(…)
Foi uma noite difícil para muitas pessoas de esquerda.
(…)
A votação do Orçamento do Estado para 2022 assumiu um papel
principal na campanha.
(…)
Já em 2020 ameaçava com crise política no pico do verão e
repetiu o guião em 2021.
(…)
As
negociações não falharam, António Costa pura e simplesmente não quis negociar a
viabilização do OE 2022 com os partidos à sua esquerda.
(…)
Não se podem colocar as convicções de lado no momento
da votação, nem negar o mandato popular que se representa - são os
vínculos mais importantes da democracia.
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A proposta de OE22 apresentada pelo Governo é má - falha [rotundamente
em inúmeras áreas].
(…)
Porventura não fomos capazes de mostrar todos os erros e as
formas de os ultrapassar, creio que se deve reconhecer.
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António
Costa começou esta campanha a afastar os partidos que em 2015 o tornaram
primeiro-ministro, os “empecilhos” que não deixaram o PS fazer o que queria.
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Em
2015, sabendo dos custos eleitorais que em algum momento teria de suportar, o
Bloco de Esquerda tomou a decisão certa ao contribuir decisivamente para a
criação da “geringonça”.
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Conquistámos avanços concretos para um povo que havia muitos
anos que só conhecia retrocessos.
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As sondagens também ajudaram para o desfecho de domingo.
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O
certo é que as sondagens levaram a que muitos votos no PS fossem escritos pelo
medo do regresso da direita ao poder, agravado pela possibilidade de trazer
como apêndice a extrema-direita.
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Basta
ouvir alguns comentários na praça pública para perceber como muitos votos foram
ao engano para uma maioria absoluta que não queriam.
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As
maiorias absolutas têm maus cartões de visita, nos atropelos a direitos
democráticos e à cidadania, na permeabilidade aos poderes económicos
instalados, na corrupção.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
[A vitória
do PS] beneficia, desde já, de um sonoro aplauso, de um Presidente manietado,
de um Parlamento submetido, e de um consenso que, melhor do que ninguém, as
poderosas agências de notação indicaram ao mundo.
(…)
O que
diz a finança já tinha sido adivinhado por uma direita que se desbarreta, numa
comovente homenagem ao vencedor.
(…)
Perante
tal clamor, talvez os vencedores não se devessem iludir com o espelho.
(…)
A vida
difícil começa agora, e o poder absoluto será um dos seus problemas.
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A lei
tem sido que nenhuma maioria absoluta seja lembrada como um progresso para
Portugal.
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Foi o
medo da última semana que deu ao PS a maioria absoluta.
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[Os
eleitores] concederam ao Governo um período de graça, mas terminou o seu medo.
(…)
O medo
foi provocado pelas sondagens da última semana.
(…)
Há
cerca de um quinto dos eleitores que se decide na última semana, portanto mais
de um milhão de votos
(…)
As
eleições foram decididas nesse tempo.
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Houve
o medo da vitória do PSD com a IL e o Chega pendurados, que decidiu a votação
de muitos eleitores.
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Foram
eleitores de esquerda temerosos de um governo PSD ancorado na extrema-direita.
(…)
As
empresas [de sondagens] foram as primeiras a levantar esta questão: as
sondagens do último dia – sabemos agora que o erro foi de 1 para 7 –
influenciaram os resultados.
(…)
A
maioria absoluta formou-se na última semana pelo medo de um governo de direita
e na presunção de que o PS não teria poder absoluto.
(…)
Não é
de somenos que voltemos a um poder absoluto que só pode ser temido.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
"Foi o povo português" deverá
ser sempre um sinal de maturidade democrática e nunca um ajuste de contas ou um
passa-responsabilidade.
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Se aqui chegámos, foi por
responsabilidade de muitos dos que não conseguem perceber ou explicar a vontade
do povo.
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Atribuindo maioria absoluta ao PS, o povo
português acreditou na narrativa de António Costa e não na dos partidos que lhe
permitiram constituir governo após perder eleições.
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O povo entregou a maioria absoluta ao PS
quando o próprio já dela tinha desistido e enfraqueceu quem, nos últimos anos,
garantiu políticas de Esquerda.
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A falsa bipolarização das sondagens foi
uma falácia e um embuste que entregou a Esquerda do PS às mãos do fantasma
absoluto da utilidade do voto.
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A pressão pelo voto útil foi transversal
a toda a Esquerda, sem excepção.
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Foi a falta de lucidez do PSD em ser
absolutamente claro e consequente relativamente a alianças com a
extrema-direita que deu ao voto útil no PS a fatal pressão final.
(…)
A narrativa de vampirização socialista
foi clara desde o primeiro dia e executada com foco.
Todos nos lembramos da África do Sul do apartheid (…) onde existia um sistema de opressão e dominação de um
grupo de seres humanos sobre outro.
(…)
É isto que acontece hoje
em Israel e nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO) - o apartheid.
(…)
[Aos palestinianos] é negada participação pública, tal como
definido na Convenção do Apartheid, aprovada em Assembleia Geral da ONU em 1973.
(…)
Em maio de 2021, o mundo indignou-se com o desalojamento
forçado de famílias palestinianas das suas casas em Jerusalém Oriental.
(…)
Nas
restrições à movimentação, existem vários tipos de cartão de identidade para
palestinianos e cada um confere maior ou menor mobilidade, maior ou menor
opressão.
(…)
Os agricultores da palestina veem frequentemente as suas
estufas e culturas serem arrasadas por bulldozers militares, relegando-os para a fome.
(…)
Também o acesso à água e ao gás é controlado pelo Estado de
Israel, limitando o fornecimento aos palestinianos.
(…)
A sua liberdade de expressão é também condicionada.
(…)
A
Amnistia Internacional publicou um extenso relatório que documenta estas e outras
violações de direitos humanos e que, no seu conjunto, correspondem a apartheid.
(…)
O Tribunal Penal Internacional deve investigar e julgar os
que, concretamente, são responsáveis por manter o apartheid.
(…)
É o Estado de Israel que pode dar passos firmes neste caminho
de paz, reparação e desmantelamento do apartheid.
Pedro A. Neto, “Público” (sem link)
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