domingo, 1 de agosto de 2021

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Em plena crise climática, as florestas um pouco por todo o mundo ardem, transformando este contrabalanço do aumento de temperatura e do dióxido de carbono num sistema degradado.

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Simultaneamente, numa espécie de vingança biológica, é no interface da desflorestação que se produzem as pandemias actuais e futuras.

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A desflorestação intencional é uma declaração de guerra à vida.

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As florestas globais estão altamente fragmentadas, vítimas da cobiça capitalista por solos, madeira, animais, propriedade.

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Nós, enquanto espécie, beneficiamo-nos também desses sistemas [florestais].

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Se a principal causa da desflorestação é a cobiça pelos valores naturais que residem nas florestas (…) –, o que sobra depois da rapina (…) é a devastação absoluta da complexidade e da abundância. 

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A desflorestação produz escassez, debilidade e doença. Literalmente mata-se a galinha dos ovos de ouro.

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Que não haja qualquer equívoco: as empresas ditas “florestais” não trabalham em florestas, excepto naquelas que destroem, operam no campo da extração. 

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Monoculturas de plantas de espécies florestais nunca são florestas.

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A desflorestação, em particular nos países mais pobres, aqueles com processos de industrialização mais tardios, é onde os patogénicos que criarão as pandemias do futuro surgem.

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O local da desflorestação é a zona quente de transmissão das pandemias.

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As estradas que cortam as florestas primárias para poder executar o trabalho de extração dos “recursos” tornam-se estradas de doença.

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Embora a Humanidade sempre tenha cortado árvores, a desflorestação como processo industrial surge em particular a partir dos anos 70 do século passado, levada a cabo como resposta à intensificação da globalização capitalista. 

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Nos últimos 40 anos vimos surgir nos interfaces com a floresta várias doenças.

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A directiva de energias renováveis da União Europeia é um agente activo de desflorestação quer na Europa, quer fora dela.

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O capitalismo não vai resolver a crise climática, recusando-se a fazer os cortes necessários de emissões e aposta todas as suas fichas em soluções falsas para enganar a sociedade.

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É preciso plantar florestas para ficarem nos sítios, para criarem os sistemas organizadores de vida sem os quais nós não podemos sobreviver, e isso não dá lucro.

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Em capitalismo não há empresas que façam coisas que não dêem lucro, e por isso não vão resolver essa crise [climática]. 

João Camargo, “Expresso” Diário


As trincheiras virtuais deste tempo não provocam mortos. Mas cada morto é uma trincheira. 

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[Com Otelo] em vez de uma análise distanciada de um percurso contraditório, quiseram um julgamento em cima do seu caixão.

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Até quando Otelo estava a ser julgado pelo seu envolvimento nos crimes das FP-25 os debates eram menos maniqueístas.

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Depois de 1980, a democracia já se tinha encarregado de oferecer sucessivas derrotas a Otelo, delimitando o que dele ficava para a História.

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Com Otelo, secundarizou-se o que de mais relevante ele deu à história portuguesa. 

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Querem ofuscar a revolução libertadora, de que foi comandante operacional.

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[Há uma] crescente influência da extrema-direita no debate público.

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É preciso deslegitimar a origem específica da nossa democracia para construir outra no imaginário popular.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

Há fundos esbanjados em formação que não é bem formação, é mais negócio e disfarce.

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Os €5,5 mil milhões para qualificação foram anunciados esta semana.

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A formação profissional é também um negócio, um grande negócio.

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De vez em quando, uns são apanhados em fraudes.

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A formação não é só um negócio, é em parte também uma farsa, em que muitos desempregados deixam de contar como desempregados porque estão em “ações de formação”.

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A farsa é a manipulação estatística, claro, mas é sobretudo o desperdício de dinheiro, de oportunidades, de futuros possíveis.

Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)

 

As leituras maniqueístas são, afinal, apenas leituras maniqueístas e, no caso, ignoram o legado extraordinário (…) e paradoxal de Otelo (…).

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Belém e São Bento, na tradição hiper-realista de, ao mais pequeno vislumbre de dificuldade, procurarem ficar fora da fotografia, escolheram pronunciamentos entre o hesitante e o fugidio.

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O que nos devolve ao presente: as reações à morte de Otelo são menos sobre o passado e mais um retrato da atualidade democrática.

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E se o dia 25 de Abril teve rostos decisivos, foi, no essencial, uma ação coletiva de evolução não-linear.

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E a democracia que somos hoje, nas suas forças e fragilidades, é ainda o prolongamento desse tempo pleno de contradições.

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Permanece uma maioria, porventura mais silenciosa, mas muito expressiva, que se reencontra num espaço plural, de tolerância e de respeito mútuo. 

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Que tenha sido o seu adversário eleitoral de então [Eanes em 1976] quem mais longe foi no reconhecimento do papel histórico de Otelo deve ser lido, aos olhos de hoje, como medida do sucesso da nossa democracia.

Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)

 

Para o debate político e cívico, só há duas componentes que ganham em ser colocadas a preto e branco: uma é do domínio ético, é justo ou injusto; e outra do domínio factual, é verdade ou mentira.

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As coisas têm cor, as que se vêem e as que não se vêem, mas hoje, se não forem a preto e branco, não circulam no ambiente tribal das políticas dos nossos dias.

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Ou é dos nossos, ou é contra nós. Este estilo está a migrar para toda a comunicação social.

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O preto e branco é simples, é preguiçoso, é redutor, é cómodo, não implica qualquer saber ou trabalho, e é eficaz para arregimentar pessoas para a política tribal.

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Nada é verificado, frases, factos, opiniões, nada é datado, nada tem o contexto das circunstâncias, como se tudo fosse na mesma e os tempos fossem iguais.

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Os ódios pessoais e políticos são o grande motor de um universo que não é assim muito grande – são poucas dezenas de pessoas, quando se trata de política, que vivem todas em cima umas das outras.

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O espectáculo dos últimos dias com a morte de Otelo é um bom exemplo de como isto está. Tudo o que escrevi antes aconteceu e acontece, para nossa vergonha colectiva.

Pacheco Pereira, “Público” (sem link)

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