sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

CITAÇÕES

 
[Por meados de 1973] o Estado Novo tinha em mãos um dos mais delicados escândalos internacionais que alguma vez o atingiu, e Hastings, um reverendo católico inglês nascido em 1929 podia ser justamente apontado como o orquestrador do vendaval de “má imprensa” que, durante semanas a fio, o Governo de Caetano teve de enfrentar.

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[Em 1973] Hastings regressara ao Reino Unido [depois de uma experiência de vários anos em África] desencantado com o esmorecer do impulso renovador que ia observando no pontificado de Paulo VI.

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Professor num campus ecuménico em Birmingham, ligara-se entretanto ao Instituto Católico de Relações Internacionais (ICIR), uma ONG dedicada à promoção dos direitos humanos e desenvolvimento comunitário.

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Foi aí que tomou conhecimento do programa de celebrações dos 600 anos da Aliança Luso-Britânica e da visita oficial de Caetano a Londres.

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[Para Hastings] a posição de Salazar a respeito da soberania portuguesa em Goa era um exemplo acabado da manipulação da consciência católica para fins políticos.

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Hastings viu nas festividades da velha aliança uma oportunidade a não desperdiçar.

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[Hastings detinha vários trunfos e isso seria decisivo] em Julho de 1973, quando Hastings consegue que o The Times lhe dê honras de primeira página para publicar um artigo dando conta de uma atrocidade em grande escala praticada pelas forças portuguesas em Moçambique, num conjunto de povoações próximas de Tete.

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A evidência factual sobre o massacre fora-lhe facultada em Espanha, onde havia estado há pouco tempo num encontro ecuménico de católicos e anglicanos.

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Alguma imprensa europeia tinha reportado, nos últimos meses, várias ocorrências semelhantes em Moçambique, onde a guerra ganhara redobrada intensidade na zona de Tete.

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Hastings soube exatamente como dar o spin certo aos relatórios dos padres da missão de São Pedro, nos arredores de Tete, que tinham cuidadosamente reunido testemunhos de sobreviventes da razia.

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Comparando a sucessão de massacres portugueses em Moçambique com atrocidades como a de My Lay, no Vietname, Hastings ocupava a maior parte do texto com a lista dos nomes das vítimas que havia sido possível apurar.

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Tudo o que se seguiu a partir daqui é bem conhecido: a visita de Caetano a Londres é um fiasco de todo o tamanho.

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Os danos reputacionais sofridos por Portugal são incalculáveis.

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Há um sentimento de desconforto que se propaga entre a oficialidade militar.

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[Com o advento do 25 de Abril Hastings], usará novamente as páginas do Times para dissuadir os portugueses de qualquer tentação “plebiscitária” em África e exorta-os a elegerem a Frelimo como interlocutor privilegiado.

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[Nos meses seguintes ao 25 de Abril revela inquietação] com as veleidades totalitárias da aliança entre a ala radical-populista do MFA e o PCP.

Pedro Aires Oliveira, “Público” (sem link)

 

Quem pretende manter criminalizada a morte assistida — como se isso a erradicasse do mundo — tem deslizado por entre vários discursos avulsos.

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Ora se diz que criaria novos problemas (…), ou que a prática pode ser descontrolada (…), ou finalmente que há outras prioridades.

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Nada resta destas alegações, nem em função da lei, nem em função da decência.

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A esquerda conservadora que votava contra a lei terá tido a prudência de mudar primeiro de argumentário (…) e depois de desistir do tema.

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Assim, chegamos à última das motivações contra a lei: é um problema de consciência e, portanto, deve ser votada em referendo.

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Importa dizer que se trata de uma cambalhota.

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Pouco releva o sentido de oportunidade de alguma direita para pedir o referendo na 25ª hora.

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A Igreja Católica, cuja hierarquia agora apadrinha a ideia do referendo, a ela se opôs há tão pouco tempo.

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Aceitar a legitimidade da secularização por referendo de uma questão desta magnitude é uma desistência da Igreja em relação a si própria.

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A Conferência Episcopal uma vez disse não e outra disse sim.

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Como é que a aceitação da morte assistida é uma questão de consciência? É-o decerto para quem decida morrer. 

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Ora, o que os opositores da lei dizem é o contrário: que a consciência da pessoa em causa não importa e que deve ceder perante a consciência política ou religiosa de outros.

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Permitir a decisão livre é, isso sim, a questão maior da consciência e do respeito humano.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia

 

Dez anos depois desse sismo, o país [Haiti] vive da fome e da violência. Gangs impõem a sua lei brutal e o rapto transformou-se em negócio: mais de 1500 no último ano e meio.

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[Para Kenneth Mohammed, colunista do Guardian], nos traços do desastre em que se transformou o Haiti vêem-se bem as marcas do colonialismo.

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Aquilo que começou auspiciosamente, com a revolta dos escravos (inspirada na Revolução Francesa) que estabeleceu a primeira república negra do mundo e o primeiro Estado independente nas Caraíbas, em 1804, descambou pouco mais de 20 anos depois.

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[Os créditos pedidos para pagar indemnizações aos franceses afogaram o país em dívidas cuja falta de pagamento] levou à invasão norte-americana em 1915. 

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O país defensor da autodeterminação no mundo invadiu e ocupou um país (durante quase duas décadas) por causa das dívidas a um banco.

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O resto foram golpes e um ditador sanguinário (François Duvalier ou Papa Doc) e muita interferência de Washington.

António Rodrigues, “Público” (sem link)

 

Bruxelas e Estrasburgo acordaram para as malas de dinheiro vivo e para o tráfico de influências, como se um escândalo de interesses se tivesse abatido subitamente, sem pré-aviso ou contrato-promessa, sobre as mais altas esferas de decisão europeias.

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O pagamento de elevadas quantias de dinheiro por parte do regime catari e da autocracia marroquina, na tentativa de influenciar decisões europeias e lavar a imagem dos regimes, (…), não surpreende ninguém e só espanta pelo aparente amadorismo das operações.

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Há 485 ex-deputados que trabalham directamente nos seus grupos de interesse lobistas. E não é ilegal, é permitido.

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Fingir espanto, agora, perante o que parece ser a ponta de um iceberg, é pura demagogia.

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As regras de transparência são estupendas se houver vinculação para a vigilância e alerta para os sinais.

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Como Marisa Matias refere, o que se agora se torna visível não é apenas "um problema de maçãs podres no cesto".

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É o momento, uma vez por todas, de parar de fingir espanto.

Miguel Guedes, JN


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