quarta-feira, 2 de março de 2022

COMO SE FAZEM NOTÍCIAS FALSAS

 

O Parlamento Europeu aprovou ontem (1 de Março) uma resolução de condenação da invasão russa e apoio à Ucrânia, que contou com o voto favorável do Bloco. Ontem e hoje surgiram notícias, artigos e publicações segundo as quais o Bloco se teria abstido.

Antes de mais, ata da votação abaixo (img1), para que não haja dúvidas. Trata-se da primeira resolução do Parlamento Europeu na resposta à guerra, que condena a invasão da Rússia, defende várias medidas de apoio à Ucrânia de enfraquecimento da capacidade ofensiva da Rússia. BE a favor.

Nos dias anteriores e no próprio dia desta votação, Rui Rocha (IL), Ricardo Baptista Leite (PSD), André Ventura (Chega) e Nuno Melo (CDS) fizeram publicações sobre a votação do Programa de assistência macrofinanceira à Ucrânia, ocorrida 14 dias antes (img2). Três destes representantes (exceção foi Rui Rocha) não referem a data da primeira votação ou sequer que ocorreu antes da guerra. Pelo contrário, apostam ativamente na descontextualização e na transmissão da ideia de que se trata da resposta do Bloco à guerra. Esse voto do Bloco prendeu-se, não com a assistência à Ucrânia, que apoiámos, mas com as condições do FMI e da UE associadas a esse empréstimo. Mais informação aqui:

https://twitter.com/joseggusmao/status/1498392361369485316

Por ironia do destino, a resolução de ontem renova o apelo a assistência financeira à Ucrânia, mas agora sem qualquer referência a condições (img3), ou seja, exatamente a posição que o Bloco tinha tomado duas semanas antes. Aliás, a assistência agora deverá (espero) ser a fundo perdido.

No dia da votação desta resolução (ontem), o Público fez uma notícia baseada num curioso critério editorial. Faz título e destaque sobre uma votação decorrida duas semanas antes (img4). Só refere a votação que ocorreu nesse mesmo dia no último de 9 parágrafos, tapado pela paywall. Na sequência dessa notícia, a CNN noticia que o Bloco se absteve "esta terça-feira" (img5). Aqui entramos no domínio de informação puramente falsa. A notícia foi corrigida referindo a data da anterior votação e continuando a não referir a votação "desta terça-feira".

Já hoje, a editora do Diário de Notícias, Joana Petiz escreve um editorial (img6) com, não uma, mas três mentiras. Essa e outras duas: que o Bloco não tinha participado na manifestação de Lisboa e que não tinha condenado a invasão.

O círculo fecha-se com mais publicações nas redes em que a confusão e a manipulação se tornam em mentira pura, engano ou confusão (img7). Agora, a abstenção do Bloco já não é sobre o Programa de Assistência Macrofinanceira duas semanas antes, mas na resolução de condenação da invasão.

Já há algum tempo que vivemos na era da desinformação. Com uma guerra, a coisa fica pior. A combinação de campanhas desonestas, mau jornalismo e reprodução acrítica ou mal intencionada de fontes pouco fiáveis agrava tudo. Tenham cuidado com o que lêem. Obrigado a todos os que se vieram esclarecer connosco antes de espalharem mentiras e obrigado a todos os que foram divulgando os esclarecimentos noutras publicações. Ajudem a esclarecer quem quer ser esclarecido. (Bloco de Esquerda)


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