(…)
Essa dignidade saiu à rua no sábado, sob o mote levantado
pela multidão: "Professores a lutar também estão a ensinar.”
(…)
Este barril de pólvora [crise existencial da escola e o
problema estrutural da falta de docentes] tem muitas causas, mas a sua
explosão recente resulta simplesmente da incapacidade do PS.
(…)
O ministro da Educação, aceitando finalmente negociar, não
deixou de colocar na mesa propostas que sabia serem inaceitáveis.
(…)
A
falta de professores nas escolas não se deve às greves. Deve-se a um Governo
que desistiu de resolver os problemas.
(…)
O alerta que finalmente soou é o mais importante fator de
esperança para a Escola Pública.
(…)
As costas dos professores são largas, mas não chegam para
carregar as culpas do fracasso do Governo.
Joana Mortágua, “Público” (sem link)
Não é por expulsar pessoas de um território e ameaçar com
prisão os “drogados” (…) que se resolvem problemas sociais.
(…)
Quando Portugal criminalizava o consumo [de drogas] este era
mais problemático e eram maiores os problemas de segurança e de saúde públicas.
(…)
O tráfico [de droga] nunca deixou de ser crime em Portugal.
(…)
E o consumo na rua é hoje proibido e punível por lei.
(…)
[A proposta de Rui Moreira] é um puro statement político a favor do regresso ao modelo da
criminalização. Só que esse modelo já foi experimentado.
(…)
Durante décadas, Portugal tratou o problema da droga como uma
questão de polícia e de prisão. Os resultados foram um fiasco.
(…)
Canalizar as forças policiais para a repressão dos
utilizadores desviava a ação policial do combate aos traficantes e impedia uma
abordagem às vítimas do consumo centrada na saúde.
(…)
Do ponto de vista legal, a grande transformação operada [em
2000] foi precisamente a descriminalização do consumo.
(…)
[O consumo] passou a ser tratado como um problema de saúde
pública, deixando à polícia o fenómeno do tráfico.
(…)
O modelo português foi um exemplo mundial, ainda hoje
elogiado e tomado como referência.
(…)
Desde então, a população afetada pelo fenómeno decresceu para
menos de um terço, diminuiu-se na mesma proporção os consumos problemáticos,
caiu a pique a infeção por HIV, hepatite ou tuberculose relacionada com drogas
injetáveis.
(…)
As mortes por overdose são sete vezes menos do que eram.
(…)
A criminalidade e o sentimento de insegurança foram também
drasticamente reduzidos.
(…)
Os que defendiam o modelo da criminalização do consumo foram
derrotados pelos factos.
(…)
Que o PS, partido que, com o Bloco, esteve profundamente
comprometido com a mudança de paradigma que ocorreu em Portugal, [tenha votado]
favoravelmente a proposta de [Rui] Moreira, é chocante.
José Soeiro, “Expresso” online
Repetindo exatamente a cartilha da anterior maioria absoluta
do PS, o Governo faz da escola o seu palco de batalha contra o sindicalismo.
(…)
Acrescentou-se ainda uma novidade mais recente, que é a
repressão salarial.
(…)
[Pode começar] uma ronda negocial com sindicatos de
professores, mas quem manda e faz questão de lembrar que manda, as Finanças,
nem precisa de se sentar na mesa para informar que não vale a pena o diálogo.
(…)
O Governo anuncia ceder no modelo de recrutamento. Mas
cuidado com as letras pequenas.
(…)
O Governo mais depressa finge ceder do que aceita ajustar o
seu plano.
(…)
A vinculação só funcionará se abranger todas as pessoas
contratadas, um quarto do total dos professores.
(…)
Só haverá professores na escola com progressão.
(…)
O recrutamento, a vinculação e a progressão dependem
simplesmente do fim da repressão salarial, incluindo do sequestro do tempo de
serviço.
(…)
[O ministro das Finanças] percebeu tudo e por isso quer
evitar que seja no salário que se comece a desfazer o novelo da crise da
educação.
(…)
[É curioso que seja] o governo de Portugal o tão bom aluno
que continue a fazer da redução do poder de compra o alfa e o ómega da sua
política.
(…)
Não esquecer as outras profissões da escola.
(…)
[O Governo] começou a perceber que tem pela frente uma massa
de gente zangada e que não se deixará levar.
(…)
É melhor que
sinta que agora é tempo exigente em que todas as questões essenciais da vida
das escolas têm de ser resolvidas.
Francisco Louçã, “Expresso” online
Estas lutas [dos professores] têm um longo lastro histórico
que começa sobretudo com o Governo Sócrates I (2005-2009), com maioria absoluta.
(…)
É falso
que os professores não quisessem ser avaliados, rejeitavam isso sim a avaliação
nos moldes burocráticos e enviesados então propostos.
(…)
A
relação dos professores com o PS ficou irremediavelmente beliscada, até porque
as "guerras" dos governos do PS com os professores continuaram.
(…)
No
primeiro Governo de António Costa (2015-19), em aliança com a esquerda radical,
foram repostos os cortes de salários e pensões, mas, no setor público,
excetuando uma categoria profissional, ninguém teve qualquer aumento salarial
(…)
E
ficou célebre mais uma "guerra" do Governo do PS (Costa I) com os
professores, que incluiu ameaça de demissão e tudo,
impedindo a justa contagem do tempo de serviço aos professores (os célebres 6
anos, 6 meses e 23 dias, ostensivamente ignorados na carreira dos professores.
(…)
Ficou
escancarada a dualidade de critérios do Governo PS, no tratamento dos
servidores públicos, e uma nova "guerra" com os professores.
(…)
Os
professores ganham tão mal (uma amiga dizia-me: ao fim de 25 anos, vinculada,
ganha 1400 brutos), sejam os do quadro, sejam sobretudo os contratados.
(…)
Sabemos
bem, no ensino superior, o que são os recrutamentos por perfis: editais com
fotografia permeáveis ao nepotismo e ao clientelismo.
(…)
É fundamental termos professores bem pagos, com estabilidade
no emprego e com carreiras com efetivas condições de progressão.
(…)
E o ano de 2023 afigura-se igualmente desastroso, sobretudo
para as classes médias assalariadas mais qualificadas.
André Freire, “Público” (sem link)
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