(…)
[O
caso Alexandra Reis é] o resultado de uma construção meticulosa de redes de
poder, ou de como uma casta se incrustou no uso do Estado.
(…)
Essa
casta é o passado de Portugal e quer ser o nosso futuro.
(…)
É útil
estudar como têm sido produzidos os governantes.
(…)
Com
dois colegas, João Teixeira Lopes e Jorge Costa (…) queríamos perceber
como a hegemonia da burguesia sobre a economia e a reprodução social seleciona
os governantes.
(…)
O
facto mais notável era a passagem posterior [de governantes] para as chefias de
empresas.
(…)
[Até
ao início da segunda década deste século] quase metade dos governantes emigrou
para o topo de empresas da finança (248) e imobiliário (95).
(…)
170
desses governantes foram para grandes grupos económicos, 107 para os que gerem
parcerias público-privado.
(…)
O seu
circuito fundamental tem sido partido-Governo-empresas.
(…)
Chegar
ao topo destas empresas, seja como facilitador com o partido, seja para abrir
uma nova carreira, não é de somenos.
(…)
No
entanto, a formação de ligações de casta também segue outros caminhos. Há a
corrupção.
(…)
O
processo sobre os pagamentos do BES a Manuel Pinho arrasta-se em tribunal, bem
como outros.
(…)
Há
ainda os vínculos do financiamento declarado: em 2021, o IL recebeu dinheiro
do CEO da EDP, que os Champalimauds e Mellos pagaram ao Chega e que o PS
continua a receber donativos da gente fiel da Mota Engil.
(…)
Tudo
merece ser visto à luz da casta que ocupa e ocupará estes lugares.
(…)
Alexandra
Reis não inventou nada. Reclamou para si a regra que protege os gestores, se
forem despedidos recebem tudo.
(…)
Disso
beneficiou, achando que começaria uma carreira política sem que alguém
questionasse o privilégio daquele pagamento.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Neste período de gestação de nove meses,
de Sara Abrantes Ribeiro a Pedro Nuno Santos, contam-se 10 saídas do Governo
maioritário de António Costa, umas mais impactantes do que outras.
(…)
A montanha não pariu um rato, deu à luz
uma gestão em sobressalto e aos solavancos.
(…)
Os portugueses perguntar-se-ão como,
ainda este ano, entregaram uma maioria absoluta a António Costa pelo
referencial de estabilidade e pelo receio da Direita que se perfilava.
(…)
A estabilidade dos quatro anos de
"geringonça" surpreendeu todos aqueles que olhavam com desconfiança
para BE e PCP como forças de fiabilidade e de manutenção da estabilidade
política.
(…)
Agora, nove meses depois, o referencial
de estabilidade que todos davam como garantido, esvai-se incompreensivelmente.
(…)
Com mais uma remodelação governamental, a
vertigem política começa a fazer um caminho paralelo à instabilidade.
Quando
fazemos o balanço do ano político, no sentido lato do termo, é verdade que não
temos grandes razões para regozijo e esperança no novo ano que aí vem.
(…)
Existe debate entre visões mais otimistas e pessimistas do
progresso da humanidade.
(…)
Se medirmos o sucesso da nossa espécie pela sua disseminação,
podemos ter razões para ser otimistas.
(…)
Somos 8 mil milhões. Em 1800 éramos mil milhões.
(…)
Para tal feito, contribuíram avanços consideráveis em termos
de medicina e cuidados de saúde.
(…)
Mas o sucesso de uma espécie, e nomeadamente da espécie
humana, deve ser medido pelo seu número?
(…)
Apesar
de a quantidade ser também sinónimo, muitas vezes, de qualidade de vida, resta
saber: qualidade de vida de quem? E saber quem sustenta a qualidade de vida dos
outros?
(…)
E como desviar os olhos do horizonte face a níveis
astronómicos de discriminação e de desigualdade económica e social?
(…)
Neste final de ano (…) podemos pelo menos não
desesperar.
(…)
A
esperança terá de vir acompanhada pelo desejo e a imaginação, mas também a
humildade de saber que há outro horizonte.
Luísa Semedo, “Público” (sem link)
Do
que se sabe, nenhum dos dois [ministros envolvidos – Pedro Nuno Santos e
Fernando Medina) tinha esse conhecimento [do montante recebido por Alexandra Reis].
(…)
Quem
vai para a vida política não está apenas obrigado a cumprir a lei, tem também
de acatar as regras de um código, muito exigente, de conduta e de aparências,
que constitui uma malha apertada pela qual poucos conseguem passar.
(…)
As suas [de Marcelo] palavras relativamente à demissão de
Alexandra Reis deixavam adivinhar que mais demissões estavam para vir.
(…)
É
certo que apenas resultados eleitorais diferentes dos alcançados nas últimas
legislativas, sobretudo no que diz respeito à maioria absoluta do PS,
legitimariam a decisão (radical) de dissolver o Parlamento.
(…)
As
coisas correm muito mal à governação socialista, mas o descalabro tem sido tão
rápido que a própria direita (…) não está preparada para ele.
(…)
Um
dia perceberemos que foi um erro deixar estar na vida democrática quem [leia-se
o Chega] quer acabar com ela e se revigora cada vez que ela fraqueja.
(…)
A governação do PS acabou por proporcionar a Marcelo
verdadeiro protagonismo e por colocá-lo no olho do furacão.
(…)
Nem
todos os que votaram PS ficaram contentes com a maioria absoluta, mas diria que
não ficaram com vontade de repetir eleições.
(…)
Não acredito que os portugueses aceitem tolerar mais
trapalhadas. Acabou.
(…)
E quem conseguiu a proeza de fazer tremer uma maioria
absoluta? Os mesmos que a conquistaram.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
As causas mais óbvias da generosidade aparecem associadas a
razões sociais de cultura, religião e tradição.
(…)
Outro
aspecto interessante, que facilmente intuímos no Natal, é que as acções de
caridade são largamente influenciadas pela publicidade e pela recompensa social
da aprovação por terceiros.
(…)
[Há
estudos que nos dizem que] a nossa generosidade
não é só determinada por sentimentos altruístas.
(…)
É igualmente movida por interesses egoístas, de obtenção de
benefícios físicos e psicológicos próprios e de aprovação social.
Manuel Soares, “Público” (sem link)
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