Em Portugal, como nos
restantes países da União Europeia, vivemos a consequência da desistência da
luta pelos direitos do trabalho, do combate à pobreza e às desigualdades e da
defesa do Estado social.
(…)
Nestes dias, é impossível
não pensar nas pessoas que vivem sozinhas, nas pessoas com deficiência, nas
pessoas sem abrigo, nos refugiados, nos cuidadores informais, enfim, em tanta
gente a quem as medidas de contingência não chegam ou nem sequer têm condições
para pô-las em prática.
(…)
As crises tornam ainda
mais visíveis as desigualdades e a injustiça.
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O reforço dos serviços
públicos, dos direitos laborais e da proteção social são mesmo os instrumentos
fundamentais para sairmos mais fortes e mais humanos de tudo isto.
Como alguém escreveu num lençol
pendurado na fachada de um prédio madrileno, “a romantização da quarentena é um
privilégio de classe”.
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Para as pessoas em situação de
sem-abrigo ou para os migrantes a viver em contentores nas explorações
agrícolas do Alentejo, o slogan “Fica em Casa” pode soar como uma mera piada de
mau gosto.
(…)
Em tempos de confinamento e de crise
pandémica, todas as desigualdades – de género, de classe, de idade,... – se
amplificam.
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A “quarentena” é, para muita gente, um
momento de desespero.
(…)
Os tempos da pandemia já soltaram também
outras epidemias sociais.
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Neste momento, estamos a assistir a
milhares de despedimentos, muitos deles selvagens.
Ninguém duvida das boas
intenções mas todos nos questionamos sobre se os recursos e capacidade
instalada serão suficientes para fazer face aos picos de Abril e Maio.
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Sente-se o desespero dos
cidadãos britânicos, num ensaio sobre a perplexidade, a questionarem se as
medidas e o caminho tomado pelo Governo têm, pelo menos, alguma base
científica.
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Temos condições para
evitar o pelotão da frente dos números de mortalidade na Europa, caso saibamos
olhar para os exemplos de Itália e Espanha, China e Macau, e aprender com isso.
Temos a obrigação de tudo
fazer para que a crise pandémica não se transforme numa crise social sem
precedente.
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Será uma violência contra
quem trabalha e contra o desenvolvimento da sociedade, o trabalho e o emprego
ficarem entregues às regras vigentes do "mercado de trabalho" e a
decisões discricionárias de empregadores.
(…)
Os apoios públicos (às
empresas) - dinheiro de todos - não devem ser concedidos sem a contrapartida de
salvaguarda dos postos de trabalho.
(…)
É imperioso um apelo a
todos os empregadores, desde os grandes grupos económicos até aos empregadores
domésticos: resistam à tentação de despedir aqueles de que momentaneamente não
precisam.
(…)
A excecionalidade que
estamos a viver apela a que se adote legislação e todas as medidas possíveis e imaginárias
que travem os despedimentos.
O temor fará agora com que
as nossas vidas passem para um outro patamar de organização, cuidado e reserva.
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