terça-feira, 29 de dezembro de 2015

DINHEIRO PÚBLICO DEFENDE BANCA PRIVADA


Muita tinta tem feito correr o caso Banif e não é mal que assim aconteça para alertar os portugueses relativamente a futuras situações de bancos em dificuldades que acabam por ser salvos pelo dinheiro dos contribuintes, sem qualquer justificação, na medida em que, como defende a doutrina neoliberal vigente, na sua forma mais radical, é preciso deixar o mercado funcionar… O que, de facto parece é que, as leis do mercado são iguais para todos mas há alguns que estão isentos do seu cumprimento.
Na realidade, o capital financeiro enquadra-se no grupo dos isentos e, qualquer que seja a irresponsabilidade ou má-fé que em cada momento por lá campeie há sempre o respaldo do dinheiro de todos nós para safar as situações de aperto ou proporcionar bons negócios. Mais uma vez foi isso que aconteceu com o Banif, com um resultado altamente favorável, desta vez para “o maior banco da eurozona” como salienta José Vítor Malheiros no curto mas elucidativo texto que retirámos da sua crónica de hoje no Público.
Ainda sobre o Banif, vamos lá ver se eu percebi. A Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia recusou uma injecção de capital do Estado português no Banif porque isso constituiria uma entorse às regras da concorrência bancária, da mesma forma que recusou a integração do Banif na Caixa Geral de Depósitos, pelas mesmas razões. Mas a mesma DG-Comp aceitou agora a injecção de 2.200 a 3.000 euros no mesmo Banif (aliás: forçou essa medida) quando se tratou de vender a parte boa do Banif ao Banco Santander, que é, por acaso, o maior banco da eurozona.
Ou seja: a DG-Comp usou todos os instrumentos possíveis para inviabilizar como banco independente (ou como parte integrante da CGD) o Banif - que a sua administração, pela boca de Jorge Tomé, espantosamente, garante que estava de pedra e cal - mas parece ter usado igualmente todos os instrumentos ao seu alcance para beneficiar o grande banco Santander nesta transação.
Acontece que a mesma DG-Comp tinha recusado nos últimos tempos, segundo as notícias vindas a lume, oito planos de reestruturação do Banif e sempre defendeu, aparentemente como posição de princípio, que o Banif era insustentável como banco independente. Assim, para além da análise da acção (ou inacção) do XIX governo (de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque) e do governador do Banco de Portugal, assim como do actual governo, a comissão parlamentar de inquérito do Banif deverá debruçar-se atentamente sobre a acção ao longo deste caso da poderosa DG-Comp da União Europeia, que pareceu determinada em aproveitar a oportunidade de liquidar um pequeno banco português para engordar um grande banco espanhol, à custa dos contribuintes portugueses.

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