O Prof. Boaventura Sousa Santos (BSS)
define capitalismo, no “Dicionário das
crises e das alternativas”, como “um modo de produção de mercadorias (bens
e serviços) que assenta na separação entre o capital, que detém a propriedade
dos meios de produção (máquinas, sistemas de gestão e informação, tecnologias e
matérias primas), e a força de trabalho, que mobiliza esses meios para produzir
riqueza”. Acrescenta BSS, mais à frente, que, “para além da contradição entre o
capital e o trabalho, o capitalismo gera uma contradição entre o capital e a
natureza. A natureza é concebida pelo capital como uma fonte potencialmente inesgotável
de matérias-primas, um tipo, entre outros, de mercadorias. Acontece que as
matérias-primas são uma falsa mercadoria, já que não foram produzidas pelo
trabalho humano, os recursos naturais não são inesgotáveis e a sua exploração
acarreta consequências sociais e ambientais extremamente gravosas para as
populações e para a natureza”. Ora, é exactamente deste ponto que o planeta em
que vivemos está a aproximar-se, numa situação em que a sobrevivência da espécie
humana começa a ficar em risco. Urge arrepiar caminho, antes que seja demasiado
tarde, e têm de ser as populações e os seus legítimos representantes a tomar a
iniciativa pois não se pode esperar que o sistema capitalista, agora hegemónico
em todo o mundo, e cuja principal finalidade é o lucro, venha a desenvolver
quaisquer diligências que possam colocar em causa o seu objectivo fundamental.
Quer isto dizer que faz todo o sentido a
interpelação do Bloco de Esquerda ao Governo, sobre emergência climática, que
hoje está a ter lugar na Assembleia da República. O objectivo é que, no mais
curto prazo, Portugal, tal como já aconteceu com o Reino Unido e com a Irlanda,
apresente no Parlamento uma declaração de Estado de Emergência Climática.
Tem todo o cabimento que o
nosso país se encontre na vanguarda da luta contra as alterações climáticas,
uma vez que nos encontramos na linha das catástrofes causadas pelos transtornos
que o clima está a sofrer e poderemos ser um alvo a curto/médio prazo.
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