(…)
[É preciso] travar a transformação de casas em mercadorias de
valorização do capital financeiro, em vez de lugares para habitar.
(…)
Em 2022, os preços das casas atingiram um novo recorde em
Portugal.
(…)
É preciso travar um processo especulativo conduzido pelo
capital internacional.
(…)
O nosso país tornou-se um inferno para quem procura casa para
viver.
(…)
Na última década, os preços das casas em Portugal aumentaram
80% e as rendas quase 30%.
(…)
Cada vez mais, é impossível a quem receba um salário médio
arrendar uma casa nos principais centros urbanos.
(…)
É o efeito combinado de décadas de políticas que entregaram a
habitação ao mercado liberalizado.
(…)
[Proibir a venda de casas a não residentes] pode ajudar,
particularmente se combinada com outras políticas corajosas que estão em falta.
(…)
A percentagem de habitação pública na Europa é de 15%. Em
Portugal, continuamos com uns míseros 2%.
(…)
Se continuarmos a não ter respostas urgentes, o desespero vai
generalizar-se.
José Soeiro, “Expresso” online
O projeto [chamado CelZa] serve principalmente para expandir
a infraestrutura de gás fóssil na Europa e em Portugal.
(…)
O segundo objetivo é favorecer os interesses dos acionistas
da Galp, da EDP e da REN em particular, criando um novo negócio que é queimar
gás para produzir hidrogénio para exportação.
(…)
Um terceiro objetivo é criar desde já a capacidade de
exportar eletricidade produzida a partir de renováveis, apesar das mesmas não
conseguirem sequer suprir as nossas necessidades elétricas atuais.
(…)
[Este projeto] não reduz nem faz parte de qualquer plano de
eliminação de combustíveis fósseis.
(…)
Em nada contribui para a eletrificação da economia em Portugal.
(…)
Produz inovação no sentido de perverter estímulos à
descarbonização para entregá-los às empresas fósseis.
(…)
Nada acrescenta em termos de segurança energética.
(…)
Todas as cidades, aldeias e campos no percurso por onde
passará este gasoduto não terão qualquer benefício e, pelo contrário, ocorrerão
expropriações, destruição e devastação.
João Camargo, “Expresso” online
O teatro é representação e se passasse a ser a apresentação
das vidas das atrizes seria outra coisa, mas não seria teatro.
(…)
Quem representa disfarça-se, veste roupas que não são suas,
usa a voz da personagem, representa sempre outra pessoa – sempre.
(…)
Mas a única forma de combater no campo da arte tais
diferenças de poder é criar representações que façam o público viver essas
dimensões.
(…)
O que o teatro, o cinema e a música mostraram – sendo lugares
de poder e o poder discrimina – é que há arte que pode vencer essa barreira.
(…)
Se a arte, já tão atingida pelas censuras, pelo controlo
económico, pela seleção social, pela ideologia dos poderes, aceitasse deixar de
desafiar todos esses poderes e abdicasse de representar tudo o que é humano,
toda a gente perderia uma parte essencial da sua vida.
Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)
Usar a tragédia de pessoas [toxicodependentes] como pano de
fundo para a promessa de as punir ilustra a ausência de mínimos de
sensibilidade humana.
(…)
Quanta simpatia pensa [Rui] Moreira ter lucrado com a
utilização da desgraça e da doença para defender uma via securitária? Bastante,
provavelmente.
(…)
A proposta lá avançou. Rui Moreira quer regressar à abordagem
do passado, tratando não apenas o pequeno tráfico, mas o consumo público, como
crime.
(…)
A solução inútil, com provas dadas da sua inutilidade, é a
mão pesada.
(…)
Fica claro, pelo balanço que [Rui Moreira] faz da lei [num
artigo], que quer regressar ao passado muito para lá da via pública.
(…)
Moreira quer o que sempre quis: popularidade fácil.
(…)
Qual a opinião da IL, que apoiou Moreira e tem autarcas à sua
boleia, sobre esta posição?
(…)
O consumo de drogas foi descriminalizado em Portugal, em 2000,
entrando a lei em vigor em 2001.
(…)
Em vez de delinquente, o dependente é tratado como um doente.
(…)
O número de pessoas em programas de desabituação subiu, numa
década, quase 50%. Os utilizadores de heroína passaram de 100 mil, em 2001,
para 25 mil, em 2017.
(…)
Os óbitos por overdose caíram em mais de 85%. Em 2017, a
mortalidade por overdose era a mais baixa da Europa Ocidental.
(…)
São os próprios protagonistas desta mudança a defender que é
preciso melhorar muito o que se fez.
(…)
Sempre temi que chegasse o momento em que um populista usasse
a tragédia para, em vez de melhorar (…), deitasse tudo a perder.
(…)
[Rui Moreira] já muitas vezes nos revelou este seu traço
político, geralmente com bons resultados para si mesmo.
(…)
Como o populismo assusta, dois deputados do PS (…) votaram a
favor de uma recomendação para recuar.
(…)
São quase sempre os oportunistas e os medrosos que se agacham
perante eles [os extremistas].
(…)
Segundo o The
Guardian, saíram do mercado de drogas ilegais, graças à lei portuguesa, cerca de
400 milhões de euros.
(…)
Discursos a pedir mão pesada contra consumidores nunca
tiraram um grama de droga da rua.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
Enquanto jovem de 22 anos, é matematicamente óbvio que não
vivi a Revolução do 25 de Abril de 1974.
(…)
[Não sou] contra revolucionários, mas porque a necessidade
dos mesmos existirem pressupõe a inexistência de liberdade.
(…)
A minha geração teve a sorte de herdar apenas os valores de
Abril e não a luta de Abril.
(…)
A
minha geração teve a sorte de não viver em ditadura, apenas de a estudar e de
ouvir falar dela através dos membros mais velhos da família.
(…)
Portugal
era um país atrasado, sem liberdade, sem desenvolvimento económico, com
péssimas taxas de literacia e educação, com condições de habitação indignas
para a maioria da população, sem inovação científica relevante para o
melhoramento dos cuidados de saúde.
(…)
O 25
de Abril, ainda que nos anos consequentes tenha gerado instabilidade — natural
de qualquer período pós-revolucionário —, trouxe um novo mundo a Portugal.
(…)
Abril está também nesta crónica; está em quem discordar dela.
(…)
Cabe
agora à minha geração garantir que não caminhamos para trás. Resta-nos apenas
uma tarefa, ainda que hercúlea: defender a democracia e a liberdade.
Luís Rodrigues, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário