(…)
[Em 1973] Hastings regressara ao Reino Unido [depois de uma
experiência de vários anos em África] desencantado com o esmorecer do impulso
renovador que ia observando no pontificado de Paulo VI.
(…)
Professor
num campus
ecuménico em Birmingham, ligara-se entretanto ao Instituto Católico de Relações
Internacionais (ICIR), uma ONG dedicada à promoção dos direitos humanos e
desenvolvimento comunitário.
(…)
Foi aí
que tomou conhecimento do programa de celebrações dos 600 anos da Aliança
Luso-Britânica e da visita oficial de Caetano a Londres.
(…)
[Para Hastings] a posição de Salazar a
respeito da soberania portuguesa em Goa era um exemplo acabado da manipulação
da consciência católica para fins políticos.
(…)
Hastings viu nas festividades da “velha aliança” uma oportunidade a não desperdiçar.
(…)
[Hastings detinha vários trunfos e isso seria decisivo] em
Julho de 1973, quando Hastings consegue que o The Times lhe dê honras de primeira página para
publicar um artigo dando conta de uma atrocidade em grande escala praticada
pelas forças portuguesas em Moçambique, num conjunto de povoações próximas de
Tete.
(…)
A
evidência factual sobre o massacre fora-lhe facultada em Espanha, onde havia
estado há pouco tempo num encontro ecuménico de católicos e anglicanos.
(…)
Alguma
imprensa europeia tinha reportado, nos últimos meses, várias ocorrências
semelhantes em Moçambique, onde a guerra ganhara redobrada intensidade na zona
de Tete.
(…)
Hastings
soube exatamente como dar o spin
certo aos relatórios dos padres da missão de São Pedro, nos
arredores de Tete, que tinham cuidadosamente reunido
testemunhos de sobreviventes da razia.
(…)
Comparando
a sucessão de massacres portugueses em Moçambique com atrocidades como a de My
Lay, no Vietname, Hastings ocupava a maior parte do texto com a lista dos nomes
das vítimas que havia sido possível apurar.
(…)
Tudo o
que se seguiu a partir daqui é bem conhecido: a visita de Caetano a Londres é
um fiasco de todo o tamanho.
(…)
Os danos reputacionais sofridos por Portugal são incalculáveis.
(…)
Há um sentimento de desconforto que se propaga entre a
oficialidade militar.
(…)
[Com o advento do 25 de Abril Hastings], usará novamente as páginas do Times para dissuadir os
portugueses de qualquer tentação “plebiscitária” em África e exorta-os a
elegerem a Frelimo como interlocutor privilegiado.
(…)
[Nos
meses seguintes ao 25 de Abril revela inquietação] com as veleidades totalitárias da aliança entre a ala radical-populista
do MFA e o PCP.
Pedro Aires Oliveira, “Público” (sem link)
Quem
pretende manter criminalizada a morte assistida — como se isso a erradicasse do
mundo — tem deslizado por entre vários discursos avulsos.
(…)
Ora se
diz que criaria novos problemas (…), ou que a prática pode ser descontrolada (…),
ou finalmente que há outras prioridades.
(…)
Nada
resta destas alegações, nem em função da lei, nem em função da decência.
(…)
A
esquerda conservadora que votava contra a lei terá tido a prudência de mudar
primeiro de argumentário (…) e depois de desistir do tema.
(…)
Assim,
chegamos à última das motivações contra a lei: é um problema de consciência e,
portanto, deve ser votada em referendo.
(…)
Importa
dizer que se trata de uma cambalhota.
(…)
Pouco
releva o sentido de oportunidade de alguma direita para pedir o referendo na
25ª hora.
(…)
A
Igreja Católica, cuja hierarquia agora apadrinha a ideia do referendo, a ela se
opôs há tão pouco tempo.
(…)
Aceitar
a legitimidade da secularização por referendo de uma questão desta magnitude é
uma desistência da Igreja em relação a si própria.
(…)
A
Conferência Episcopal uma vez disse não e outra disse sim.
(…)
Como é
que a aceitação da morte assistida é uma questão de consciência? É-o decerto
para quem decida morrer.
(…)
Ora, o
que os opositores da lei dizem é o contrário: que a consciência da pessoa em
causa não importa e que deve ceder perante a consciência política ou religiosa
de outros.
(…)
Permitir
a decisão livre é, isso sim, a questão maior da consciência e do respeito
humano.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia
Dez
anos depois desse sismo, o país [Haiti] vive da fome e da violência. Gangs impõem a sua lei
brutal e o rapto transformou-se em negócio: mais de 1500 no último ano e meio.
(…)
[Para Kenneth Mohammed, colunista do Guardian],
nos traços do desastre em que se transformou o Haiti vêem-se bem as marcas do
colonialismo.
(…)
Aquilo
que começou auspiciosamente, com a revolta dos escravos (inspirada na Revolução
Francesa) que estabeleceu a primeira república negra do mundo e o primeiro
Estado independente nas Caraíbas, em 1804, descambou pouco mais de 20 anos
depois.
(…)
[Os
créditos pedidos para pagar indemnizações aos franceses afogaram o país em
dívidas cuja falta de pagamento] levou à invasão
norte-americana em 1915.
(…)
O país
defensor da autodeterminação no mundo invadiu e ocupou um país (durante quase
duas décadas) por causa das dívidas a um banco.
(…)
O resto foram golpes e um ditador sanguinário (François
Duvalier ou Papa Doc) e muita interferência de Washington.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Bruxelas e Estrasburgo acordaram para as malas de dinheiro vivo e para o
tráfico de influências, como se um escândalo de interesses se tivesse abatido
subitamente, sem pré-aviso ou contrato-promessa, sobre as mais altas esferas de
decisão europeias.
(…)
O pagamento de elevadas quantias de dinheiro
por parte do regime catari e da autocracia marroquina, na tentativa de
influenciar decisões europeias e lavar a imagem dos regimes, (…), não
surpreende ninguém e só espanta pelo aparente amadorismo das operações.
(…)
Há 485 ex-deputados que trabalham
directamente nos seus grupos de interesse lobistas. E não é ilegal, é permitido.
(…)
Fingir espanto, agora, perante o que
parece ser a ponta de um iceberg, é pura demagogia.
(…)
As regras de transparência são estupendas
se houver vinculação para a vigilância e alerta para os sinais.
(…)
Como Marisa Matias refere, o que se agora
se torna visível não é apenas "um problema de maçãs podres no cesto".
(…)
É o momento, uma vez por todas, de parar
de fingir espanto.
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