(…)
[Macron]
prossegue o desmantelamento metódico da política do seu país e favorece assim
as condições para o maior ascenso da extrema-direita num dos países centrais do
continente.
(…)
Foi
dele que nasceu a promessa, na campanha para a sua primeira eleição, de que
todos os outros Estados-membros realizariam em poucos meses uma convenção para
redesenhar a Europa.
(…)
Cinco
anos depois, perante uma segunda campanha francesa, lá se reinventou o tema com
uma Conferência para o Futuro da Europa, encerrada esta semana com palavras
valentes.
(…)
Macron
fez a festa com o seu discurso.
(…)
A
União 1.0 não tem qualquer solução para estes problemas [transportes,
segurança, energia, circulação de pessoas], menos teria uma inexistente União
2.0.
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À boca
pequena, os responsáveis europeus não alimentam qualquer dúvida: o consórcio já
é ingovernável.
(…)
Daqui
resulta uma equação irrefutável: quanto mais emproados os discursos
visionários, maior a incapacidade que mascaram.
(…)
Mesmo
que o suplemento de alma garantido pela autointoxicação macroniana seja
simplesmente para esquecer.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
A
faltar-lhe a maioria absoluta, [Marta Temido] teria cuidado das suas palavras e
resolveria o assunto de uma penada, em vez de o arrastar na confusão.
(…)
A
bravata da ministra só tem como única justificação o seu poder absoluto.
(…)
O que
a ministra sublinhou foi que, como ela é que manda, o Parlamento e a opinião
pública não se devem atrever a fazer perguntas. O Governo mudou mesmo.
(…)
A
ministra, ao prolongar o mistério, deu ao país um exemplo de como não funciona
a noção do incentivo económico para gerir os atos de saúde.
(…)
Embora
não pague nem queira pagar salários que atraiam médicos de família, a ministra
permitiu deste modo a ideia de que a confiança entre o médico e a utente pode
ser substituída por prémios avulsos aos profissionais pelas decisões que cabem
às mulheres.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Lembrou a técnicos especialistas de saúde
[a ideia de que o critério de ausência da interrupção
voluntária da gravidez poderia servir para calcular a componente remuneratória
variável dos profissionais das Unidades de Saúde Familiar].
(…)
Em nenhum momento, a vontade e o direito
de uma mulher abortar se pode confundir com lacunas ou ausência de planeamento
familiar.
(…)
A violência que se passaria a exercer em
cada USF se esta proposta fizesse caminho seria insustentável e diária.
(…)
Este processo é um bom exemplo onde a
consciência e a pressão da sociedade civil foram um bem civilizacional que
impediu uma disfunção técnica e um retrocesso castrador.
(…)
Marta Temido, depois de ter sido tudo
menos convincente na Assembleia da República, disse-o: o grupo técnico recuou
na proposta para responder ao "sentir social".
(…)
[Corremos o risco de] começar a tomar
conhecimento da forma como uma maioria absoluta envolta em pareceres técnicos
se torna lassa, pouco crítica ou nada atenta em relação a questões fracturantes
e fundamentais.
(…)
Actualmente, olhar para o tema do aborto
em alguns países de Leste ou nos EUA, onde os políticos adestram os técnicos, é
assustador.
O
planeamento familiar (PF), em que se inclui a prevenção de infeções sexualmente
transmissíveis (IST), é dirigido a homens e mulheres. Quer homens quer mulheres
são responsáveis pela sua saúde sexual e reprodutiva.
(…)
A eficácia do planeamento familiar não se mede pelo número de
Interrupções Voluntárias da Gravidez (IVG).
(…)
A maioria das IVG são feitas em mulheres muito jovens, com
baixos rendimentos e níveis elevados de iliteracia.
(…)
O
indicador agora sugerido [segundo o qual os médicos de família podem ser penalizados
se tiverem utentes que recorram a IVG] pode ter um efeito perverso na tentativa
de se atingir resultados favoráveis, levando a reduzir o acesso à IVG e fazendo
com que os médicos sejam tentados a interferir numa escolha que não é sua.
Isabel Santos e outras especialistas em Medicina Geral
e familiar, “Público” (sem link)
Para
grande parte da direita, o bem comum só pode ser entendido como o somatório do
bem-estar dos indivíduos mas não como valor coletivo.
(…)
[A direita acredita] que o mercado à solta funcionará tão bem
que a riqueza que vai gerar chegará para todos.
(…)
As questões ideológicas estão em crise e há cada vez mais
pessoas que se declaram fartas da dicotomia.
(…)
Só que nunca se encontrou uma forma de lhe fugir. Os
problemas têm quase sempre uma tradução de classe.
(…)
O melhor a que se conseguiu chegar, a nível global, foi
precisamente às sociais-democracias do norte da Europa.
(…)
Quando
falamos de esquerda e de direita, falamos de propostas para melhorar as
condições de vida das pessoas numa democracia liberal e no mercado.
(…)
Uma grande parte dos jovens portugueses parece inclinar-se
para soluções de direita como resposta às suas preocupações.
(…)
[Assiste-se
a uma] adesão a uma versão radical da diminuição de carga fiscal; alheia às
necessidades do Estado social de que beneficiaram e ainda beneficiam.
(…)
Houve
aqui uma mudança: a maior parte da juventude tendia à luta, às vezes também
radical, contra a precariedade, e contra os salários baixos.
(…)
A esquerda hoje surge como proposta para atenuar as
consequências do funcionamento dos sistemas liberais.
(…)
A
esquerda apresenta-se como lutando contra o liberalismo, mas o que faz é
torná-lo suportável. É a esquerda que o salva do fracasso absoluto, que o
corrige, que o compõe.
(…)
O liberalismo apresenta-se como lutando contra a esquerda mas
precisa dela para se proteger daquilo que cria.
(…)
O radicalismo que ela [esquerda] hoje consegue apresentar
fica aquém da regular social-democracia da década de setenta.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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