(…)
O
acesso ao Facebook, ao Twitter e a muitos sites internacionais e nacionais foi
bloqueado, rádios foram encerradas.
(…)
Do
lado de cá, em vez de reforçarmos o que nos distingue do ditador, encerrámos a
RT e a Sputnik, por serem focos de desinformação.
(…)
Não
houve um sobressalto perante a decisão sumária, perigosa e sem precedentes da
Comissão Europeia.
(…)
Sujeitos
à ameaça de perseguições, muitos órgãos de comunicação social internacionais
saíram de Moscovo e ficámos mais cegos para o lado de lá.
(…)
Sobra-nos
a propaganda ucraniana e dos Governos ocidentais — todos a têm, em todas as
guerras.
(…)
Este
ambiente autorizou os jornalistas a lidarem com a posição inexplicável e imoral
do PCP, que trata a ocupação como mera consequência de provocações dos EUA, com
hostilidade militante.
(…)
Militares
que têm feito comentários desalinhados são postos numa espécie de índex, para
ouvir com cautela.
(…)
A
Ucrânia está a ganhar [a guerra mediática].
(…)
O
problema não é o discurso moral que baliza as nossas posições sobre este
conflito e percebe que há um ocupante especialmente violento e um ocupado.
(…)
O
problema é esse discurso moral esmagar qualquer análise racional. Ao ponto de
haver factos inaceitáveis. É aí que nos aproximamos do mundo mental de Putin.
(…)
Opiniões
públicas mal informadas e inebriadas pela emoção pressionam os Governos a
decisões insensatas, como a criação de uma zona de exclusão aérea, que nos
poderia levar a um conflito nuclear.
(…)
O
isolamento internacional dos intelectuais reforça o poder de Putin.
(…)
Sei
quem é o ocupante e o ocupado. Desde os seus crimes em Grozni e Alepo que sei
que Putin é um perigoso assassino.
(…)
Não me
engano quanto ao lado em que estou. Sei quem resiste e quem devemos apoiar.
(…)
Mas
gosto de ser tratado como um adulto. Não preciso de ser convencido, preciso de
ser informado.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Portugal precisa de recuperação
socioeconómica face a problemas deixados por políticas austeritárias, aos
impactos da pandemia e a efeitos da escalada da guerra
(…)
Há que assegurar níveis de investimento
público muito superiores aos que se verificaram na última dúzia de anos.
(…)
Em Portugal não se dá a importância
necessária à racionalidade organizacional e ao planeamento.
(…)
O planeamento exige, a todos, cultura do
conhecimento e da sua disponibilização transparente.
(…)
Ao Estado exige-se uma cultura de
articulação de políticas, evitando atuações isoladas de ministérios ou
secretarias de Estado, e um mapa institucional que não mude a cada Governo.
(…)
O Estado não pode continuar depauperado
na sua capacidade de planear.
(…)
Como é possível, por exemplo, reforçar e
qualificar o Serviço Nacional de Saúde se o respetivo Ministério não tem uma
estrutura de planeamento estratégico?
(…)
Os problemas só serão ultrapassados com
melhor oferta salarial aos quadros que é preciso recrutar e se o trabalho for
feito com tempo.
(…)
Sem planeamento não existe correta
formulação de políticas públicas.
A
projeção de imagens da guerra corresponde sempre à exposição dramática de
rostos concretos, face aos quais não podemos deixar de ter empatia.
(…)
Os
ucranianos são parte do nosso quotidiano.
(…)
Ou
seja, a presença dos ucranianos é constante nos espaços que todos frequentamos.
(…)
Em
democracia, em nenhum outro momento tenhamos tido um conflito que nos dissesse
tanto e do qual nos sentíssemos humanamente tão próximos.
(…)
De um
[lado, temos] uma comunicação com rostos, olhares e um quotidiano sofrido.
(…)
De
outro, uma ofensiva sem rostos.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
Nestes anos, de 1999 a 2014, a política dos EUA e da NATO tem
uma contradição de fundo: (…) foi-se aceitando uma expansão para leste
que tinha que ser vista como ameaçadora para a Federação Russa.
(…)
Por isso, olhando pelos olhos de Putin, há muitas razões para
preocupação, mas nenhuma para a invasão.
(…)
A
resposta completamente desproporcionada muda os termos da questão, e transforma
a insegurança invocada com a expansão da NATO num pretexto, e não numa razão.
(…)
E aqui
é que é preciso ver a situação com os olhos dos países do Leste da Europa com
fronteira com a Federação Russa.
(…)
Não há
hoje dúvidas para ninguém de que os países encostados à Rússia precisam de uma
defesa sólida porque têm um agressor à porta.
(…)
A organização da Guerra Fria recebeu uma forte dose de legitimidade
política.
(…)
Mais:
uma “vitória” militar na Ucrânia seguida de uma ocupação de tipo colonial é
como uma gangrena: não fecha e envenena tudo à sua volta.
(…)
Estamos em “tempos interessantes”, e o desejo de que os
vivamos é mesmo uma maldição.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Segundo
uma
conhecida organização que regista as mortes em guerra em todo o mundo,
eis a estatística do período inicial da invasão da Ucrânia (20 de fevereiro-4
de Março): 114 (Ucrânia), 23 (Iraque), 511 Iémen, 187, Síria, 192, Mali, 527,
Nigéria, 155 (República Democrática do Congo), 180 (Somália), 112 (Burkina
Faso). O facto de nenhuma das outras tragédias ter merecido qualquer atenção
dos meios de comunicação não tem para mim outro significado ou interesse senão
o de me permitir conhecer os mecanismos sociológicos da formação do pânico
moral e da indignação pública.
Boaventura Sousa Santos, “Público” (sem link)
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