitorais. Depois de os votos caírem nas urnas, lá vem a crua realidade com mais uma colossal dose de austeridade a juntar à desgraça que já nos atingiu.
Tendo em atenção que as eleições para o Parlamento Europeu estão à porta, os portugueses precisam estar cada vez mais atentos aos cânticos de sereia vindos da parte do Governo que usará todos os estratagemas e papagaios às suas ordens, para nos convencer de uma realidade diferente daquela que está à vista de todos. Por isso, é muito importante conhecermos a opinião de pessoas insuspeitas de qualquer radicalismo nas suas fortes críticas à maioria de direita e ao seu chefe. É o caso deste pequeno texto de Nicolau Santos que recolhemos do Expresso Economia de ontem.
Desde 2011 que o primeiro-ministro afirma que os cortes salariais e pensões e os aumentos de impostos são provisórios, temporários, excecionais. Desde 2011 que o primeiro-ministro vende esta versão aos portugueses e ao Tribunal Constitucional, para este não declarar inconstitucionais estes cortes. Desde 2011 que o primeiro-ministro dá a entender que estes cortes provisórios, temporários, excecionais têm um horizonte: o final do programa de ajustamento. Pois, esta semana, o primeiro-ministro foi claro: os salários e pensões não voltam aos níveis de 2011 – embora os cortes salariais na função pública sejam temporários. Deixo para os leitores o qualificativo a atribuir a uma pessoa que durante três anos diz uma coisa e depois faz outra. Deixo para os crentes a ideia de que os cortes salariais na função pública são temporários. Olho apenas para os números: mais de meio milhão de salários penhorados por dívidas fiscais em 2013 num universo de cerca de 5 milhões de trabalhadores por conta de outrem. Se isto não é um enorme drama social não sei o que é. 

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