(…)
Mas a
estabilidade política paga-se, às vezes, em instabilidade social no futuro.
(…)
Os
professores têm direito aos seis anos e meio perdidos.
(…)
O
desprezo dos Governos pelos professores alimentou o ressentimento.
(…)
Depois
de anos a serem tratados como burros de carga, é natural que os professores não
estejam muito disponíveis para a autonomia das escolas, que tem de passar pela
autonomia contratual.
(…)
A
experiência faz a consciência.
(…)
20%
dos professores são precários e podem demorar quase duas décadas a aceder ao
quadro, vinculando-se, em média, depois dos 46 anos e com mais de 16 anos de
serviço.
(…)
Como a
evolução na carreira é afunilada burocraticamente no 5º e 7º escalões, o topo é
uma miragem mesmo para bons professores.
(…)
[A explosão
de protesto] também resulta de um sistema burocrático e pesado que foi fazendo
vítimas e criando ressentimentos
(…)
O roubo
das carreiras e o atual mecanismo de colocação dos professores têm provocado
silvos saídos de uma panela de pressão que está prestes a explodir.
(…)
Durante
as duas últimas décadas, à direita e no PS, as exigências da Fenprof foram
tomadas como sinal de intransigência e radicalismo.
(…)
Todos
os Governos, incluindo os de esquerda, passaram as últimas décadas a tirar
poder ao sindicalismo.
(…)
Agora,
têm de lidar com explosões mais difíceis de gerir.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A
palavra “respeito” tem tido um papel relevante no protesto dos professores,
representando um pedido e um protesto que está muito para além das
reivindicações salariais e de carreira.
(…)
Há
poucas décadas, a escola competia com a família na socialização dos alunos e,
nalgumas áreas mais pobres, competia com a rua.
(…)
Havia
nas escolas o que sempre houve, uma considerável violência e, também como
sempre, não era a mesma coisa viver numa casa com livros, com espaço e razoável
conforto, ou num bairro degradado, pobres no meio de pobres.
(…)
A
educação reproduzia as desigualdades sociais, embora fosse ela própria um dos
raros mecanismos de elevador social num país muito desigual.
(…)
Tudo isto era tão antigo e tão denso como era o nosso atraso
nacional.
(…)
Sobre
este fundo veio a “tempestade perfeita” que ameaça seriamente o papel da
escola, incapaz de competir com uma ecologia social cada vez mais hostil, que
põe em causa a capacidade da escola de ser um factor eficaz de socialização, já
para não falar de aprendizagem.
(…)
Ninguém sabe disso melhor do que os professores.
(…)
Por
isso, têm razão em pedir “respeito”, se o sentido desse pedido implicar a
enorme dificuldade que hoje é ser professor e o reconhecimento que a sociedade
lhes deve.
(…)
Muitos professores já foram “educados” na mesma ecologia que
torna os seus alunos impossíveis de educar.
(…)
O problema complementar é que muitos pais são exactamente
iguais.
(…)
Há muito poucos factores qualitativos a “puxar para cima”,
mesmo que fosse pouco, o que já seria uma enorme vantagem.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Para
surpresa de muita gente, Fernando Medina apareceu esta quinta-feira, sem
qualquer hesitação, a assumir a responsabilidade pela escolha de Joaquim Morão
para fazer o que fez (ou não fez) na Câmara de Lisboa.
(…)
Não tinha qualquer espécie de formação em “monitorização” de
obras.
(…)
Os responsáveis [pela Câmara de Lisboa]
resolveram, no meio da trapalhada que o Ministério Público está a investigar,
ir buscar o homem de Castelo Branco. Porquê?
(…)
Só se sabe que ele era um ex-bancário que se tinha tornado
uma figura grada do velho PS.
(…)
De
onde terá vindo então a ideia de esquecer os mil e um quadros superiores da
Câmara e ir buscar o cacique de Castelo Branco para “monitorizar” as obras de
Lisboa.
(…)
Quem mandava directamente nas obras da cidade desde o final
de 2007 era o arquitecto Manuel Salgado.
(…)
Foi ao
atelier de
arquitectura de Salgado, (…), que o mesmo Morão, então
autarca de Castelo Branco, adjudicou um concurso público de 194 mil euros
lançado no início de 2008.
(…)
Foi ao
mesmo atelier que,
em 2012, a pretexto de discutíveis direitos de autor, Morão adjudicou sem
qualquer concurso um outro contrato de 179 mil euros.
(…)
E o seu sucessor ainda lhe adjudicou, na mesma lógica, um
terceiro e um quarto (…)
(…)
Tudo, num total de 446 mil euros.
(…)
[Fernando Media veio agora] dizer que a escolha de Morão foi
dele. Terá sido mesmo?
José António Cerejo, Público” (sem link)
No maniqueísmo de que se alimentam as teses neoliberais, tudo o que é
planeado distorce o sagrado mercado.
(…)
Planeamento não é algo que só incumba ao Estado, mas não existe boa
governação sem ele.
(…)
O objetivo do planeamento democrático é o
desenvolvimento humano na sua plenitude social económica e política.
(…)
Ao contrário do que parece, o neoliberalismo
não dispensa o planeamento. Contudo, pratica-o de forma sorrateira e
incremental.
(…)
Por fim, tudo é transformado em mercado:
até o "combate à pobreza".
(…)
No planeamento neoliberal, ao contrário
do que acontece no planeamento democrático, não há espaço para salvaguardar os
direitos laborais, sociais e democráticos.
(…)
Sem rumo, o Estado perde-se na negociação
com interesses poderosos.
(…)
O Governo tem de abrir os olhos para a
realidade, e assumir que para termos um bom futuro temos de tratar eficazmente
o presente.
(…)
Há que garantir a participação dos
portugueses nos processos de deliberação pública e barrar caminho a compadrios
de qualquer tipo.
É certo que a promiscuidade entre política e interesses
materiais é tão antiga quanto a história humana, pelo menos, como demonstrou
Friedrich Engels, desde a formação das classes sociais.
(…)
Um exemplo da relação perniciosa entre política e negócios é
aquele que reúne aquelas carreiras políticas que, após algum tempo de
exercício, dão lugar, muitas vezes no resto da vida ativa, a importantes cargos
na administração de empresas públicas ou privadas.
(…)
Em algumas situações, aliás, esta relação inicia-se ainda
durante o exercício deste cargo, embora a ligação raramente seja visível.
(…)
Os proventos dos que a ela se entregam funcionam então como
acréscimo aos que auferem pelo cargo, residindo aqui a fonte do seu rápido e
desmesurado enriquecimento.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
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