(…)
Mas mesmo após a demissão, a história continua a ser exemplar.
(…)
Porque o meio milhão não passou a bater certo depois das
explicações.
(…)
Se o contrato cessava por decisão da empresa, o valor legal
não seria necessariamente aquele.
(…)
Não foi esta a regra que se aplicou, está à vista, mas sim um
regime excecional de privilégio.
(…)
Por outro lado, se a saída fosse por iniciativa da própria (…),
então a "renúncia" não daria direito a nada.
(…)
Já se percebeu que não estamos no domínio das regras gerais,
nem das que se aplicam aos trabalhadores pelo direito laboral privado, nem das
que regem a administração pública.
(…)
Estamos no puro reino das regras da gestão privada, da sua
arbitrariedade e da sua lógica de desigualdade.
(…)
Nas empresas do PSI-20, que têm de divulgar estes dados, as
desigualdades não têm parado de crescer nos últimos anos e é tido como “normal”
os gestores ganharem 15, 20, 100, 150 vezes mais do que outros trabalhadores da
mesma empresa.
(…)
Haver leques salariais máximos, também no setor privado e no
setor empresarial do Estado, é uma questão de decência.
(…)
[Os gestores que pregam aos trabalhadores os “sacrifícios” em
“nome da empresa” encontram] sempre para si formas de proteção
muito mais “rígidas” e “protetoras” do que a própria lei que se aplica a quem trabalha.
(…)
[As compensações por despedimento com valores miseráveis]
só são boas para os outros…
(…)
O secretismo e a ausência de transparência, que é o “modus
operandi” do privado.
(…)
Oxalá a indignação mais que justa com o meio milhão ilegítimo
de Alexandra Reis (e vai devolvê-lo?) nos faça questionar a falta de
transparência e de racionalidade deste tipo de gestão privada.
José Soeiro, “Expresso” online
A legalidade da abundância [da indemnização recebida por
Alexandra Reis] e a sua não devolução foi o argumento que ela própria veio
escrever (…), em todo o caso tendo sido deixada sozinha, não vá a coisa
complicar-se.
(…)
Como é que alguém que sai de uma administração tem o direito
a receber todos os salários de todo o mandato, regra que não se aplica em mais
nenhum posto na sociedade portuguesa?
(…)
Porque é que nos tentam entreter com meandros
comunicacionais, como se nisto houvesse algum mistério que exige longos dias de
investigação?
(…)
O governo não tem como explicar, (…), que governantes têm
para consigo próprios um critério espantosamente mais generoso e a que se lhe
agarram como se fosse o seu direito divino.
Francisco Louçã, “Expresso” online
O Senhor Starlink [Elon MusK] é a metáfora perfeita para o
maior dos desafios que esperam todo o mundo, incluindo Portugal, já no próximo ano.
(…)
Mais importante que trabalhar a favor de qualquer um dos 17
estimáveis objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 (…) é
defender a democracia.
(…)
E Musk representa, vamos acreditar ainda que sem eventual
dolo, a maior ameaça que sobre ela paira.
(…)
[Na agenda sustentável não é referida] a palavra democracia.
(…)
Esquecimento ou compromisso, a omissão é grave.
(…)
A democracia é a matriz fundadora, a matriz principal, mas não
está nomeada.
(…)
O seu desaparecimento desta agenda cria a perigosa ilusão de
que ela não é fundamental.
(…)
O empresário de Marte chama para a sua narrativa os
condimentos da política, até agora apenas disponíveis nos sistemas
constitucionalmente elencados.
(…)
E foi sob a égide dessa constitucionalidade que a democracia –
e as suas instituições – se mostraram fortes.
(…)
Mas onde a democracia não está aparada pela lei isso não acontece.
(…)
Ao contrário de Trump, ou Bolsonaro, Elon Musk é hoje um
político que não foi eleito, e por isso, muito mais perigoso que aqueles que a
democracia pode derrotar.
(…)
Se a defesa da democracia não for pautada, ela não vai
sobreviver.
José Manuel Diogo, “Diário de
Coimbra” (sem link)
Costa
e o seu Governo são tão incompetentes que nem sabem o passado de quem escolhem,
ainda por cima para a Secretaria de Estado do Tesouro.
(…)
A incompetência compensa. Alexandra diz ter sido
demitida e não ter renunciado ao cargo.
(…)
Medina falhou, pois se a escolha foi
partilhada com o primeiro-ministro, como é normal, como é possível ignorar o
passado tão recente de Alexandra?
(…)
Antigamente, a vida de um putativo candidato a governante era
passada a pente fino.
(…)
Agora
a displicência é tal, é tal a sensação de mando absoluto que ou não se procede
a esta investigação ou ela é leviana.
(…)
Costa e seus apaniguados não têm mais base de recrutamento,
ou seja, cada vez menos gente aceita integrar governos seus.
(…)
Os valores da
saída de Alexandra foram, como é habitual e legal, negociados entre duas
sociedades de advogados.
(…)
Medina convida Alexandra para secretária de Estado, com o
acordo de Costa.
(…)
[Medina] é já reincidente, pois havia
um tal ex-director da TVI que iria ganhar mais que
ele, soube-se, estalou a bronca, e a versão oficial é que o jornalista teve
mais vergonha na cara que Medina e saiu.
(…)
Ainda
que legal, é absolutamente imoral e até porco que, por se sair de uma empresa
em que os contribuintes já injectaram milhões de euros, se ganhe meio
milhão por se ter sido despedida.
(…)
[Devíamos vir] para a rua exigir que não nos tomem por
parvos!
(…)
Tudo
ficará na mesma e os políticos tirarão mais uma ilação: asneira da grossa é
para ser feita na semana entre o Natal e a passagem de ano.
(…)
Se o povo saísse à rua, em massa, mesmo uma maioria absoluta,
com tanta asneirada seguida, vinha abaixo.
(…)
O efeito anestesiante tomou completamente conta da moribunda
dignidade do povo português. Paz à sua alma!
André Lamas Leite, “Público” (sem link)
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