Dias espessos, estes, em que a
volatilidade se mistura com o pavor.
(…)
O que faz sentido é reconhecer o medo e
a sua razão de ser e ir a essa raiz com toda a eficácia e com toda a
competência.
(…)
Termos um Serviço Nacional de Saúde
qualificado e democrático foi, na fase de contenção, um recurso de valia
inestimável e talvez nunca como agora o país se tenha apercebido dessa valia do
SNS como instrumento de defesa da nossa segurança coletiva.
(…)
Nesta hora de emergência, em que o SNS
será sujeito a uma pressão certamente excessiva, o país não compreenderá que o
envolvimento da medicina privada e social na resposta se faça numa lógica de
business as usual.
(…)
Sim, é também agora que a opção pelos de
baixo tem sentido e define campos na política.
É com o Serviço Nacional de Saúde que
todos contamos: todos os meios existentes devem agora ser colocados ao seu
serviço.
(…)
Para que as pessoas possam parar, é
preciso que haja condições e que se garantam os seus rendimentos, sob pena de
somarmos à crise epidemiológica e sanitária uma crise social.
(…)
Por isso, proteger todos e não deixar
ninguém para trás deve ser uma prioridade.
(…)
É imprescindível garantir, a este nível
[caso dos recibos verdes], que um limiar mínimo absoluto permita pagar as
contas básicas.
(…)
Num momento destes, não pode haver
despejos nem cortes de água ou de luz.
(…)
A ortodoxia económica e o fetiche do
superavit orçamental devem ser, assim, imediatamente abandonados.
(…)
A obsessão com o cumprimento de metas
irracionais estabelecidas nos tratados seria de uma intolerável inconsciência e
irresponsabilidade.
Ainda está por medir a
dimensão do desafio de roleta que levou o Governo a esperar pela declaração de
pandemia pela Organização Mundial de Saúde para finalmente encerrar as escolas.
Há que vencer medos e, por
outro lado, não permitir que se jogue com a vida das pessoas para gerar crises
económicas ou políticas, ou para fazer da sua gestão um aprofundamento das
injustiças e desigualdades.
(…)
Continuamos a ter
açambarcadores de vários tipos - desde os que açambarcam papel higiénico até
aos açambarcadores globais tipo Trump
(…)
Precisamos de investimento
e de crédito que salvaguardem o emprego e impeçam a redução dos salários.
(…)
Não se pode adiar mais o
financiamento público do sistema de saúde e da proteção social.
(…)
Precisamos de caminhos
novos para a especialização da nossa economia, diversificando-a. O afunilamento
no turismo é perigoso.
(…)
Há que reconstruir redes
locais de fornecimentos diversos e novas formas de lidar com as catedrais do
consumo.
A humanidade tem uma longa
história de defrontar epidemias e pandemias.
(…)
[O mundo mudou muito] e é
nesse mundo que a pandemia
da covid-19 se desenvolve e, se não fosse trágico,
poder-se-ia dizer que a natureza nos ofereceu um laboratório sobre as doenças,
mas também, e sobretudo, sobre os comportamentos humanos, sem paralelo.
(…)
Um dos principais aspectos
da actual crise pandémica é a absoluta, contínua, maciça dose de informação,
comunicação, desinformação que todos estão a receber, sem sequer poderem parar
para pensar.
(…)
[Há a desinformação
disseminada pelas chamadas redes sociais] onde proliferam falsas notícias,
teorias conspirativas, pseudociência, boatos, tribalismo e populismo.
(…)
Entre a prudência e o
medo, o medo é mais poderoso, e o medo moderno, comunicacional, urbano, entre o
telemóvel e a Rede, é tão inesperado e tão pouco experienciado nas sociedades
sem guerra, que leva à paranoia.
(…)
Para quem não está na
primeira linha de risco, é na cabeça que os estragos vão ser maiores.
Pacheco
Pereira, “Público” (sem link)
Aos profissionais de
saúde, é merecido o reconhecimento do seu esforço e a certeza de como serão
determinantes para vencermos esta batalha [contra o covid-19].
(…)
A forma leviana como
alguns desvalorizaram o impacto do vírus covid-19 mostra bem como nem todos têm
estado à altura das responsabilidades que enfrentamos.
(…)
O presidente dos EUA
começou por desvalorizar os alertas mundiais [sobre o covid-19] que apresentou
como um “novo embuste”.
(…)
Entretanto, foi passando
uma mensagem de falsa segurança às pessoas, com custos inequívocos que se
contabilizarão no futuro próximo.
(…)
[Outro dos negacionistas
foi Bolsonaro mas] a suprema ironia é que um dos seus principais assessores já
confirmou ter contraído a covid-19.
(…)
[Políticos como Trump e
Bolsonaro] negam ou criam suspeitas sobre a ciência, inimiga figadal das suas
narrativas, e transformam o debate no “nós contra eles”.
(…)
Não há qualquer vergonha
ou embaraço em tentar aproveitar uma pandemia para benefício político, é assim
a extrema-direita.
(…)
A saída desta crise está
numa palavra que a extrema-direita detesta: solidariedade.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
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