domingo, 7 de fevereiro de 2021

VACINAS: OS CIDADÃOS EUROPEUS PAGARAM MAS NÃO MANDAM

 

Relativamente ao oportuno artigo que veio à estampa no “Público” de hoje, assinado pelos bloquistas José Gusmão, Moisés Ferreira e Bruno Maia, onde se denuncia a forma humilhante em que a Comissão Europeia se deixou colocar ao assinar contratos com as multinacionais farmacêuticas em que os Estados financiaram abundantemente o desenvolvimento da vacina contra a covid19, permitindo que a mesma ficasse propriedade daquelas empresas, coisa que é pouco referida à opinião pública. Desse artigo retirámos os seguintes excertos que considerámos mais relevantes.

 

A pandemia da covid-19 testou a capacidade de todas as instituições internacionais para uma resposta global. Os Estados pagaram, a ciência cumpriu. Mas a solidariedade que fez aparecer a vacina desapareceu logo a seguir.

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Os autores do apelo [para o desenvolvimento rápido de uma vacina] sabiam do que falavam. E a resposta inicial continha elementos promissores. O desenvolvimento da vacina contou com um abundante financiamento público dos Estados.

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A Comissão Europeia assinou contratos secretos que, depois de muita insistência, foram divulgados com rasuras sobre tudo o que interessava.

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A questão decisiva rapidamente se esclareceu: as vacinas cujo desenvolvimento foi pago pelos Estados europeus eram propriedade absolutamente privada. 

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Os Estados garantiram patentes para as suas empresas, colocando um gargalo na distribuição e assegurando que ficavam no primeiro lugar da fila para receber a vacina.

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O ritmo de produção ficou totalmente subordinado à gestão das farmacêuticas, ditada pela maximização de um negócio sem precedentes.

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Depois de financiar fortemente o desenvolvimento das vacinas, a Comissão [Europeia] prescindiu de quaisquer direitos de propriedade e os contratos secretos apenas obrigam as farmacêuticas aos seus “melhores esforços”.

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Hoje, a Comissão encontra-se na humilhante posição de mendigar as vacinas encomendadas junto das empresas que financiou. Os cidadãos pagaram mas não mandam, num negócio em que se misturam fanatismo liberal, captura das instituições e incompetência pura.

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Os serviços nacionais de saúde montaram sistemas de vacinação que funcionam aos solavancos, por força das insuficiências, flutuações e incerteza nas entregas.

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Guterres chamou à vacina um sucesso para a ciência, mas um fracasso para a solidariedade.

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As multinacionais farmacêuticas e as potências mundiais parecem viver bem com uma catástrofe humanitária à escala global.

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Aqui chegados e com tanto do mal já feito, de pouco servirão as ameaças absolutamente vazias de litigância.

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De pouco valerá à Comissão continuar a gritar “temos aqui um contrato”, sobretudo tendo em conta o que lá está escrito.

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A capacidade produtiva existente deve ser plenamente utilizada e alargada, na medida do possível.

José Gusmão, Moisés Ferreira e Bruno Maia, “Público”


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