(…)
[Há muitas] mulheres,
com crianças a seu cargo, que não têm como procurar emprego ou que foram
descartadas precisamente por terem filhos. Estão no limite e não sabem já o que
fazer.
(…)
Se em 2020 o Orçamento
Suplementar previu a prorrogação até ao fim do ano do subsídio social de
desemprego para 33 mil pessoas, o Orçamento para 2021 deixou-as num vazio de proteção.
(…)
Alertámos na altura,
mas o importante nem é se tínhamos razão, mas sim a urgência de encontrar agora
uma resposta para esta situação insuportável.
(…)
Que resposta dá o
Governo e o Orçamento? Remete-as para o “Apoio Extraordinário ao Rendimento dos
Trabalhadores”, que só agora foi regulamentado e que ainda nem sequer pode ser
requerido.
(…)
Quando puderem pedi-lo,
para a semana, estas desempregadas terão de seguir as instruções que constam de
um guia com 65 slides que a Segurança Social disponibilizou e que implica um
imenso calvário burocrático.
(…)
As que couberem na
apertada malha do “apoio extraordinário” receberão em muitos casos menos que o
valor do subsídio social.
(…)
As que vierem a ser
contempladas com a medida que há meses o Governo anuncia, sabem também o que o
presente lhes reserva: esperar semanas e semanas até saberem o resultado da
candidatura.
(…)
Além desta
incompreensível ausência – que poderia ter sido facilmente evitada com a
prorrogação automática, pelo menos por seis meses, de todos os subsídios
sociais e subsídios de desemprego que estavam em pagamento em dezembro – há
ainda a confusão instalada nos apoios aos recibos verdes.
(…)
Para quê tanta
confusão, tanta entropia, tanto ruído desnecessário, tanta sobrecarga de
trabalho, tanto obstáculo, logo agora que precisávamos de soluções simples e
generosas.
(…)
Num momento de aflição
como este, é compreensível que as pessoas tomem tudo isto como uma afronta.
José Soeiro, “Expresso” Diário
O triunfo ou a morte de
uma empresa no mercado financeiro só depende do jogo das expectativas, é “o
resultado das atividades de um casino”, explicava John Maynard Keynes em
1936.
(…)
Convenha-se que a
comparação com a ciência de um casino é algo depreciativa, mas indica o risco
deste mundo abissal.
(…)
Ao longo dos últimos 20
anos, as operações de entrada em Bolsa renderam 657 mil milhões de dólares nos
Estados Unidos.
(…)
A Bolsa é sempre um
jogo de soma nula, o que uns ganham é o que outros perdem, e ela não pode ser
vencida no seu próprio terreno.
(…)
[A Bolsa é, um jogo de
especulação] e de poder concentrado, dado que os 10% mais ricos nos EUA têm 84%
do total das ações.
(…)
O jogo financeiro é uma
avenida de enriquecimento para quem tem poder.
(…)
Está escrito, as
propostas que procuram racionalizar este mercado contra bolhas explosivas, como
uma taxa de 0,1% sobre as transações, para reduzir a alta frequência [ficará em
vãs promessas].
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Ou seja, a iniciativa
privada quer que o sector público lhe pague as despesas e lhe proteja o
negócio.
(…)
Um operador político
estende o chapéu ao Estado, não para que o ajude a singrar ou para colaborar
numa urgência sanitária, mas para que os dinheiros públicos lhe prometam a
caixa registadora.
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A colocação das respostas a necessidades fundamentais dos
cidadãos na gaveta funda, o egoísmo e a supremacia do deus lucro, são
demolidores.
(…)
Nas agendas dos países ricos, a preocupação com a saúde dos
povos dos países pobres nem sequer merece um registo de rodapé.
(…)
[Em Portugal], desde que se garanta o "bom"
funcionamento do sistema financeiro, se assegure estabilidade a poderes
dominantes, se executem as imposições comunitárias, se invoque que são opções
para conter o défice e a dívida, tudo está certo: o povo que aguente.
(…)
Portugal é o terceiro país da Zona Euro que mais baixo
apoio orçamental deu à economia em 2020 e dos que menos protegeram os cidadãos:
o povo sofre, o Governo desacredita-se, a democracia enfraquece e o futuro
torna-se mais negro, mas "poupamos".
(…)
Há contextos em que um país tem mesmo de se endividar para
poder investir.
(…)
A tão festejada bazuca, 13,2 mil milhões, definida em meados
do ano passado, não cobre sequer o aumento da dívida.
(…)
Com o prolongamento da pandemia e o país em regime de gaveta
funda, os problemas agravam-se e acentua-se a clivagem com os países ricos.
(…)
Uma sociedade pobre e desigual é uma sociedade doente. Nela a
democracia mirra e o chico-espertismo e o egoísmo imperam.
O facto da esmagadora maioria dos cidadãos aceitarem
prescindir, sem remoque, de parte fundamental dos seus direitos e liberdades em
nome da saúde pública, confirma que a covid-19 é um agente agregador e que não
está a matar a democracia.
(…)
Apesar do abrandamento e de, aparentemente, termos
ultrapassado o pico da terceira vaga, continuamos destacadíssimos como exemplo
do maior número de novos casos e novas mortes por milhão de habitantes.
(…)
Entre a confiança, o cansaço, o sucesso e as dúvidas, o
denominador comum a todo o processo de vacinação na UE é o indiscutível atraso.
(…)
Enquanto se discutem os pequenos descuidos e os enormes
abusos no processo de administração de vacinas em Portugal, a grande ilusão
está na forma misteriosa como as empresas farmacêuticas driblam os acordos
firmados.
Associado
ao reaparecimento internacional da extrema-direita e dos nacionalismos, e
bebendo grande parte do seu impacto nas estratégias do populismo, este coloca a
democracia perante um desafio.
(…)
O
Bloco de Esquerda não pertence a este universo [da extrema-esquerda], já que
atua essencialmente «dentro do sistema», embora com o objetivo de alterar e de
reformar os seus aspetos negativos.
(…)
[O
inimigo da extrema-direita] não é, pois, uma ausente extrema-esquerda, mas a
própria democracia.
(…)
É ela
[democracia] que, precisando ser ampliada e aperfeiçoada, tem em primeiro lugar
de ser defendida contra os seus inimigos, que dela se servem para a procurarem
destruir.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
A luta contra a doença
[covid-19] não pode ser feita suspendendo a luta pela democracia e substituindo
o Estado de direito pelo estado de emergência.
(…)
É evidente que o Governo
perdeu o controlo da situação em matéria de Saúde e por aí arrastou as escolas
para a capitulação.
(…)
O que acontecer daqui para a
frente não ficará a dever-se à capacidade do Governo para intervir. O seu tempo
político foi gasto em mentiras e em bazófias de resultados próximos do zero.
(…)
A experiência do ensino remoto
ou de emergência (que não à distância, como impropriamente é por vezes chamado)
no ano passado foi má. Foi geradora de desigualdades, que deixou mais para trás
os que já estavam mais atrás.
Santana Castilho, “Público” (sem link)
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