Relativamente
ao oportuno artigo que veio à estampa no “Público” de hoje, assinado pelos
bloquistas José Gusmão, Moisés Ferreira e Bruno Maia, onde se denuncia a forma
humilhante em que a Comissão Europeia se deixou colocar ao assinar contratos
com as multinacionais farmacêuticas em que os Estados financiaram
abundantemente o desenvolvimento da vacina contra a covid19, permitindo que a
mesma ficasse propriedade daquelas empresas, coisa que é pouco referida à
opinião pública. Desse artigo retirámos os seguintes excertos que considerámos
mais relevantes.
A pandemia da covid-19 testou
a capacidade de todas as instituições internacionais para uma resposta global.
Os Estados pagaram, a ciência cumpriu. Mas a solidariedade que fez aparecer a
vacina desapareceu logo a seguir.
(…)
Os autores do apelo [para o desenvolvimento
rápido de uma vacina] sabiam do que falavam. E a resposta inicial continha
elementos promissores. O desenvolvimento da vacina contou com um abundante
financiamento público dos Estados.
(…)
A Comissão Europeia assinou contratos secretos
que, depois de muita insistência, foram divulgados com rasuras sobre tudo o que
interessava.
(…)
A questão decisiva rapidamente se esclareceu:
as vacinas cujo desenvolvimento foi pago pelos Estados europeus eram
propriedade absolutamente privada.
(…)
Os Estados garantiram patentes para as suas
empresas, colocando um gargalo na distribuição e assegurando que ficavam no
primeiro lugar da fila para receber a vacina.
(…)
O ritmo de produção ficou totalmente
subordinado à gestão das farmacêuticas, ditada pela maximização de um negócio
sem precedentes.
(…)
Depois de financiar fortemente o
desenvolvimento das vacinas, a Comissão [Europeia] prescindiu de quaisquer
direitos de propriedade e os contratos secretos apenas obrigam as farmacêuticas
aos seus “melhores esforços”.
(…)
Hoje, a Comissão encontra-se na humilhante
posição de mendigar as vacinas encomendadas junto das empresas que financiou.
Os cidadãos pagaram mas não mandam, num negócio em que se misturam fanatismo
liberal, captura das instituições e incompetência pura.
(…)
Os serviços nacionais de saúde montaram
sistemas de vacinação que funcionam aos solavancos, por força das
insuficiências, flutuações e incerteza nas entregas.
(…)
Guterres chamou à vacina um sucesso para a
ciência, mas um fracasso para a solidariedade.
(…)
As multinacionais farmacêuticas e as potências
mundiais parecem viver bem com uma catástrofe humanitária à escala global.
(…)
Aqui chegados e com tanto do mal já feito, de
pouco servirão as ameaças absolutamente
vazias de litigância.
(…)
De pouco valerá à Comissão continuar a gritar
“temos aqui um contrato”, sobretudo tendo em conta o que lá está escrito.
(…)
A capacidade produtiva existente deve ser
plenamente utilizada e alargada, na medida do possível.
José Gusmão, Moisés
Ferreira e Bruno Maia, “Público”
Sem comentários:
Enviar um comentário